Português, perguntado por Arthurhonorato67, 10 meses atrás

Crônica: O Assalto

Quando a empregada entrou no elevador, o garoto entrou atrás. Devia ter uns

dezesseis, dezessete anos. Desceram no mesmo andar. A empregada com o coração

batendo. O corredor estava escuro e a empregada sentiu que o garoto a seguia. Botou

a chave na fechadura da porta de serviço, já em pânico. Com a porta aberta, virou-se

de repente e gritou para o garoto:

- Não me bate!

- Senhora?

- Faça o que quiser, mas não me bate!

- Não, senhora, eu…

A dona da casa veio ver o que estava havendo. Viu o garoto na porta e o rosto

apavorado da empregada e recuou, até pressionar as costas contra a geladeira.

- Você está armado?

- Eu? Não.

A empregada, que ainda não largara o pacote de compras, aconselhou a patroa,

sem tirar os olhos do garoto:

- É melhor não fazer nada, madame. O melhor é não gritar.

- Eu não vou fazer nada, juro! disse a patroa, quase aos prantos. – Você pode

entrar. Pode fazer o que quiser. Não precisa usar de violência.

O garoto olhou de uma mulher para outra. Apalermado. Perguntou:

- Aqui é o 712?

- O que você quiser. Entre. Ninguém vai reagir.

O garoto hesitou, depois deu um passo para dentro da cozinha. A empregada e

a patroa recuaram ainda mais. A patroa esgueirou-se pela parede até chegar à porta

que dava para a saleta de almoço.

Disse:

- Eu não tenho dinheiro. Mas o meu marido deve ter. Ele está em casa. Vou

chamá-lo. Ele lhe dará tudo.

O garoto também estava com os olhos arregalados. Perguntou de novo:

- Este é o 712? Me disseram para pegar umas garrafas no 712.

A mulher chamou, com voz trêmula:

- Henrique!

O marido apareceu na porta do gabinete. Viu o rosto da mulher, o rosto da

empregada e o garoto e entendeu tudo. Chegou a hora, pensou. Sempre me indaguei

como me comportaria no caso de um assalto. Chegou a hora de tirar a prova.

- O que você quer? – perguntou, dando-se conta em seguida do rídiculo da

pergunta. Mas sua voz estava firme.

- Eu disse que você tinha dinheiro – falou a mulher.

- Faço um trato com você – disse o marido para o garoto – dou tudo de valor

que tenho na casa, contanto que você não toque em ninguém.

E se as crianças chegarem de repente? pensou a mulher. Meu Deus, o que esse

bandido vai fazer com as minhas crianças? O garoto gaguejou:

- Eu… eu… é aqui que tem umas garrafas para pegar?- Tenho um pouco de dinheiro. Minha mulher tem jóias. Não temos confres em

casa, acredite em mim. Não temos muita coisa. Você quer o carro? Eu dou a chave.

Errei, pensou o marido. Se sair com o carro, ele vai querer ter certeza de que ninguém

chamará a policia. Vai levar um de nós com ele. Ou vai nos deixar todos amarrados. Ou

coisa pior…

- Vou pegar o dinheiro, está bem? disse o marido.

O garoto só piscava.

- Não tenho arma em casa. É isso que você está pensando? Você pode vir

comigo.

O garoto olhou para a dona da casa e para a empregada.

- Você está pensando que elas vão aproveitar para fugir, é isso? – continuou o

marido. – Elas podem vir junto conosco. Ninguém vai fazer nada. Só não queremos

violência. Vamos todos para o gabinete.

A patroa, a empregada e o Henrique entraram no gabinete. Depois de alguns

segundos, o garoto foi atrás. Enquanto abria a gaveta chaveada da sua mesa, o marido

falava:

- Não é para agradar, mas eu compreendo você. Você é uma vitima do sistema.

Deve estar pensando, ” Esse burguês cheio da nota está querendo me conversar”, mas

não é isso não. Sempre me senti culpado por viver bem no meio de tanta miséria. Pode

perguntar para minha mulher. Eu não vivo dizendo que o crime é um problema social?

Vivo dizendo. Tome. É todo o dinheiro que tenho em casa. Não somos ricos. Somos,

com alguma boa vontade, da média alta. Você tem razão. Qualquer dia também

começamos a assaltar para poder comer. Tem que mudar o sistema. Tome.

O garoto pegou o dinheiro, meio sem jeito.

- Olhe, eu só vim pegar as garrafas…

- Sônia, busque suas jóias. OU melhor, vamos todos buscar as jóias.

O quatros foram para a suíte do casal. O garoto atrás. No caminho, ele

sussurrou para a empregada:

- Aqui é o 712?

- Por favor, não! – disse a empregada, encolhendo-se.

Deram todas as jóias para o garoto, que estavam cada vez mais embaraçado. O

marido falou:

- Não precisa nos trancar no banheiro. Olhe o que eu vou fazer.

Arrancou o fio do telefone da parede.

- Você pode trancar o apartamento por fora e deixar as chaves lá embaixo. Terá

tempo de fugir. Não faremos nada. Só não queremos violência.

- Aqui não é o 712? Me disseram para pegar umas garrafas.

- Nós não temos mais nada, confie em mim. Também somos vitímas do

sistema. Estamos do seu lado. Por favor, vá embora.

A empregada espalhou a notícia do assalto por todo o prédio. Madame teve

uma crise nervosa que durou dias. O marido comentou que não dava mais para viver

nesta cidade. mas achava que tinha se saído bem. Não entrara em pânico. Ganhara um

pouco da simpatia do bandido. Protegera o seu lar da violência. E não revelara a

existência do cofre com o grosso do dinheiro, inclusive dólares e marcos, atrás do

quadro da odalisca.​

Anexos:

Soluções para a tarefa

Respondido por giovannabiancabasili
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Resposta:

I read everything else I will not remember anymore my friend is difficult for you in

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