Desde sempre, foi negado a Machado de Assis a alcunha de autor afro-brasileiro. Desde o embranquecimento de suas fotos, até o apagamento de sua genealogia negra, os críticos literários sempre repetiam: Machado não escreve sobre a causa negra, pois tal causa não aparece em seus textos. Enganavam-se! É certo que Machado não abordava explicitamente o assunto, mas não significa que não estava ali. A pesquisadora e militante professora Dr. Gizêlda Melo do Nascimento, da Universidade Estadual de Londrina (UEL - Paraná), escreveu, em seu artigo "Machado: Três Momentos Negros" (2002), que esse escritor brasileiro escrevia sim sobre este tema, e com "maestria e coerência":
O que está escrito não conta. Conta o que não foi dito nem visto com os olhos de fora; e o que fica fora das linhas permanece latente nos nervos do texto onde os olhos de dentro reclamam. Coerência porque seu compromisso era retratar a sociedade tal qual se lhe apresentava, e aí, o negro não constituía uma representação significativa, melhor dizendo, nem mesmo como ser social era reconhecido. Na ordem das representações, a lente do retratista não poderia alcançar o que nem sequer era cogitado. E representar a sociedade no caso de Machado era, maioria das vezes, freqüentar salões. Daí a lacuna, a ausência do negro em sua obra. Numa sociedade escravocrata, onde senhor é senhor e escravo é escravo, os salões não abrigavam este segundo segmento. Neste espaço, o negro não transita; escapa ao campo de visão do retratista. Procurar o que os olhos de fora não alcançam, tentar puxar os fios que se desenrolam atrás das câmeras do mestre é o nosso intuito. (NASCIMENTO, 2002).
NASCIMENTO, G. M. do. Machado: três momentos negros. In: Terra roxa e outras terras – Revista de Estudos. Literários, Vol.2, 2002.
A partir dessas observações, compreendemos que o falar do negro em Machado está no não-falar, no não-dito, no implícito, no subentendido. Para a realização deste MAPA, indicamos dois contos machadianos. O primeiro é "Pai contra mãe", um dos contos da antologia "Relíquias de Casa Velha", composta por textos que o próprio Machado reuniu, publicando-os em 1906, dois anos antes de sua morte. Já o segundo conto é "O caso da Vara", publicado inicialmente na Gazeta de Notícias, no ano de 1891, e republicado no livro "Páginas Recolhidas". Ambos os textos estão disponíveis para download na pasta Material da Disciplina, do ambiente de Teoria da Literatura.
Você deverá escolher um dos dois contos de Machado de Assis indicados ("Pai contra mãe" ou "O caso da Vara"), fazer uma breve análise estrutural dele: narrador, personagens, tempo, espaço, clímax e desfecho, e, em seguida, aplicar uma leitura pós-estruturalista de viés afro-brasileiro, ou seja, analisar o conto sob a perspectiva étnico-racial: o que o conto te diz? Como diz? Quais são suas impressões pessoais sobre o que está nas entrelinhas do conto acerca da imagem do negro naquela sociedade? Sua resposta deve ser apresentada no formato de um texto dissertativo/argumentativo e conter, no mínimo, vinte e, no máximo cinquenta linhas.
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Um texto argumentativo-dissertativo é composto por introdução, argumentação e conclusão.
Na introdução, busque colocar o contexto da obra e porque Machado de Assis falava sobre o negro no "não-falar". Por exemplo, diga que a obra está no livro "Relíquias da Casa Velha" e que representa a fase madura do autor, com todas as suas características realistas muito marcantes.
Quanto a argumentação, busque apresentar os personagens e a estrutura do texto, sempre colocando o viés étnico-racial (que é a principal proposta da atividade). Ressalte a ironia no nome dos personagens (Cândido, que era o extremo contrário de candura; Clara, que não era brilhante, mas sim submissa à tia e Mônica, a típica tia viúva que na verdade não fica sozinha, mas sempre no meio dos problemas e discussões do casal). Busque exemplificar como o autor animalizou a condição do ser humano que era pobre, mas sobretudo a do negro (tanto escravo quanto livre), representando exatamente o que acontecia durante a época da escravidão na cidade do Rio de Janeiro. Em relação ao tempo-espaço, trata-se do Rio de Janeiro um pouco antes da abolição da escravidão, sempre aproximando o leitor da condição de mercadoria que o escravo era submetido. A sua argumentação vai ter pelo menos três parágrafos para explicar todo o conteúdo do conto.
Na conclusão, considere os fatos da argumentação que foram apresentados anteriormente para comprovar que Machado de Assis, apesar de descrever de forma irônica e com características realistas a escravidão, mostrou e criticou duramente no "não-falar" durante o conto o quanto o sistema escravista acabou com a vida de milhares, transformou os negros em mercadorias e como a luta de classes sempre acabava com a vitória do mais forte, mesmo que suas estruturas não fossem as mais preparadas para aguentar algo do nível.
Na introdução, busque colocar o contexto da obra e porque Machado de Assis falava sobre o negro no "não-falar". Por exemplo, diga que a obra está no livro "Relíquias da Casa Velha" e que representa a fase madura do autor, com todas as suas características realistas muito marcantes.
Quanto a argumentação, busque apresentar os personagens e a estrutura do texto, sempre colocando o viés étnico-racial (que é a principal proposta da atividade). Ressalte a ironia no nome dos personagens (Cândido, que era o extremo contrário de candura; Clara, que não era brilhante, mas sim submissa à tia e Mônica, a típica tia viúva que na verdade não fica sozinha, mas sempre no meio dos problemas e discussões do casal). Busque exemplificar como o autor animalizou a condição do ser humano que era pobre, mas sobretudo a do negro (tanto escravo quanto livre), representando exatamente o que acontecia durante a época da escravidão na cidade do Rio de Janeiro. Em relação ao tempo-espaço, trata-se do Rio de Janeiro um pouco antes da abolição da escravidão, sempre aproximando o leitor da condição de mercadoria que o escravo era submetido. A sua argumentação vai ter pelo menos três parágrafos para explicar todo o conteúdo do conto.
Na conclusão, considere os fatos da argumentação que foram apresentados anteriormente para comprovar que Machado de Assis, apesar de descrever de forma irônica e com características realistas a escravidão, mostrou e criticou duramente no "não-falar" durante o conto o quanto o sistema escravista acabou com a vida de milhares, transformou os negros em mercadorias e como a luta de classes sempre acabava com a vitória do mais forte, mesmo que suas estruturas não fossem as mais preparadas para aguentar algo do nível.
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