cronica sobre o corona virus
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Resposta:
TRASPALAVRAS
Coronavírus: quatro crônicas do fim do mundo
Os Estados gastam: desaba um pilar do neoliberalismo. No Brasil, a notícia tarda a chegar, o que custará muitas vidas. Para salvar os bancos, os EUA fabricam US$ 1,5 trilhão. E se este dinheiro alimentasse o Comum? Reflexões à entrada da pandemia
OUTRASPALAVRAS
PÓS-CAPITALISMO
por Antonio Martins
Publicado 13/03/2020 às 20:26 - Atualizado 21/04/2020 às 17:44
Nota
Este texto foi revisado pelo autor em 14/3. A parte IV foi reformulada.
I. A “austeridade” acabou
“There is no alternative”: não há alternativas (ao neoliberalismo), cansou-se de dizer, durante seu longo mandato (1979-90), a primeira-ministra do Reino Unido, Margaret Thatcher. No entanto, foi nesse mesmo país que o mesmíssimo Partido Conservador da “Dama de Ferro” apresentou, na última terça-feira (11/3) uma proposta de Orçamento que rompe um dos pilares do pensamento de Thatcher. Para enfrentar o coronavírus, tentar reanimar uma economia ameaçada pela recessão e reagir de algum modo à mudança de ânimo da sociedade, o Estado britânico gastará algo como US$ 220 bilhões a mais, nos próximos cinco anos. Entre outras iniciativas, o primeiro-ministro Boris Johnson quer uma nova linha ferroviária, de alta velocidade, ligando Londres ao Norte. A crença em que os mercados devem animar e regular a si próprios será deixada de lado, ao menos por enquanto.
As políticas de “austeridade” não estão sucumbindo apenas na Inglaterra. Na Espanha, dirigida por uma coalizão e centro-esquerda e esquerda, o governo anunciou em 12/3 um pacote de emergência, que incluirá apoio financeiro às pequenas empresas e aos trabalhadores autônomos. Planos semelhantes, lançados (com distintas profundidades) na China, Alemanha, Japão e Itália, foram relatados por Outras Palavras. Nesse exato instante, o Congresso dos EUA e a Casa Branca negociam, em regime de urgência, medidas que ampliam direitos sociais e tentam estimular a Economia. E até o FMI, conhecido pelo rigor com que trata os países (e pelas pressões que exerce agora contra a Argentina e o Líbano) acaba de admitir, ainda que discretamente: é preciso fazer manobras fiscais diante da crise sanitária.
Ao comentar o novo orçamento do Reino Unido, um alto assessor financeiro do governo disse ao Le Monde: haverá “a fuckload of money”, “um pacote fodido de dinheiro”. Talvez a baronesa Thatcher se sentisse ofendida.