Critica sobre o lixo
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Resposta:
Premiado no Festival de Berlim de 2010 e um dos 15 pré selecionados para a categoria no Oscar 2011, este documentário tem poderes (com trocadilho) extraordinários.
Filmado ao longo de três anos e tocado por três diretores, entre eles o brasileiro João Jardim (Janela da Alma), a coprodução Brasil/Reino Unido tem como mola propulsora a ideia de causar no mundo um efeito transformador de hábitos e pessoas.
Apesar de um começo meio estranho, reproduzindo a imagem de um programa de entrevistas brasileiro copiado da televisão americana, o que se vê logo em seguida vai se tornando revelador a cada minuto que passa.
Focado no trabalho do famoso artista plástico Vik Muniz, brasileiro radicado nos Estados Unidos, a produção se muda de mala e cuia para o maior atêrro sanitário da América Latina, o Jardim Gramacho no Rio de Janeiro, e mergulha em um universo sem precedentes com personagens pobres socialmente, mas ricos de espírito, divertidos e, fundamentalmente, emocionantes.
Com a premissa de montar quadros gigantes de sucata, aproximar os catadores de lixo da arte e ver como isso poderia mudar suas vidas, Muniz vai estreitando seu relacionamento com estes “atores” e deixando o espectador fazer parte dessa nova realidade que bate na porta de cada um deles.
Construído a partir de relatos dos envolvidos e muitas cenas de todo o processo de criação dos quadros gigantes (imitados na abertura de uma novela global), o que se vê e sente, sentado no conforto da poltrona é puro desconforto diante de um cenário de pura desesperança, mas também uma alegria contagiante ao ver o brilho sincero nos olhos de cada um deles diante das conquistas.
De forma brilhante o mérito do filme é, entre outras coisas, fazer o mesmo que se faz com parte do lixo ao ir reciclando suas emoções na medida em que a história vai crescendo e você, claro, fazendo cada vez mais parte dela. Não só porque aquele lixo poderia ser seu, mas porque é extremamente difícil não se sensibilizar com o resultado do trabalho, um luxo absoluto.
Com uma boa trilha sonora (participação de Moby), a edição perfeita monta uma história com começo, meio e final feliz de uma triste realidade que teima em não mudar. Imperdível.