crônica sobre criança que pede trocados no semáforo por favor me ajudem é para hoje
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O semáforo acendeu a luz amarela. Paro imediatamente o carro, ainda que irritado, porque já guardo algum atraso. Nunca acordo de bom humor, eu admito, mas hoje, particularmente, a noite foi impiedosa.
Já decidi há muito, e cumpro rigorosamente a promessa, não ganhar tempo no trânsito. Eis que me aparece aquele mesmo garoto, o de sempre, a fazer as suas acrobacias repetitivas e que exacerbam a minha má vontade com o dia que está apenas começando.
Ele gira o corpo à frente do carro, dá cambalhotas, e eu ali, me esforçando para não dizer um palavrão, ou desejar-lhe algum mal, em um momento de desumanidade.
A música, calma e romântica, no som do carro me ajuda a desviar a atenção daquele moleque, que já me parece chato e excessivo.
E esta p… de sinal que não abre!
O menino encerra seu pequeno show, o mesmo que já vi, sem prestar atenção, outras tantas vezes.
Faz um agradecimento, com meneios à plateia, e, ato contínuo, se dirige aos motoristas: quer receber qualquer coisa pela função. Ele passa do meu lado. Eu, atenuando um pouco a carranca matinal, sinalizo que não tenho o que ele pede.
O vidro do carro fechado, escuro, porque assim a gente vive nas cidades.
O pequeno abre um sorriso, parece me reconhecer, mas não demonstra frustração alguma com a minha falta de grana e de generosidade.
Noto que ele tem uma pequena cicatriz próxima ao queixo, típica de uma infecção dentária que se agudizou ao extremo. Mas o sorriso não abandona o seu rostinho sujo, maltratado, sem nenhuma higiene, o que meu mau humor só acentua.
Ele faz um sinal de positivo, abre ainda mais aquele sorriso besta e segue em busca da paga pelo seu esforço ao asfalto.
Passo a persegui-lo com o olhar, pelo retrovisor do carro.
Não, não. Aquele sorriso não era para mim. Era dele, e ele o distribui como o mais pródigo senhor e proprietário da vida.
O semáforo não abre – que droga!-, e o menino ali, pedindo, mais com os olhos do que com a mão, uma moeda, qualquer moeda. Um estorvo para todos os que seguem para o trabalho, exaustivo e repetitivo, como o cotidiano.
Baixo o vidro do carro. O semáforo finalmente apresenta-se em verde, e eu já estou tomado pelo desejo, maior do que qualquer coisa nesse instante, de dar-lhe algum dinheiro, pagar-lhe por algo que eu ainda não sei o que é. Agora são as buzinas a protestar contra o motorista retardado, que impede o trânsito de fluir.
O acrobata retorna em minha direção, recebe o trocado e, de novo, sorri, sem dizer palavra.
Eu tinha a pressa; ele, não.
Ele tinha o sorriso; eu, não.
Uma paga vantajosa para mim.
Já decidi há muito, e cumpro rigorosamente a promessa, não ganhar tempo no trânsito. Eis que me aparece aquele mesmo garoto, o de sempre, a fazer as suas acrobacias repetitivas e que exacerbam a minha má vontade com o dia que está apenas começando.
Ele gira o corpo à frente do carro, dá cambalhotas, e eu ali, me esforçando para não dizer um palavrão, ou desejar-lhe algum mal, em um momento de desumanidade.
A música, calma e romântica, no som do carro me ajuda a desviar a atenção daquele moleque, que já me parece chato e excessivo.
E esta p… de sinal que não abre!
O menino encerra seu pequeno show, o mesmo que já vi, sem prestar atenção, outras tantas vezes.
Faz um agradecimento, com meneios à plateia, e, ato contínuo, se dirige aos motoristas: quer receber qualquer coisa pela função. Ele passa do meu lado. Eu, atenuando um pouco a carranca matinal, sinalizo que não tenho o que ele pede.
O vidro do carro fechado, escuro, porque assim a gente vive nas cidades.
O pequeno abre um sorriso, parece me reconhecer, mas não demonstra frustração alguma com a minha falta de grana e de generosidade.
Noto que ele tem uma pequena cicatriz próxima ao queixo, típica de uma infecção dentária que se agudizou ao extremo. Mas o sorriso não abandona o seu rostinho sujo, maltratado, sem nenhuma higiene, o que meu mau humor só acentua.
Ele faz um sinal de positivo, abre ainda mais aquele sorriso besta e segue em busca da paga pelo seu esforço ao asfalto.
Passo a persegui-lo com o olhar, pelo retrovisor do carro.
Não, não. Aquele sorriso não era para mim. Era dele, e ele o distribui como o mais pródigo senhor e proprietário da vida.
O semáforo não abre – que droga!-, e o menino ali, pedindo, mais com os olhos do que com a mão, uma moeda, qualquer moeda. Um estorvo para todos os que seguem para o trabalho, exaustivo e repetitivo, como o cotidiano.
Baixo o vidro do carro. O semáforo finalmente apresenta-se em verde, e eu já estou tomado pelo desejo, maior do que qualquer coisa nesse instante, de dar-lhe algum dinheiro, pagar-lhe por algo que eu ainda não sei o que é. Agora são as buzinas a protestar contra o motorista retardado, que impede o trânsito de fluir.
O acrobata retorna em minha direção, recebe o trocado e, de novo, sorri, sem dizer palavra.
Eu tinha a pressa; ele, não.
Ele tinha o sorriso; eu, não.
Uma paga vantajosa para mim.
davidsantana21:
valeu ajudou bastante
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