De sua opinião sobre o conto desforra
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Conto Desforra
O conto Desforra é do autor português José Saramago (1922 - 2010).
O conto demonstra um universo de um rapaz jovem, adentrando a puberdade, num momento de maturação sexual.
"O rapaz vinha do rio. Descalço, com as calças arregaçadas acima do joelho, as pernas sujas de lama. Vestia uma camisa vermelha, aberta no peito, onde os primeiros pelos da puberdade começavam a enegrecer."
O ambiente do conto situa nosso personagem principal, assim como os conflitos vividos pelos personagens. Alguns dos aspectos do ambiente colaboram para as situações do desfecho, aumentando a atenção do leitor.
São dois os ambientes do conto, o rio e a casa.
O texto é apresentado, quando relacionado ao rio, de maneira sensual, próximo e em consonância com o estado do rapaz.
"Tinha o cabelo escuro, molhado de suor que lhe escorria pelo pescoço delgado. Dobrava-se um pouco para frente, sob o peso dos longos remos, donde pendiam fios verdes de limos ainda gotejantes."
(...)
"A respiração do lodo desprendia lentas e moles bolhas de gás que a corrente arrastava. No calor espesso da tarde, os choupos altos vibraram silenciosamente, e, de rajada, flor rápida que do ar nascesse, uma ave azul passou rasando a água."
O ambiente é apresentado como uma pintura, construindo o cenário em nossa mente, com uma rã observando o rapaz. Na poesia, a rã é uma representatividade da terra fecunda após as primeiras chuvas.
"O barco ficou balouçando na água turva, e ali perto, como se o espreitassem, afloraram de repente os olhos globulosos de uma rã. O rapaz olhou-a, e ela olhou-o a ele. Depois a rã fez um movimento brusco e desapareceu."
O ritmo lento do texto é quebrado com a aparição de uma moça.
"O rapaz levantou a cabeça. No outro lado do rio, uma rapariga imóvel olhava-o, imóvel. O rapaz ergueu a mão livre e todo o seu corpo desenhou o gesto de uma palavra que não se ouviu."
O desconforto juvenil é apresentado após o rapaz adentrar a casa.
"Ficou quieto, escutando as pancadas do coração, o vagaroso surdir do suor que se renovava na pele."
O momento de desconforto é aumentado com a descrição de uma esterilização de um animal realizado no quintal da casa, de forma caseira.
"Dois homens e uma mulher seguravam o porco. Outro homem, com uma faca ensanguentada, abria-lhe um rasgo vertical no escroto. Na palha brilhava já um ovóide achatado, vermelho. O porco tremia todo, atirava gritos entre as queixadas que uma corda apertava."
O final da castração do animal é finalizada de uma maneira repulsiva, chegando ao ápice do desconforto.
"Desamarraram o porco, libertaram-lhe o focinho, e um dos homens baixou-se e apanhou os dois bagos, grossos e macios. O animal deu uma volta perplexo, e ficou de cabeça baixa, arfando. Então o homem atirou-lhos. O porco abocou, mastigou sôfrego, engoliu."
O retorno do rapaz ao rio traz uma volta a calma do ambiente, Porém, o rapaz está modificado pelas experiências e seu interior já não é o mesmo.
"O rapaz voltou para dentro. Encheu um púcaro e bebeu, deixando que a água lhe corresse pelos cantos da boca, pelo pescoço, até aos pêlos do peito, que se tornaram mais escuros. Enquanto bebia, olhava lá fora as duas manchas vermelhas sobre a palha. Depois, num movimento de cansaço, tornou a sair de casa, atravessou o olival, outra vez sob a torreira do sol. A poeira queimava-lhe os pés, e ele sem dar por isso, encolhia-os, para fugir ao contacto escaldante. A mesma cigarra rangia, em tom mais surdo. Depois a ladeira, a erva com o seu cheiro de seiva aquecida, a frescura entontecedora debaixo dos ramos, o lodo que se insinua entre os dedos dos pés e irrompe para cima."
A nudez do rapaz é o final daquela visão tensa e barulhenta do porco. Assim a prática do ato amoroso seria a desforra após a anulação sexual do animal.
"Devagar, o rapaz tirou a camisa. Devagar se acabou de despir, e foi só quando já não tinha roupa nenhuma no corpo que a sua nudez, lentamente, se revelou. Assim como se estivesse curando uma cegueira de si mesma. A rapariga olhava de longe. Depois, com os mesmos gestos lentos, libertou-se do vestido e tudo quanto a cobria. Nua sobre o fundo verde das árvores."
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