De que tratam as temáticas dos autos de Gil Vicente?
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Na peça Auto da Barca do Inferno, Gil Vicente coloca vários personagens numa situação-limite. Todos estão mortos e chegam a um porto onde há duas embarcações: uma é chefiada pelo Anjo, que conduz ao paraíso; a outra, comandada pelo Diabo e seu Companheiro, vai para o inferno. Os personagens se apresentam diante do espectador como em um desfile, ao fim do qual cada um terá de enfrentar seu destino.
Esses personagens não representam indivíduos definidos, mas, sim, tipos sociais. Ou seja, não têm características psicológicas particulares. Servem como espécies de modelo, para exemplificar qual era, segundo Gil Vicente, o comportamento de determinados setores da sociedade da época. Por isso, podem ser denominados personagens alegóricos.
As alegorias são imagens que servem de símbolo a interpretações, como representações de uma situação ou de um setor social. Nessa peça, por exemplo, um fidalgo com um pajem e uma cadeira são uma alegoria para toda a nobreza ociosa de Portugal. O autor se inspirou bastante no teatro alegórico medieval, puramente cenográfico, e também nos momos – manifestações populares em que figuras fantasiadas representavam os vícios e as virtudes. Os autos eram representações comuns na Idade Média, em geral de conteúdo satírico ou alegórico. Publicado em 1517, o Auto da Barca do Inferno é, de acordo com o autor, um “auto de moralidade”.