Filosofia, perguntado por Camilinha8638, 1 ano atrás

Como Wittgenstein compreende a existência do ser ?

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Respondido por Fbrasil1
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Este trabalho se apresenta como uma tentativa de reunir algumas das idéias presentes na obra de Ludwig Wittgenstein (1889-1951) que nos levariam a formular uma discussão sobre a possibilidade ou não da existência de uma Terapia Filosófica. Estaremos defendendo aqui uma perspectiva da filosofia de Wittgenstein como a busca do equilíbrio entre o poder e o desejo de nosso pensamento, ou seja, entre aquilo que podemos dizer e aquilo que queremos expressar. Como sabemos, ele próprio caracterizou sua filosofia como uma terapia [1] . O termo é empregado freqüentemente também pelos autores que estudaram sua obra quando pretendem defini-la [2] . Wittgenstein acreditava ter desenvolvido o tratamento para um modo de pensamento – o modelo seguido em boa parte da filosofia de sua época – e do qual, curiosamente, foi um dos maiores representantes, na primeira fase da sua obra. Um modo de pensar que, segundo ele, poderia levar ao solipsismo, ao sofrimento e ao isolamento.

Wittgenstein era o caçula de uma rica família de Viena na primeira metade do século XX. Seria um capítulo à parte narrar a história dessa família, que viveu entre suicídios e uma dissimulada origem judaica. Abdicaremos de nos deter em pormenores dessas histórias por acreditar que isto nos levaria a uma imbricada discussão sobre as relações entre vida e obra, que ultrapassaria as pretensões deste trabalho. Entretanto, acreditamos que é impossível silenciar completamente sobre alguns aspectos da vida de Wittgenstein – atribulada e singular – que certamente devem ter influenciado, em alguma medida, a sua obra. Basta-nos, por enquanto, saber que o jovem estudante de engenharia era interessado pelas questões da Filosofia da Matemática e que depois de estudar as obras de Gottlob Frege e Bertrand Russel, inclusive tendo contato com ambos, formulará uma radical crítica às mesmas, publicada em sua primeira obra, o depois criticado Tractatus Logico-Philosophicus [3] (1922). Um detalhe interessante é que parte dessa obra foi escrita no front da Primeira Guerra Mundial, quando Wittgenstein integrou o Exército austríaco como voluntário, sendo inclusive preso na Itália. Obra escrita em aforismos, onde se tentava a solução definitiva dos problemas filosóficos, como ele mesmo dizia em seu prefácio:

“O livro trata dos problemas filosóficos e mostra – creio eu – que a formulação desses problemas repousa sobre o mau entendimento da lógica de nossa linguagem. (…) Portanto, é minha opinião que, no essencial, resolvi de vez os problemas. E se não me engano quanto a isso, o valor deste trabalho consiste, em segundo lugar, em mostrar como importa pouco resolver esses problemas” ( ). [4]

Não foi fácil a publicação desta obra. Mesmo com a ajuda de Russel, poucos editores se interessavam em investir num aparente disparate e nem o próprio Russel compreendeu plenamente o que ele tinha tentado dizer em sua obra. Mas mesmo com tantas controvérsias, após sua publicação em 1921, a obra tornou-se cada vez mais conhecida. Foi grande a sua influência no pensamento neo-positivista, notadamente sobre o chamado Círculo de Viena. Para o Wittgenstein de então, o seu trabalho significava um projeto de elucidação do processo lógico de nossa linguagem. Sendo esta obra uma herdeira da crítica kantiana às formas puras, a priori, como fundamento do conhecimento científico. No Tractatus, as condições transcendentais do sujeito kantiano se transformavam na forma lógica das expressões lingüísticas. [5] Segundo Wittgenstein, “o ponto principal é a teoria do que pode ser expresso (gesagt) por preposições – isto é, pela linguagem – (e, o que vem a ser o mesmo, o que pode ser pensado) e o que não pode ser expresso por proposições mas apenas mostrado (gezeigt); este, a meu ver, é o problema cardinal da filosofia”. [6]

Desde o seu início, a filosofia de Wittgenstein encara os problemas da filosofia como problemas da linguagem. Para o Wittgenstein do Tractatus, o problema da filosofia era uma questão de maior precisão na expressão destes. Segundo Fann, “no Tractatus, o único método de Wittgenstein era a ‘análise lógica’ que herdara de Russell” [7] e esta análise não pressupunha um diálogo, pois nesta fase Wittgenstein “filosofava solitariamente, e seus resultados eram emitidos como monólogos” [8] . Já em sua última fase, nas Investigações Filosóficas (1953), nota-se uma tentativa de diálogo [9] , segundo ele, esta última fase de sua filosofia só poderia ser entendida “pelo confronto com (seus) pensamentos mais antigos e tendo-os como pano de fundo” [10] , pois “o método central das Investigações (última fase) poderia chamar-se o método das diferenças. Em vez de buscar as semelhanças mediante a análise (primeira fase), ele agora concentra-se em desvelar as diferenças por meio da distinção”. [11] O que ele entende por distinção, compreenderemos mais claramente a seguir. Antes, vamos tentar entender o percurso que levou Wittgenstein a conceituar os problemas filosóficos como semelhantes a “enfermidades”.

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