Português, perguntado por hentony12guedes, 3 meses atrás

CRONICA REALIDADE PARALELA

Soluções para a tarefa

Respondido por donosem2
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Foi deitar após uma noite longa no sofá, onde sorrateiramente tentou descansar e pegou no sono sem se dar conta. Eram dias emocionantes, excitantes e, ao mesmo tempo, confusos, sem rumo. Será que realmente existe um rumo, único, pragmático e irreversível? Uma única realidade somente, apenas uma opção? Já sabia que não, pelo menos para ela. Então quando essas questões vinham à mente, sorria como quem acha graça da própria autossabotagem, já tão desnecessária e óbvia.

O som da chuva, num tom pacífico, e um tanto nostálgico, fez brotar nela a sensação de um bem-estar pleno, apesar do pescoço dolorido da noite mal dormida. O cheiro do café, assim numa manhã chuvosa, mas com sol, despertou nela todas as ânsias mais bonitas e inconsequentes de uma alegria simples e ousada. Havia ficado tanto tempo longe de qualquer oportunidade do mercado de trabalho que voltar à ativa em algo realmente prazeroso era compensador e gratificante.

O começo dessa seca profissional trouxe a lembrança de um vitimismo, que já não lhe servia mais. Houve um tempo de tristeza, raiva, frustração, decepção com ela mesma. Nada disso durou muito, apenas o tempo suficiente para que ela percebesse como tudo isso era irreal. Tudo virou aprendizado, sempre vira. Não há caminhos delimitados para quem tem asas por natureza, assim por dizer. Portanto, qualquer coisa que faltasse era mesmo uma fase de transmutação para algo melhor, onde algumas coisas estavam sendo revistas, modificadas e transpostas. Ou seja, nunca faltou nada de fato. Era tão somente uma forma equivocada de observar uma realidade, dentre tantas outras a serem escolhidas para viver. Chegar nesse sossego levou alguns meses, mas não há medida de tempo para quem realmente quer fazer valer a concretização de seus sonhos. Experimentar outras realidades requer uma coragem assombrosa e delicada.

A noite de autógrafos era uma forma de comemorar, além de ser a formalização, a materialização de um agradecimento ao Universo, por todo o caminho percorrido para o momento que revelava, enfim, o novo e original ciclo de sua vida. Comemorar é também uma forma de agradecer. E isso ela sabe fazer como ninguém. Não é o luxo, o local ou o que existe que demonstra a real comemoração, mas a quantidade de emoções sentidas e de entrega envolvida. Há que se ter intensidade à flor da pele para entender a respeito. Não importa.

As mãos gélidas seguravam a caneta preta, de escrita fina, precisa e graciosa, assim como foi sua trajetória de escritora que a fez sair do anonimato para a vida pública, como que desenhou em seu destino. O que enchia os olhos da alma dela de brilho, entretanto, era como as pessoas se utilizavam daquela escrita para se entender como quisessem e para buscar sua própria cura por puro amor próprio. Era bonito de se ver. Cada um, de uma maneira diferente, e todos interessantes, instigantes e inspiradores. Ela sempre gostou de ouvir, também, quem não gosta do que escreve. Sorriu um amor todo satisfeito de perceber que a pessoa ainda não havia se dado conta de como aquilo mexia com seus sentimentos mais profundos sobre a vida. Era fascinante perceber como mexia. Nunca importou gostarem ou não, mas mexer ou não, compreende? E há os que realmente não gostam, o que também pouco importa.

Receber esses retornos dos vulcões de sentimentos e sensações que suas palavras causavam nas pessoas sempre foi a chancela de que faz realmente jus ao dom estabelecido como prioridade de vida, por total vontade indescritível de ser o que se é e compartilhar isso no mais genuíno gesto de amor. A alma dela transborda nas palavras e preenchem o papel, sem receio. A intensidade é explícita, sexy, irritante e cativante. Sempre foi assim.

Gostem ou não, ela sabe a que veio e brilha um poder pessoal regado a muita fome de autoconhecimento, assim sem fim. Que venham mais palavras, crônicas, livros. Que ela sempre tenha a paixão por se doar ao mundo, como se o presente fosse a única realidade plausível. E talvez seja.

No mais, seguem as outras realidades paralelas, talvez não tão interessantes como esta. Que seja no tempo devido. É isso e é só.

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