Depois do JantarCarlos Drummond de AndradeTambém, que ideia a sua: andar a pé, margeando a Lagoa Rodrigo de Freitas, depois do jantar. O vulto caminhava em sua direção, chegou bem perto, estacou à sua frente. Decerto ia pedir-lhe um auxílio.— Não tenho trocado. Mas tenho cigarros. Quer um?— Não fumo, respondeu o outro.Então ele queria é saber as horas. Levantou o antebraço esquerdo, consultou o relógio:— 9 e 17… 9 e 20, talvez. Andaram mexendo nele lá em casa.— Não estou querendo saber quantas horas são.Prefiro o relógio.— Como?— Já disse. Vai passando o relógio.— Mas…— Quer que eu mesmo tire? Pode machucar.— Não. Eu tiro sozinho. Quer dizer… Estou meio sem jeito. Essa fivelinha enguiça quando menos se espera. Por favor, me ajude.O outro ajudou, a pulseira não era mesmo fácil de desatar. Afinal, o relógio mudou de dono.— Agora posso continuar?— Continuar o quê?— O passeio. Eu estava passeando, não viu?— Vi, sim. Espera um pouco.— Esperar o quê?— Passa a carteira.— Mas…— Quer que eu também ajude a tirar? Você não faz nada sozinho, nessa idade?— Não é isso. Eu pensava que o relógio fosse bastante. Não é um relógio qualquer, veja bem. Coisa fina. Ainda não acabei de pagar…— E eu com isso? Então vou deixar o serviço pela metade?— Bom, eu tiro a carteira. Mas vamos fazer um trato.— Diga.— To com dois mil cruzeiros. Lhe dou mil e fico com mil.— Engraçadinho, hem? Desde quando o assaltante reparte com o assaltado o produto do assalto?— Mas você não se identificou como assaltante.Como é que eu podia saber?— É que eu não gosto de assustar. Sou contra isso de encostar o metal na teste do cara. Sou civilizado, manja?— Por isso mesmo que é civilizado, você poderia rachar comigo o dinheiro. Ele me faz falta, palavra de honra.— Pera aí. Se você acha que é preciso mostrar revólver, eu mostro.— Não precisa, não precisa.— Essa de rachar o legume… Pensa um pouco, amizade. Você está querendo me assaltar, e diz isso com a maior cara de pau.— Eu, assaltar?! Se o dinheiro é meu, então estou assaltando a mim mesmo.— Calma. Não baralha mais as coisas. Sou eu o assaltante, não sou?— Claro.— Você, o assaltado. Certo?— Confere.— Então deixa de poesia e passa pra cá os doi mil. Se é que são só dois mil.— Acha que eu minto? Olha aqui as quatro notas de quinhentos. Veja se tem mais dinheiro na carteira. Se achar uma nota de 10, de cinco cruzeiros, de um, tudo é seu. Quando eu confundi você com um mendigo(desculpe, não reparei bem) e disse que não tinha trocado, é porque não tinha trocado mesmo.— Tá bom, não se discute.— Vamos, procure nos … nos escaninhos.— Sei lá o que é isso. Também não gosto de mexer nos guardados dos outros. Você me passa a carteira, ela fica sendo minha, aí eu mexo nela à vontade.— Deixe ao menos tirar os documentos?— Deixo. Pode até ficar com a carteira. Eu não coleciono. Mas rachar com você, isso de jeito nenhum. É contra as regras.— Nem uma de quinhentos? Uma só.— Nada. O mais que eu posso fazer é da dinheiro pro ônibus. Mas nem isso você precisa. Pela pinta se vê que mora perto.— Orgulhoso, hein? Fique sabendo que tenho ajudado muita gente neste mundo. Bom, tudo legal. Até outro vez. Mas antes, uma lembrancinha.Sacou da arma e deu-lhe um tiro no pé.(ANDRADE, Carlos Drummond. Os dias lindos. Rio de Janeiro:Livraria José Olympio Editora, 1977.)1*Qual é o fato narrado no texto?2*Copie abaixo os trechos que não reproduzem a fala das personagens. Somente esses trechos seriam suficientes para narrar o fato?3*Considere os trechos que não reproduzem falas. Quais partes poderiam ser pensamentos da personagem que andava a pé pela Lagoa Rodrigo de Freitas?4*Na composição de diálogos, deve-se reproduzir, exatamente, a maneira de falar das personagens. Nesse caso, as regras da escrita podem ser desobedecidas. Nos trechos a seguir, indique o que se pede entre parênteses.a) “Você está querendo me assaltar, e diz isso com a maior cara de pau.” (expressão da linguagem popular)b) “Nada. O mais que eu posso fazer é dar dinheiro pro ônibus.” (forma abreviada, típica da fala)c) “Pela pinta se vê que mora perto.” (expressão da linguagem popular)5*Qual das personagens usa mais gírias e expressões populares, ou seja, tem uma linguagem oral mais distante da linguagem escrita?
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1) O fato narrado: um assalto a Carlos Drumont de Andrade nas margens da Lagoa Rodrigues de Freitas.
2) Depois do JantarCarlos Drummond de Andrade.Também, que ideia a sua: andar a pé, margeando a Lagoa Rodrigo de Freitas, depois do jantar. O vulto caminhava em sua direção, chegou bem perto, estacou à sua frente. Decerto ia pedir-lhe um auxílio. Então ele queria é saber as horas. Levantou o antebraço esquerdo, consultou o relógio. Não era suficiente, pois este que está falando aqui, é o narrador observador!
3) Também, que ideia a sua: andar a pé, margeando a Lagoa Rodrigo de Freitas, depois do jantar.
4) a) Expressão popular: cara de pau
b) Forma abreviada, típica da fala: pro em vez de (para o)
c) Expressão da linguagem popular: pinta
5) O assaltante
Espero ter ajudado!
2) Depois do JantarCarlos Drummond de Andrade.Também, que ideia a sua: andar a pé, margeando a Lagoa Rodrigo de Freitas, depois do jantar. O vulto caminhava em sua direção, chegou bem perto, estacou à sua frente. Decerto ia pedir-lhe um auxílio. Então ele queria é saber as horas. Levantou o antebraço esquerdo, consultou o relógio. Não era suficiente, pois este que está falando aqui, é o narrador observador!
3) Também, que ideia a sua: andar a pé, margeando a Lagoa Rodrigo de Freitas, depois do jantar.
4) a) Expressão popular: cara de pau
b) Forma abreviada, típica da fala: pro em vez de (para o)
c) Expressão da linguagem popular: pinta
5) O assaltante
Espero ter ajudado!
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