Artes, perguntado por neto99pacheco, 1 ano atrás

descreva sobre figuras em planos.

Soluções para a tarefa

Respondido por lauradesouza3421
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Percepção e técnica

A relação entre figura e fundo é um dos componentes da percepção visual humana que repercute de forma mais intensa na vida das imagens. Conseguimos identificar melhor um objeto, delimitando seus contornos com mais nitidez, quando ele se destaca, por contraste, sobre um fundo que tende à indefinição e à indistinção. Num jogo de escalas, a cada plano do campo visual corresponde uma instância da segregação figura-fundo, de modo que o que é figura num plano pode se revelar o fundo de outra figura em outro plano, e assim por diante.

Quando vemos uma imagem que representa visualmente o mundo, nossos olhos se apressam a diferenciar figura e fundo, com base nos tamanhos relativos dos objetos representados, nas suas formas, texturas e cores, decodificando o que se passa em duas dimensões na imagem como a representação de um espaço tridimensional (como aquele em que nos encontramos, no mundo). A ilusão de profundidade que marca a representação em perspectiva constitui apenas uma forma mais sofisticada - por cálculos geométricos que organizam uma projeção ótica com base em regras convencionais - desse jogo ao qual se entregam nossos olhos, como crianças afoitas. Mesmo quando a perspectiva está ausente ou ao menos rarefeita num desenho infantil, por exemplo, é na fronteira entre figura e fundo que nossos olhos procuram seu caminho.

Mas talvez devêssemos inverter o raciocínio da primeira frase do parágrafo anterior e dizer que, numa perspectiva histórica e antropológica, é a relação entre figura e fundo na vida das imagens que repercute na percepção visual humana. O que é fundamental para a antropologia é ir além do reconhecimento de que o ser humano produz cultura: antes de produzi-la, tanto do ponto de vista da evolução da espécie (filogênese) quanto do ponto de vista do desenvolvimento individual (ontogênese), o ser humano tal como o conhecemos hoje é um produto da cultura. Para discussões mais detalhadas dessas e de outras questões, indico a leitura de A interpretação das culturas, do antropólogo Clifford Geertz. Outro livro interessante sobre o conceito é A invenção da cultura, de Roy Wagner. Para uma introdução mais geral ao assunto, ver A noção de cultura nas ciências sociais, de Denys Cuche.

Sempre que o espelho superficial das imagens se agita - especialmente por causa de transformações nas técnicas de fabricação e nos aparelhos que dão vida às imagens e ao sensível - a percepção recebe o impacto das ondas, primeiro em seu litoral - em que o que se passa nas imagens bate como o choque da rebentação do mar - e em seguida em suas intermináveis vias - nas quais se perde uma parte do impacto litorâneo. Se as técnicas e os aparelhos se transformam com rapidez, inscrevendo-se no tempo curto da história da tecnologia e agitando o espelho das imagens com que convivemos, a percepção que recebe o impacto dessas transformações possui uma consistência mais duradoura, inscrevendo-se no tempo (sem dúvida mais longo) da história da sensibilidade. Um dos ensaios mais importantes de Walter Benjamin, "A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica", discute justamente o impacto da emergência dos aparelhos fotográfico e cinematográfico sobre a percepção e a sensibilidade humanas. É leitura fundamental para quem se interessa por fotografia, cinema e arte.

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