Como posso analisar o poema "O Martírio do Artista"de Augusto dos Anjos?
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Há vários aspectos na linguagem de Augusto dos Anjos a serem observados. Não é pretensão deste trabalho esgotá-los, mas nunca é demais lembrar que é na essência da linguagem, em como ela se organiza, em como ela funciona para o leitor, que está a arte de escrever. Vamos procurar mostrar-lhe, leitor, como, apesar de vazada numa forma tradicional, a linguagem usada por Augusto dos Anjos já prenuncia o Modernismo, que, oficialmente, tem suas primeiras manifestações somente em 1917, para explodir na Semana de Arte Moderna, em fevereiro de 1922, tornando-se o evento artístico (não apenas literário) mais importante e influenciador do século XX, no Brasil.
Paródia e humor – Esta é uma abordagem inédita, leitor. Se você se der ao trabalho de recorrer a outras fontes para melhor compreender a poesia de Augusto dos Anjos, com certeza lerá que ele era um pobre coitado, um sofredor, um incompreendido etc. Já mostramos, na análise do tema central, que a opção de Augusto dos Anjos é por uma estética da dor, para assim melhor denunciar adegradação humana. Na análise dos motivos, mostramos como o autor trabalha em detalhes essa estética. Isso não elimina, contudo, já o dissemos também, a sinceridade do autor. Nossa proposta agora é mostrar que na estética da dor cabem também a paródia, a ironia e até mesmo algum humor, elementos fundamentais da escola modernista.
O poema transcrito abaixo, As pombas, é de Raimundo Corrêa (1859-1911), notório parnasiano. É possível que você já o conheça, pois é um dos poemas mais antologiados do período.
Vai-se a primeira pomba despertada...Vai-se outra mais... mais outra..., enfim dezenasDe pombas vão dos pombais, apenasRaia sanguínea e fresca a madrugada.
E à tarde, quando a rígida nortadaSopra, aos pombais, de novo, elas, serenas,Ruflando as asas, sacudindo as penas,Voltam todas em bando e em revoada...
Também dos corações onde abotoam,Os sonhos, um por um, céleres voam,Como voam as pombas dos pombais;
No azul da adolescência as asas soltam,Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,E eles aos corações não voltam mais...
É um poema singelo e a reflexão que encerra beira mesmo a pieguice: ao contrário das pombas, que, apesar de livres, voltam sempre para “casa”, os sonhos da adolescência são esquecidos na idade adulta. Num processo paródico, que consiste naimitação irônica, Augusto dos Anjos escreveu O morcego:
Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:Na bruta ardência orgânica da sede,Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.
“Vou mandar levantar outra parede...”– Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolhoE olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,Circularmente sobre a minha rede!
Pego de um pau. Esforços faço. ChegoA tocá-lo. Minh’alma se concentra.Que ventre produziu tão feio parto?!
A Consciência Humana é este morcego!Por mais que a gente faça, à noite, ele entraImperceptivelmente em nosso quarto!
A paródia, leitor, pode imitar a forma e/ou o conteúdo, subvertendo-os. Neste caso, nós temos uma imitação clara de conteúdo. Às pombas está contraposto o morcego. Se aquelas, diurnas, são símbolos do bem e da graça, este, noturno, é o símbolo do mal e da desgraça. Se aquelas têm toda a liberdade de ir e vir, este insiste em atormentar o “eu lírico” no espaço limitado de um quarto. À singeleza de pensamento do primeiro poema, opõe-se a grave reflexão do segundo: é uma metáfora da consciência do homem atormentado pelas falhas cotidianas. Se o poema parnasiano versava sobre sonhos adolescentes, o poema de Augusto dos Anjos trata de um sentimento que somente os éticos ainda o tem: o remorso, a culpa.
Paródia e humor – Esta é uma abordagem inédita, leitor. Se você se der ao trabalho de recorrer a outras fontes para melhor compreender a poesia de Augusto dos Anjos, com certeza lerá que ele era um pobre coitado, um sofredor, um incompreendido etc. Já mostramos, na análise do tema central, que a opção de Augusto dos Anjos é por uma estética da dor, para assim melhor denunciar adegradação humana. Na análise dos motivos, mostramos como o autor trabalha em detalhes essa estética. Isso não elimina, contudo, já o dissemos também, a sinceridade do autor. Nossa proposta agora é mostrar que na estética da dor cabem também a paródia, a ironia e até mesmo algum humor, elementos fundamentais da escola modernista.
O poema transcrito abaixo, As pombas, é de Raimundo Corrêa (1859-1911), notório parnasiano. É possível que você já o conheça, pois é um dos poemas mais antologiados do período.
Vai-se a primeira pomba despertada...Vai-se outra mais... mais outra..., enfim dezenasDe pombas vão dos pombais, apenasRaia sanguínea e fresca a madrugada.
E à tarde, quando a rígida nortadaSopra, aos pombais, de novo, elas, serenas,Ruflando as asas, sacudindo as penas,Voltam todas em bando e em revoada...
Também dos corações onde abotoam,Os sonhos, um por um, céleres voam,Como voam as pombas dos pombais;
No azul da adolescência as asas soltam,Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,E eles aos corações não voltam mais...
É um poema singelo e a reflexão que encerra beira mesmo a pieguice: ao contrário das pombas, que, apesar de livres, voltam sempre para “casa”, os sonhos da adolescência são esquecidos na idade adulta. Num processo paródico, que consiste naimitação irônica, Augusto dos Anjos escreveu O morcego:
Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:Na bruta ardência orgânica da sede,Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.
“Vou mandar levantar outra parede...”– Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolhoE olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,Circularmente sobre a minha rede!
Pego de um pau. Esforços faço. ChegoA tocá-lo. Minh’alma se concentra.Que ventre produziu tão feio parto?!
A Consciência Humana é este morcego!Por mais que a gente faça, à noite, ele entraImperceptivelmente em nosso quarto!
A paródia, leitor, pode imitar a forma e/ou o conteúdo, subvertendo-os. Neste caso, nós temos uma imitação clara de conteúdo. Às pombas está contraposto o morcego. Se aquelas, diurnas, são símbolos do bem e da graça, este, noturno, é o símbolo do mal e da desgraça. Se aquelas têm toda a liberdade de ir e vir, este insiste em atormentar o “eu lírico” no espaço limitado de um quarto. À singeleza de pensamento do primeiro poema, opõe-se a grave reflexão do segundo: é uma metáfora da consciência do homem atormentado pelas falhas cotidianas. Se o poema parnasiano versava sobre sonhos adolescentes, o poema de Augusto dos Anjos trata de um sentimento que somente os éticos ainda o tem: o remorso, a culpa.
ThaliaUchiha:
Muito Obrigada,Ajudo bastante ^_^
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