contrarefoforma quem criou? quais os mecanismos propostos?e qual a função deles?
Soluções para a tarefa
135Um breve ensaio sobre corpo e religião: relações e transformações ao longo da históriaciências da religião: história e sociedade, são paulo, v. 14, n. 1, p. 127-145, jan./jun. 2016O ponto central deste texto e que liga o cenário narrado ao “mundo das religiosidades” se encontra no fato de que, se antes, parecia haver um papel claro da religião no agenciamen-to desses corpos e modelos, todos os exemplos citados mos-tram que, hoje, os corpos não parecem mais definidos pela esfera religiosa (pelo menos não do mesmo modo e com a mesma intensidade). Se, antes, a religião, e principalmente a Igreja Católica, era a instituição que mais parecia ditar os mo-dos de fazermos usos de nossos corpos, hoje ela parece compe-tir com outras esferas agenciadoras do corpo. A ideia se aplica, inclusive, à relação de disputa entre Igreja Católica e outras religiões que se expandiram imensamente no último século. Procuramos demonstrar, aqui, qual é o papel da religião e co-mo ela foi se acomodando às novas demandas corporais ao longo tempo, não deixando de exercer poder sobre os corpos, mas modificando e ressignificando a forma de agenciá-los. As mudanças na esfera religiosa influenciaram diretamen-te as mudanças dos padrões corporais e comportamentais. Há, também, a possibilidade de formularmos essa afirmação ao con-trário, uma vez que as mudanças são mútuas e dinâmicas. Não sabemos ao certo “quem transformou quem” e, nesse processo, é mais provável que tenham sido as novas demandas da vida social que geraram as mudanças na vida e na instituição religiosa. No entanto, a “ordem dos fatores” é o que menos importa para esta discussão. Essa trajetória pode ser visualizada numa linha tem-poral que pode ser traçada por mudanças simultâneas, desde aquele que consideramos como o período auge da dominação católica até os dias atuais, que propiciam a consolidação da plu-ralidade religiosa, já muito enfatizada por diversos autores. São vários os exemplos que ajudam a compreender co-mo o cenário vai se moldando aos novos discursos da vida so-cial. Ainda que o texto apresente um caráter ensaístico, as ideias e os exemplos aqui apresentados são frutos tanto da re-visão teórica abundante sobre o tema da religião como sobre dados empíricos, agrupados ao longo dos últimos anos de pes-quisa de campo em igrejas e escolas, o que me permitiram a elaboração de algumas reflexões sobre corpo no mundo con-temporâneo. Ainda que a maioria dos exemplos faça referência a um tempo passado, são as observações do presente que as tornam significativas. 2. o corpo e a edUcaçãoreligiosaApesar de o fenômeno religioso ser alvo de intensas dis-cussões e de posições não consensuais, muitos pesquisadores colocam no centro do debate acadêmico a possibilidade ou não de sua extinção na sociedade. Alguns autores utilizam o conceito de secularização para explicar as inúmeras modifica-ções no campo religioso atribuídas ao advento da modernida-de. José Casanova (1994), por exemplo, aponta para três di-mensões utilizadas para falar sobre a secularização: a primeira a vê como o declínio da religião; a segunda, a vê a partir da separação das esferas; a terceira, a entende como a mudança da religião para a esfera privada. O autor, que parece dar prefe-rência à discussão que entende o processo de secularização co-mo a divisão das esferas, faz crítica a Durkhein e Weber, que acreditam na substituição da moral religiosa por uma moral secular (Durkhein) e na dessacralização do mundo (Weber), mas não fornecem a base para pensarmos sobre o conceito de moderno e as consequências dessa modernidade2. Para Casa-nova (1994), além da emergência da ciência moderna, outros três acontecimentos contribuíram para o evento da seculariza-ção: o desenvolvimento das forças do capitalismo, a Reforma Protestante e a formação do Estado. É preciso atentar para o fato de que esse processo ocorreu de forma diferenciada em cada lugar do mundo.