Como produzir produtos industrializados sem poluir
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Agronegócio
Produzir sem poluir
Por: Décio Luiz Gazzoni
Publicado em 13/01/2005 às 09:01h.
Em meus idos tempos de universitário (e ponha idos nisto!), fui partícipe de um dos embates precursores da onda ambientalista que varreria o mundo. Instalara-se em Guaíba, região metropolitana de Porto Alegre (às margens do estuário que forma a Lagoa dos Patos), uma indústria de celulose e papel, de capital norueguês, chamada Borregaard. O movimento civil exigia o fim das operações da indústria. Foi negociado um meio termo, com a instalação de filtros e alterações de processos industriais, que atenderam aos reclamos da população. Sem demérito para a luta pioneira, hoje verifico que lutávamos mais contra a catinga trazida pelo vento sul, que atormentava nosso olfato sensível, que por um sistema de produção sustentável e integrado ao ambiente.
Sustentabilidade
Produzir sem degradar o ambiente é um desafio constante. No caso da indústria de papel e celulose, este desafio permeia a cadeia produtiva. Inicia com a derrubada das árvores e prossegue com o branqueamento da polpa da celulose, o que significa utilizar substâncias tóxicas. Ou significava, pois pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) desenvolveram um processo sucedâneo que elimina o uso de poluentes, substituindo-os por enzimas (xilanases), produzidas por diversas espécies de fungo, em especial Acrophialophora nainiana.
Processo clássico
Para extração da matéria prima, a madeira é mergulhada em um caldeirão de vapor d'água a 40º.C. Desse procedimento surgirá a polpa da celulose, formada por células vegetais em fibras entrelaçadas, que resultarão no papel. Para obter um papel de boa qualidade necessita-se de uma polpa branca e de alto brilho. Para tanto, é preciso clareá-la, removendo a lignina e seus derivados. O branqueador utilizado é o cloro, que converte a lignina residual da polpa em produtos solúveis em água. Os subprodutos resultantes são substâncias orgânicas cloradas, que podem ser tóxicas, mutagênicas e persistentes. Se lançados nos rios, esses poluentes podem contaminar a água e os peixes e causar prejuízos aos ecossistemas.
Inovação
Os pesquisadores brasileiros inspiraram-se em processos similares, utilizados na Finlândia, EUA e Canadá. Os resultados do estudo brasileiro mostraram que os papéis branqueados pelas enzimas micóticas possuem boa alvura e a mesma resistência ao rasgo que aqueles produzidos com o método convencional. Na análise de brilho, de acordo com o papel que se deseja obter, o novo processo redunda em maior qualidade. No processo convencional de branqueamento, o uso de xilanases poderia reduzir em até 30% o uso de cloro e organoclorados. No entanto, algumas empresas adotam alternativamente ozônio e oxigênio no branqueamento, para reduzir a utilização de poluentes. Nesses casos, além de diminuir a quantidade de organoclorados, o uso de xilanases permite também melhorar as propriedades da polpa.