Como você analisa o multilinguismo no nosso país?
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Resposta:
O Brasil e suas muitas línguas
Mônica Cardoso
No Brasil se fala português, certo? Sim, esse é o idioma falado pela maioria das pessoas que aqui vivem. No entanto, em nosso território convivem falantes de línguas indígenas, de imigração, de fronteira e de sinais. Em razão das relações entre seus falantes, essas línguas influenciam
Explicação:
figuramos entre os países de maior diversidade linguística do mundo. Estima-se que cerca de 250 línguas são faladas no país, entre línguas indígenas, de imigração, de sinais e de comunidades afro-brasileiras.
De acordo com o levantamento do Censo Demográfico de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 274 línguas são faladas por indígenas de 305 etnias diferentes. No entanto, esse resultado foi considerado inflacionado por incluir nomes de etnias ou mesmo línguas que já não são mais faladas. “Temos apenas uma estimativa do número de línguas faladas no Brasil. Em relação às línguas indígenas, os dados do Censo são maiores daqueles que os pesquisadores costumam reproduzir, que é em torno de 180 línguas indígenas. Além dessas, pesquisas mostram que há 56 línguas faladas por descendentes de imigrantes que vivem no Brasil há pelo menos três gerações”, diz Rosângela Morello, coordenadora-geral do Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística (Ipol).
Com tanta diversidade, o Brasil tem suas particularidades linguísticas, já que as línguas são objetos históricos e estão sempre relacionadas aos seus falantes. A maioria da população brasileira é monolíngue, isto é, fala apenas o português, que é a sua língua materna e também a língua franca, oficial e nacional do país. Contudo, não é possível dizer que somos um país monolíngue, já que temos cenários multilíngues, ou seja, grupos populacionais que falam línguas maternas diferentes, mas são capazes de se comunicar em outra língua. Há também grupos que além de suas línguas maternas utilizam outras línguas para a comunicação, como ocorre em São Gabriel da Cachoeira (AM), onde convivem falantes de quatro línguas oficiais: português, nheengatu, tucano e baníua.
“As três possibilidades – monolinguismo, multilinguismo e plurilinguismo – se entrelaçam no Brasil, mas podemos afirmar que o Brasil é um país multilíngue que inclui espaços onde há plurilinguismo. Por sua vez, o país tem uma única língua oficial e nacional, que é a língua portuguesa", analisa Eduardo Guimarães, professor de Semântica do Departamento de Linguística do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade de Campinas. “Há cidades em que se fala outra língua, mas normalmente é o português que sempre predomina no espaço de línguas das cidades. Os mecanismos de ensino de línguas são elementos decisivos no modo de distribuição e funcionamento das línguas.”
Apesar da enorme diversidade linguística no Brasil, a relação dos falantes e de suas línguas é desigual em comparação à língua portuguesa. A percepção dominante, inclusive, é de que aqui se fala apenas uma língua. Considerando a importância de conhecer essa diversidade e de preservar tantas línguas com alto risco de desaparecimento, foi criado, por meio do Decreto Federal 7.387/2010, que institui o Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL), um instrumento para inserir as línguas como referência cultural brasileira, administrado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
“O contingente populacional que fala outras línguas é numericamente pouco expressivo em relação ao quantitativo de falantes de português. Esse desequilíbrio, sobretudo das línguas indígenas e das línguas de imigração, torna o português uma espécie de ameaça à preservação dessas outras línguas, pois o português é o veículo por excelência de comunicação em todos os campos da nossa sociedade. Isso leva ao desestímulo e ao paulatino abandono da utilização das línguas maternas”, avalia Marcus Vinicius Carvalho Garcia, coordenador do INDL.
Hegemonia x diversidade
A história do país demonstra que a imposição da língua portuguesa foi adotada como estratégia de ocupação e unificação de um país com um território tão extenso. Antes mesmo da chegada dos portugueses, o Brasil já era um país multilíngue. Estimativas sugerem que 1.175 línguas eram faladas por indígenas de diferentes etnias no território brasileiro em 1500. Por mais de dois séculos, a língua mais falada no Brasil era a língua geral, ou nheengatu, de base tupi, usada para comunicação entre indígenas, portugueses e africanos. Já a língua portuguesa era utilizada por uma reduzida parcela da população, ligada à administração colonial. Em 1757, um decreto do Marquês de Pombal proibiu a língua geral.
“Sem dúvida, o projeto português de colonização teve um efeito fundamental, que foi a produção de uma unidade territorial. E isso passou pela implantação do português como língua oficial e nacional em toda a extensão do território brasileiro”, considera o professor Eduardo Guimarães.