História, perguntado por brunanayaraaa, 8 meses atrás

Depois do almoço, Leôncio montou a cavalo, percorreu as roças e cafezais, coisa que bem raras vezes fazia, e ao descambar do Sol voltou para casa, jantou com o maior sossego e apetite, e depois foi para o salão, onde, repoltreando-se em macio e fresco sofá, pôs-se a fumar tranquilamente o seu havana.
(Bernardo Guimarães. A escrava Isaura).
“... em macio e fresco sofá, pôs-se a fumar tranquilamente o seu havana”.
Nessa passagem, a palavra “havana” foi empregada no lugar de “charuto”, isto é, o nome comum (charuto) foi substituído pela marca do produto (havana).
Ocorreu, pois, o emprego de uma figura de estilo chamada

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Respondido por ec400710
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Resposta:Era nos primeiros anos do reinado do Sr. D. Pedro II.

No fértil e opulento município de Campos de Goitacases, à margem

do Paraíba, a pouca distância da vila de Campos, havia uma linda

e magnífica fazenda.

Era um edifício de harmoniosas proporções, vasto e luxuoso,

situado em aprazível vargedo ao sopé de elevadas colinas cobertas

de mata em parte devastada pelo machado do lavrador. Longe em

derredor a natureza ostentava-se ainda em toda a sua primitiva e selvática

rudeza; mas por perto, em torno da deliciosa vivenda, a mão do

homem tinha convertido a bronca selva, que cobria o solo, em jardins e

pomares deleitosos, em gramais e pingues pastagens, sombreadas aqui

e acolá por gameleiras gigantescas, perobas, cedros e copaíbas, que

atestavam o vigor da antiga floresta. Quase não se via aí muro, cerca,

nem valado; jardim, horta, pomar, pastagens, e plantios circunvizinhos

eram divididos por viçosas e verdejantes sebes de bambus, piteiras,

espinheiros e gravatás, que davam ao todo o aspecto do mais aprazível e

delicioso vergel.

A casa apresentava a frente às colinas. Entrava-se nela por um

lindo alpendre todo enredado de flores trepadeiras, ao qual subia-se por

uma escada de cantaria de seis a sete degraus. Os fundos eram ocupados

por outros edifícios acessórios, senzalas, pátios, currais e celeiros, por

trás dos quais se estendia o jardim, a horta, e um imenso pomar, que ia

perder-se na barranca do grande rio.

Era por uma linda e calmosa tarde de outubro. O Sol não era

ainda posto, e parecia boiar no horizonte suspenso sobre rolos de espuma

de cores cambiantes orlados de fêveras de ouro. A viração saturada de

balsâmicos eflúvios se espreguiçava ao longo das ribanceiras

acordando apenas frouxos rumores pela copa dos arvoredos, e fazendo

farfalhar de leve o tope dos coqueiros, que miravam-se garbosos nas

lúcidas e tranqüilas águas da ribeira.

Corria um belo tempo; a vegetação reanimada por moderadas

chuvas ostentava-se fresca, viçosa e luxuriante; a água do rio ainda não

turvada pelas grandes enchentes, rolando com majestosa lentidão, refletia em toda a pureza os esplêndidos coloridos do horizonte, e o nítido

verdor das selvosas ribanceiras. As aves, dando repouso ás asas

fatigadas do contínuo voejar pelos pomares, prados e balsedos vizinhos,

começavam a preludiar seus cantos vespertinos.

O clarão do Sol poente por tal sorte abraseava as vidraças do

edifício, que esse parecia estar sendo devorado pelas chamas de um

incêndio interior. Entretanto, quer no interior, quer em derredor, reinava

fundo silêncio, e perfeita tranqüilidade. Bois truculentos, e médias novilhas

deitadas pelo gramal, ruminavam tranqüilamente à sombra de

altos troncos. As aves domésticas grazinavam em tomo da casa, balavam

as ovelhas, e mugiam algumas vacas, que vinham por si mesmas procurando

os currais; mas não se ouvia, nem se divisava voz nem figura

humana. Parecia que ali não se achava morador algum. Somente as

vidraças arregaçadas de um grande salão da frente e os batentes da

porta da entrada, abertos de par em par, denunciavam que nem todos

os habitantes daquela suntuosa propriedade se achavam ausentes.

A favor desse quase silêncio harmonioso da natureza ouvia-se

distintamente o arpejo de um piano casando-se a uma voz de mulher, voz

melodiosa, suave, apaixonada, e do timbre o mais puro e fresco

que se pode imaginar.

Posto que um tanto abafado, o canto tinha uma vibração sonora,

ampla e volumosa, que revelava excelente e vigorosa organização vocal.

O tom velado e melancólico da cantiga parecia gemido sufocado de

uma alma solitária e sofredora.

Era essa a única voz que quebrava o silêncio da vasta e tranqüila

vivenda. Por fora tudo parecia escutá-la em místico e profundo recolhimento.

As coplas, que cantava, diziam assim:

Desd'o berço respirando

Os ares da escravidão,

Como semente lançada

Em terra de maldição,

A vida passo chorando

Minha triste condição.

Os meus braços estão presos,

A ninguém posso abraçar,

Nem meus lábios, nem meus olhos

Não podem de amor falar;

Deu-me Deus um coração

Somente para penar.

Ao ar livre das campinas

Seu perfume exala a flor;

Canta a aura em liberdade

Do bosque o alado cantor;

Só para a pobre cativa

Não há canções, nem amor.

Cala-te, pobre cativa;

Teus queixumes crimes são;

E uma afronta esse canto,

Que exprime tua aflição.

A vida não te pertence,

Não é teu teu coração.

As notas sentidas e maviosas daquele cantar escapando pelas

janelas abertas e ecoando ao longe em derredor, dão vontade de conhecer

a sereia que tão lindamente canta. Se não é sereia, somente um anjo

pode cantar assim.

Explicação:

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