De exemplos de meios utilizados para vencer a lei da inércia.
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INÉRCIA?

Zeina Latif
Artigos
e Eleições 2014
e Mais Recentes
21/07/2014

A inércia é uma propriedade física que diz que um corpo tende a manter seu estado na ausência de força agindo sobre ele. Se está em repouso ou parado, assim ficará. E se está em movimento, assim seguirá, sem alterar velocidade, direção e sentido. É a primeira Lei de Newton.
Na economia, o conceito de inércia não é exatamente o da física, pois está relacionado à ideia de resistência das variáveis econômicas. Uma vez seguindo uma trajetória, apenas choques mais significativos conseguem reverter a tendência da variável. Consumidores resistem a mudar seus hábitos e formadores de preços se baseiam no preço passado para decidir ajustes. Esses são exemplos de comportamento de agentes econômicos que causam a inércia das variáveis econômicas. O conceito aparece inicialmente na discussão de como os agentes econômicos formam suas expectativas. Nas chamadas “expectativas adaptativas”, o passado influencia a expectativa do futuro. Mas foi na explicação da dinâmica inflacionária que o termo ganhou visibilidade. A inflação de hoje é em parte comandada pela inflação passada.
A sociologia também trabalha com a ideia de inércia, mas associando-a a imobilidade, devido à possível resistência das sociedades a mudanças de hábito ou status quo. A inércia comportamental no campo da política poderia expressar a ideia de uma disposição da sociedade pró o incumbente.
Mas e se estiver ocorrendo um desejo de mudança na sociedade, como atualmente no Brasil? Pelo Datafolha, o desejo de mudança cresce em todas as regiões do país e faixas de renda, ainda que em diferentes patamares. Como reflexo, há uma tendência de queda da aprovação do governo. O que poderia reverter esse movimento? Seria esse um movimento inercial no sentido econômico e, portanto, de difícil reversão?
Dilma dependerá da sorte, ou seja, de algum evento forte o suficiente para recuperar sua imagem
Aparentemente, sim. Pelos modelos econométricos desenvolvidos para estimar o índice de aprovação do governo, é possível concluir que há elevada inércia nesta variável. Pelos modelos, o coeficiente associado ao índice de aprovação no trimestre anterior está entre 65% e 70%. Assim, haveria importante influência dos índices passados sobre o corrente. Na ausência de choques, a evolução dos índices de aprovação tende a ser suave, sem grandes saltos, conforme a evolução do quadro econômico. Apenas choques mais relevantes seriam capazes de produzir reversões abruptas.
Uma forma de interpretar esse resultado é que os indivíduos não costumam reavaliar suas visões sobre a ação do governo com muita frequência. Na ausência de choques ou eventos relevantes e com visibilidade, os indivíduos não mudam de opinião rapidamente. E uma vez feito o ajuste, demora um tempo para ocorrer nova reavaliação.
Os protestos de junho de 2013 foram um gatilho para uma brusca queda dos índices de aprovação do governo Dilma. Como reverter o movimento de queda atual, ainda que lento? Esse é um importante desafio de Dilma. Interromper e reverter esse processo. Vencer a inércia.
A economia não ajuda, pois não atingiu o fundo do poço. Talvez o mesmo valha para a aprovação da presidente. Dilma dependerá da sorte, ou seja, de algum evento forte o suficiente para recuperar sua imagem.
Não sem razão os analistas políticos afirmam que Dilma precisa convencer os eleitores de que ela é capaz de fazer os ajustes necessários no país. Se depender da inércia, a aprovação do seu governo não deve melhorar. Boa parte dos eleitores pode não saber o que quer, mas pode crescer a convicção sobre o que não se quer. Esse movimento se traduziria em redução da porcentagem de eleitores que avaliam o governo como bom/ótimo e regular, migrando para ruim/péssimo.
Não há mais tempo para políticas econômicas que possam reverter a tendência negativa em curso. Políticas supostamente anticíclicas nos moldes utilizados pelo governo não funcionaram. E mesmo que funcionassem, não haveria mais tempo para surtirem efeito. Na realidade, o mais sábio talvez seja não fazê-las no momento, dadas as implicações sobre resultados fiscais, confiança dos agentes e expectativas inflacionárias.
Vencer a inércia pode ser difícil. Terá a campanha eleitoral na TV este poder?

Zeina Latif
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21/07/2014

A inércia é uma propriedade física que diz que um corpo tende a manter seu estado na ausência de força agindo sobre ele. Se está em repouso ou parado, assim ficará. E se está em movimento, assim seguirá, sem alterar velocidade, direção e sentido. É a primeira Lei de Newton.
Na economia, o conceito de inércia não é exatamente o da física, pois está relacionado à ideia de resistência das variáveis econômicas. Uma vez seguindo uma trajetória, apenas choques mais significativos conseguem reverter a tendência da variável. Consumidores resistem a mudar seus hábitos e formadores de preços se baseiam no preço passado para decidir ajustes. Esses são exemplos de comportamento de agentes econômicos que causam a inércia das variáveis econômicas. O conceito aparece inicialmente na discussão de como os agentes econômicos formam suas expectativas. Nas chamadas “expectativas adaptativas”, o passado influencia a expectativa do futuro. Mas foi na explicação da dinâmica inflacionária que o termo ganhou visibilidade. A inflação de hoje é em parte comandada pela inflação passada.
A sociologia também trabalha com a ideia de inércia, mas associando-a a imobilidade, devido à possível resistência das sociedades a mudanças de hábito ou status quo. A inércia comportamental no campo da política poderia expressar a ideia de uma disposição da sociedade pró o incumbente.
Mas e se estiver ocorrendo um desejo de mudança na sociedade, como atualmente no Brasil? Pelo Datafolha, o desejo de mudança cresce em todas as regiões do país e faixas de renda, ainda que em diferentes patamares. Como reflexo, há uma tendência de queda da aprovação do governo. O que poderia reverter esse movimento? Seria esse um movimento inercial no sentido econômico e, portanto, de difícil reversão?
Dilma dependerá da sorte, ou seja, de algum evento forte o suficiente para recuperar sua imagem
Aparentemente, sim. Pelos modelos econométricos desenvolvidos para estimar o índice de aprovação do governo, é possível concluir que há elevada inércia nesta variável. Pelos modelos, o coeficiente associado ao índice de aprovação no trimestre anterior está entre 65% e 70%. Assim, haveria importante influência dos índices passados sobre o corrente. Na ausência de choques, a evolução dos índices de aprovação tende a ser suave, sem grandes saltos, conforme a evolução do quadro econômico. Apenas choques mais relevantes seriam capazes de produzir reversões abruptas.
Uma forma de interpretar esse resultado é que os indivíduos não costumam reavaliar suas visões sobre a ação do governo com muita frequência. Na ausência de choques ou eventos relevantes e com visibilidade, os indivíduos não mudam de opinião rapidamente. E uma vez feito o ajuste, demora um tempo para ocorrer nova reavaliação.
Os protestos de junho de 2013 foram um gatilho para uma brusca queda dos índices de aprovação do governo Dilma. Como reverter o movimento de queda atual, ainda que lento? Esse é um importante desafio de Dilma. Interromper e reverter esse processo. Vencer a inércia.
A economia não ajuda, pois não atingiu o fundo do poço. Talvez o mesmo valha para a aprovação da presidente. Dilma dependerá da sorte, ou seja, de algum evento forte o suficiente para recuperar sua imagem.
Não sem razão os analistas políticos afirmam que Dilma precisa convencer os eleitores de que ela é capaz de fazer os ajustes necessários no país. Se depender da inércia, a aprovação do seu governo não deve melhorar. Boa parte dos eleitores pode não saber o que quer, mas pode crescer a convicção sobre o que não se quer. Esse movimento se traduziria em redução da porcentagem de eleitores que avaliam o governo como bom/ótimo e regular, migrando para ruim/péssimo.
Não há mais tempo para políticas econômicas que possam reverter a tendência negativa em curso. Políticas supostamente anticíclicas nos moldes utilizados pelo governo não funcionaram. E mesmo que funcionassem, não haveria mais tempo para surtirem efeito. Na realidade, o mais sábio talvez seja não fazê-las no momento, dadas as implicações sobre resultados fiscais, confiança dos agentes e expectativas inflacionárias.
Vencer a inércia pode ser difícil. Terá a campanha eleitoral na TV este poder?
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