Pedagogia, perguntado por hetieni, 4 meses atrás

desafio Quando nos recordamos das antigas canções de ninar ou das brincadeiras com cantigas de roda imediatamente somos tocados pelo afeto. Conforme Lois (2010, p. 28): "É quase como se nos reportássemos ao tempo em que as emoções da literatura oral atravessavam nossos sentidos sem nenhuma preocupação em ser compreendida (a existência desses conceitos era, por nós, ignorada). Éramos leitores e não sabíamos disso porque a arte nos era dada gratuitamente. Diversas pesquisas e autores renomados revelam na literatura oral sua primeira fonte de contato com o livro e com o texto escrito. Entretanto, todos são unânimes ao associar essa experiência à outra: essas histórias possuíam um lugar especial e permanecem até hoje na memória, não somente pela beleza de seu texto, ou alegria musical, mas por terem sido apresentadas pelas mãos do afeto, por alguém representativo na vida da criança." E você? Tem uma experiência pessoal relacionada às histórias ouvidas na infância e o afeto? Imagino que sim. Seu desafio é vasculhar sua memória e procurar nos cantinhos mais remotos a emoção que você sentia ao ouvir histórias, canções de ninar ou cantigas de roda. Escolha uma destas memórias especiais para você e escreva qual foi a história ou cantiga que lhe marcou, quem lhe contava essa história ou cantiga e quais emoções foram afloradas.

Soluções para a tarefa

Respondido por janainadepaula2408
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Resposta:

Padrão de resposta esperado

Explicação:

Por se tratar de uma experiência pessoal, um exemplo de emoção sentida ao ouvir historias pode ser lido no texto do filósofo e escritor francês Sartre (s/d, p. 183 apud LOIS, 2010, p. 29):

"A história me era familiar: minha mãe contava-a com frequência, quando me lavava, interrompendo-se para me friccionar com água-de-colônia, para apanhar debaixo da banheira o sabão que lhe escorregara das mãos, e eu só tinha olhos para Anne-Marie, a moça de todas as minhas manhãs; eu só tinha ouvidos para a sua voz perturbada pela servidão; eu me comprazia com suas frases inacabadas, com suas palavras sempre atrasadas, com sua brusca segurança, vivamente desfeita, e que descambava em derrota, para desaparecer em melodioso desfiamento e se recompor após um silêncio.

A história era coisa que vinha por acréscimo: era o elo de seus solilóquios. Durante o tempo todo em que falava, ficávamos sós, clandestinos, longe dos homens, dos deuses e dos sacerdotes, duas corças no bosque, com outras corças, as Fadas; eu não conseguia acreditar que se houvesse composto um livro a fim de incluir nele este episódio de nossa vida profana, que recendia a sabão e a água-de-colônia. Anne-Marie fez-me sentar à sua frente, em minha cadeirinha; inclinou-se, baixou as pálpebras e adormeceu. Daquele rosto de estátua saiu uma voz de gesso. Perdi a cabeça: quem estava contando? o quê? e a quem? Minha mãe ausentara-se: nenhum sorriso, nenhum sinal de conivência, eu estava no exílio.

Além disso, eu não reconhecia sua linguagem. Onde é que arranjava aquela segurança? Ao cabo de um instante, compreendi: era o livro que falava. Dele saíam frases que me causavam medo: eram verdadeiras centopeias, formigavam de sílabas e letras, estiravam seus ditongos, faziam vibrar as consoantes duplas: cantantes, nasais, entrecortadas de pausas de suspiro, ricas em palavras desconhecidas, encantavam-se por si próprias e com seus meandros, sem se preocupar comigo: às vezes desapareciam antes que eu pudesse compreendê-las, outras vezes eu compreendia de antemão e elas continuavam a rolar nobremente para o seu fim sem me conceder a graça de uma vírgula. Seguramente, o discurso não me era destinado.

Quanto à história, endomingara-se: o lenhador, a lenhadora e suas filhas, a fada, todas essas criaturinhas, nossos semelhantes, tinham adquirido majestade, falava-se de seus farrapos com magnificência; as palavras largavam a sua cor sobre as coisas, transformando as ações em ritos e os acontecimentos em cerimônia."

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