ENEM, perguntado por BrunaDoll3, 1 ano atrás

como Rosa ameaça a Florência, livro o noviço

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Respondido por lucasxavier230oxb2hi
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m três atos, O noviço narra a história de Ambrósio, um homem sem caráter que, por duas vezes, casa-se por interesse. No primeiro casamento, sua ‘vítima’ era uma moça do interior do Ceará, chamada Rosa. Após alguns anos de casado, Ambrósio, alegando viagem para o Uruguai em busca de fortuna, parte para a corte. Lá conhece Florência, rica, viúva e romântica, mãe de dois filhos (Emília e Juca) e tia de Carlos. Casam-se e, aos poucos, Ambrósio consegue convencer a esposa a orientar seus filhos e sobrinho para a vida eclesiástica. Carlos (namorado de sua prima Emília), o noviço com vocação militar, é o primeiro a ser enviado ao convento, porém, ao fim de seis meses foge e se esconde na casa da tia.

Rosa, inesperadamente, chega à corte com notícias do marido (que ela já dava por morto há vários anos), cuja situação desconhecia. Rosa desabafa com Carlos (este vestido de noviço) e ele arma um plano para desmascarar o ‘tio’. Inconformado com o passado de Ambrósio, o noviço convence-o, mediante chantagem, a tirá-lo oficialmente do convento. Ambrósio aceita as condições do ‘sobrinho’. Porém, pela maneira como ocorreu sua fuga (agrediu um superior), os padres só o liberarão do noviciado após ele ser castigado fisicamente. É levado de volta ao convento. Rosa aparece na casa de Florência (parte do plano de Carlos foi trocar de roupas com Rosa que, levada ao convento, causou espanto e revolta nos superiores) e faz a revelação. Ambrósio foge. Depois destes eventos e passados alguns dias, Carlos foge novamente do convento e se esconde na casa da tia. Ambrósio volta e ameaça Florência para conseguir dinheiro e jóias. Carlos, escondido, ouve as ameaças e defende sua tia. Ambrósio é preso por seus crimes, a paz é restabelecida e Emília e Carlos ficam livres para casar.

À semelhança das peças cômicas de outrora (como as de Aristófanes), O noviço traz alguns solilóquios e diálogos longos, que servem para revelar ao leitor/espectador características profundas que não seriam totalmente esclarecidas apenas com a trama. É através de um solilóquio que tomamos conhecimento da mais importante faceta ideológica do antagonista Ambrósio, no início da peça:

Ambrósio – No mundo a fortuna é para quem sabe adquiri-la. Pintam-na cega… Que simplicidade! Cego é aquele que não tem inteligência para vê-la e a alcançar. Todo o homem pode ser rico, se atinar com o verdadeiro caminho da fortuna. […] Qual o homem que, resolvido a empregar todos os meios, não consegue enriquecer-se? Em mim se vê o exemplo. Há oito anos, era eu pobre e miserável, e hoje sou rico, e mais ainda serei. O como não importa; no bom resultado está o mérito… Mas um dia pode tudo mudar. Oh que temo eu? Se em algum tempo tiver de responder pelos meus atos, o ouro justificar-me-á e serei limpo de culpa. As leis criminais fizeram-se para os pobres… (PENA, 2001, p. 49-50).

Além da máxima maquiavélica (os fins justificam os meios), neste trecho evidencia-se o tipo de homem “imitado” por Ambrósio. Homem corrupto que, através da riqueza, sabe-se impunível e busca incessantemente obter mais dinheiro. A escalada social, para ele, é um meio de sobrevivência e o casamento por conveniência um modo de vida. Então, Ambrósio pode ser identificado com ‘ilustres’ aristocratas da época, com políticos, com alpinistas sociais de qualquer tipo.

Na busca de seus intentos, Ambrósio, mostra-se homem mais ou menos culto, dotado de um vocabulário elaborado, de fino comportamento e alguma intimidade com assuntos jurídicos. Representa a hipocrisia e futilidade da aristocracia da época que, como Martins Pena já retratara belamente em Os dous ou o inglês maquinista, nada tinha a acrescentar com suas belas palavras:

Ambrósio – […] O que é este mundo? Um pélago de enganos e traições, um escolho em que naufragam a felicidade e as doces ilusões da vida. E o que é o convento? Porto de salvação e ventura, asilo da virtude, único abrigo da inocência e verdadeira felicidade… E deve uma mãe caridosa hesitar na escolha entre o mundo e o convento. (PENA, 2001: 54)

Ambrósio consegue convencer Florência a enviar Emília, no futuro, para um convento com o objetivo de evitar demandas, como ele mesmo acentua. A sua esposa, não só nessa conversa, mostra-se inclinada a aceitar as imposições do marido, mesmo sendo ela quem possuía os bens e que mantinha a casa e os integrantes da família. Juntos, eles simbolizam a maneira como os casamentos da época eram regidos: o homem manda e a mulher obedece.
As falas de Florência também são responsáveis por mostrar os preconceitos que as mulheres casadas por segunda vez, mesmo as viúvas, sofriam nesse período:

Florência (só) – Se não fosse este homem com quem casei-me segunda vez, não teria agora quem zelasse com tanto desinteresse a minha fortuna. É uma bela pessoa…. Rodeia-me de cuidados e carinhos. Ora, digam lá que uma mulher não deve casar-se segunda vez…. Se eu soubesse que havia de ser sempre tão feliz, casar-me-ia cinquenta. (PENA, 2001: 58-9).


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