História, perguntado por albertodavi59, 11 meses atrás

como os reinos africanos se interligavam​

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Respondido por mayrans21
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A imensa maioria dos pesquisadores ao tratar da Berberia utiliza o termo tribo para designar a divisão estrutural básica dessa sociedade (Whittaker 1993; Gsell 1920-1930; Euzennat 1963; e outros). No entanto, muitos têm consciência das dificuldades que o uso específico da palavra tribo acarreta (Fentress 1982: nota 13). Além de questões restritas à esfera da Antigüidade, o termo é problemático conceitualmente em razão da carga negativa a ele agregada, vinda das concepções secundários. Como já salientamos, mesmo internacionalmente existe um longo debate sobre a pertinência e as conotações da palavra tribo (Whittaker 1993: 332, notas 4 e 5), que se encontra em desuso mas não foi ainda totalmente abolida. Isto porque o uso do conceito "sociedade tribal" é preferido em relação ao de "primitivo", que traz embutido em si a mesma carga negativa que acabamos de relacionar ao termo tribo. Entretanto, uma vez que a produção acadêmica brasileira solucionou a questão passando a utilizar o neutro conceito de grupo indígena (o termo indígena é adotado, por nós, para marcar o caráter autóctone dessas pessoas), optamos por seguir essa tendência e o adotamos também, no lugar de tribo, mas não no lugar de "sociedade tribal", que é 
Na Berberia da Antigüidade, o grupo indígena pode ser entendido como a formação social básica a habitar a região, seja como nômade, semi-nômade ou sedentária. Stéphane Gsell (1927, vol V.: 82-83) definia os nomes encontrados nos textos antigos gregos e latinos como sendo ou de tribos ou de povos. O termo povos era utilizado quando a referência, segundo ele, fosse para um conjunto de povoamentos unidos por laços mais ou menos estreitos. Recentemente, C. R. Whittaker (1993: 332-333) mencionou a divisão desses grupos em "segmentos ferozmente independentes, denominados por conveniência de pequenos clãs". Estes clãs seriam compostos por diversos grupos familiares menores. Gabriel Camps (1960), em sua obra dedicada ao rei númida Massinissa, ao discorrer sobre a proto-história da Berberia, escapa ao uso de qualquer um desses termos, preferindo referir-se a povos nômades, semi-nômades e sedentários. Camps acredita em uma unidade "étnica" (aspas nossas) dos povos berberes revelada pelos dialetos berberes, hoje em dia fracionados e separados, reduzidos a ilhas, mas todos derivados de uma antiga língua (Camps 1960: 124-125). 

No entanto, essa unidade étnica não expressa unidade política, isto é, centralização do poder. Os grupos indígenas divididos em clãs, que são compostos por pequenos grupos familiares, em determinados momentos históricos, da Antigüidade até o século XX se nos lembrarmos da organização social dos touareg saarianos (Seligman, 1935: 128), admitiram relações de vassalagem com outros grupos e formaram unidades políticas maiores que constantemente variaram de tamanho. Desta maneira e em alguns momentos, um certo número de grupos indígenas e de "confederações", oriundos destes, podem ser identificados, como no caso dos "reinos" pré-romanos masesilo, massilo, númida e mouro. No entanto, o grau de coesão das facções componentes e do próprio grupo indígena variou enormemente ao longo da História, e, segundo C. R. Whittaker (1993: 333), foi essencialmente efêmero. 

Na verdade, a maioria dos nomes dos grupos indígenas autóctones da Berberia que a historiografia moderna conhece é oriunda das fontes textuais gregas e latinas. Estes nomes foram sempre apresentados, genericamente, como sendo referentes a um povo, uma natio (no sentido de "conjunto de indivíduos nascidos no mesmo lugar"), mas que poderiam, eventualmente, estar designando algo mais específico, uma gens (subentendendo-se um conjunto de pessoas que, pelos varões, se ligam a um antepassado comum, varão e livre). 

Uma questão primordial para o estudo da sociedade norte-africana é entender quais categorias dessa organização social delineada acima estão por detrás dos nomes de grupos conhecidos, que denominamos grupos indígenas. 

Acreditamos ser um erro considerar como referente a um agrupamento fechado e independente cada um dos nomes que a literatura e a epigrafia grega e latina, e a epigrafia púnica nos revelam. Como veremos nem sempre é possível depreender, a partir da citação, se se trata de um grupo indígena específico, um sub-grupo (clã, família, etc.), ou uma denominação maior ("confederação" ou super-grupo). Este tipo de questionamento teria que ser mediado pelo estudo da ocupação territorial, dos padrões dessa ocupação e do conjunto da cultura material a eles relacionados.

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