Como podemos descrever o empoderamento das mulheres negras hoje na sociedade?
Soluções para a tarefa
Apesar de ainda existir preconceito, essas mulheres tem muita voz na sociedade
Discutir o empoderamento das mulheres negras predispõe subjetividades que definem a mudança na condição e na posição1
das mulheres negras dentro da sociedade. Essas subjetividades
são pensadas nesse estudo como formas de empoderamento, sugerindo um tipo de poder que
estimula as mudanças, tanto individuais como coletivas, que é criativo e participativo proporcionando
novos espaços e posições, permitindo a conquista da autonomia e representatividade nos contextos
cultural, econômico, político e social (SEM; GROWN, 1988; DEERE; LEON, 2002).
As feministas têm usado o termo empoderamento em detrimento do termo “poder” no sentido
de dar maior ênfase no poder como algo que focaliza mais o oprimido que o opressor. Na análise da
cientista política Cecilia Sardenberg (2006, p. 7), a questão do poder implícita na noção de empoderamento não se refere ao “poder sobre”, ou seja, na dominação/subordinação ou dominação/resistência, mas visualiza tipos de poder que estão relacionados à capacidade para fazer algo, para produzir,
para “fazer escolhas dentro de um contexto que antes era impossível/proibido/negado”, que está na
construção da autoestima e autoconfiança e na capacidade de compartilhar em uma ação coletiva.
As mulheres negras, em pleno século XXI, ainda são reconhecidas por estereótipos que tiveram
origem na colonização e que obedecem a um padrão representado pelo corpo, quando não sexualizado,
condicionado à práticas de servidão. A articulação entre o racismo e o sexismo produziu uma imagem
negativa destas mulheres, imputando-lhes atribuições nas quais, de modo geral, foram enquadradas,
a saber: a mulata, a doméstica ou a mãe preta (GONZALES, 1984). Contudo, atitudes de resistência e
sobrevivência vêm permeando a história das mulheres negras no Brasil. Mesmo durante a escravização
elas estavam nos espaços públicos ocupando posições “que as tornavam principal agente da população
negra, no contato, tradução, disputas e trocas culturais entre brancos e negros” (WERNECK, 2007, p. 60).
A ativista Lélia Gonzales, no final da década de 1970, como militante negra e uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado, inicia publicações que denunciavam as práticas racistas e
sexistas bem como as desigualdades raciais e de gênero, produzindo novos interesses de interpretação.
O fato é que, enquanto mulher negra, sentimos a necessidade de aprofundar nessa reflexão, ao
invés de continuarmos na reprodução e repetição dos modelos que nos eram oferecidos pelo
esforço de investigação das ciências sociais. Os textos só nos falavam da mulher negra numa
perspectiva socioeconômica que elucidava uma série de problemas propostos pelas relações raciais.
Mas ficava (e ficará) sempre um resto que desafiava as explicações (GONZALES, 1984, p. 225).
Até então, pouco se publicava sobre as mulheres negras e suas estratégias para a vida social e em
família. A pesquisa da antropóloga estadunidense Rute Landes, na década de 1930, publicada no Brasil
em 1968 com o título “A cidade das mulheres”, tornou-se, na atualidade, uma grande referência para
os estudos sobre as mulheres negras, naquele período, entretanto, sua obra foi severamente criticados
por intelectuais2
. Como analisa a antropóloga Mariza Corrêa (2000), primeiro por ser uma mulher
atuando em um contexto dominado por homens, segundo por dar ênfase às relações raciais quando
a antropologia pautava-se em explicações culturais e terceiro pela importância que a sua pesquisa
dera às mulheres dentro do candomblé.
Os festejos de 1988, comemorando o centenário da abolição no Brasil, provocou um movimento de visibilidade da cultura negra ou afro-brasileira, tanto na mídia como nos diversos campos