História, perguntado por claraalmeida3614, 7 meses atrás

Como o novo rei português, D. João IV tentou negociar com a Holanda o domínio das capitanias açucareiras no Brasil?

QUEM RESPONDER COISA NADA A VÊ, EU VOU DENUNCIAR !!!!

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Respondido por gabijuli2020
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Resposta:

"É melhor ter com eles (holandeses) guerra declarada do que paz fingida". Foi o que escreveu Manoel de Moraes, em outubro de 1648, emitindo um dos mil pareceres que o hesitante rei D.João IV solicitava aos que tinham experiência em assuntos holandeses. Era tempo de pareceres solicitados pelo rei sobre se convinha ou não ceder o Brasil às Províncias Unidas dos Países Baixos em troca da paz. Aliás, como escreveu Evaldo Cabral de Mello, em O negócio do Brasil, quem hoje compulsa os códices seiscentistas nas bibliotecas e arquivos portugueses "topa invariavelmente com manuscritos sobre as pazes da Holanda".

O texto de Manoel de Moraes apresenta os ingredientes de um parecer formal sobre a questão. Manoel se dirigiu ao rei: "Isto escrevo como fiel vassalo de Sua Majestade, como quem correu todas aquelas terras, tratou todas aquelas gentes, e lhes conhece de experiência as condições"– texto oficial e segredo de Estado: "sob censura". Sendo o assunto a famigerada "paz com a Holanda, Manoel começa o texto louvando a paz, enquanto princípio, nela vendo a raiz da prosperidade dos povos; mas não a paz com os holandeses, dizia, que eram povos "variáveis, inquietos e mal intencionados". Só fazem a paz enquanto lhes convêm – acrescentou – e ao menor descuido "quebram as leis dela". O mote do seu texto se pode resumir no argumento citado no início: "é melhor ter com eles (holandeses) guerra declarada do que paz fingida".

Manoel refutou, portanto, o que considerava os quatro pontos essenciais do tratado "entreguista"que Portugal negociava com os holandeses, afirmando que na Europa, se fosse possível, a paz era bem-vinda. Mas no sul, isto é, no Brasil, somente a guerra resolveria o impasse. Considerou inaceitável que Portugal cedesse aos holandeses território tão rico em engenhos de açúcar, tabaco, pau-brasil e mantimentos variados. Alegava que Portugal não precisava da Holanda para nada, pois tudo que vendiam no Brasil vinha de outras partes: a aguardente da França, as munições da Dinamarca ou Hamburgo, o ferro da Suécia. Em contrapartida, a Holanda não podia viver sem o sal de Setúbal e sem a riqueza do Brasil. Considerou também absurda a exigência de indenização de guerra ao rei, pois não fora D. João IV quem ordenara o "levantamento da terra"contra os holandeses. A rebelião havia sido iniciativa dos moradores em "boa consciência". Tão boa consciência quanto a que os mesmos holandeses haviam mostrado, ao se rebelarem contra a tirania dos castelhanos, como eles gostavam de repetir. De modo que, se a revolta dos holandeses contra a Espanha havia sido justa, também o era a rebelião movida pelos luso-brasileiros contra a Holanda.

Manoel de Moraes retomou o argumento usado à farta pelos embaixadores de D. João IV em Haia, a saber, o de que os holandeses haviam conquistado aquelas partes do Brasil no tempo em que Portugal era cativo de Castela. Cativeiro injusto, pois a legítima sucessão, em 1580, cabia à Casa de Bragança (e nisto Manoel de Moraes repetiu um dos argumentos de seu texto pró-restauração de 1641). Quase deu vivas, ao saudar o "Duque de Bragança, hoje por graça de Deus, o poderoso monarca El Rei D. João, o quarto, nosso senhor". E se os holandeses alegassem, como alegavam, que a insurreição feria a trégua estabelecida em 1641, valia lembrar que foram eles os primeiros a rompê-la, tomando Angola, São Tomé e o Maranhão.

Manoel de Moraes também pôs em xeque a superioridade militar holandesa, inclusive a naval, embora admitisse que o inimigo tinha mais navios. Mas a madeira usada nos navios portugueses era melhor, ajuizou. Quanto ao combate em campo raso, os holandeses eram, segundo ele, um desastre. Ilustrou seu argumento citando a batalha do Monte das Tabocas, de que ele mesmo havia participado; a vitória facílima dos portugueses no Maranhão, em 1643; o fracasso de Nassau na Bahia, em 1638; o triunfo de Salvador Correa de Sá em Angola, em 1648. Aos holandeses, de fato, só restava a posse de Olinda e do Recife no início de 1649.

Não havia razão nenhuma, segundo o ex-jesuíta, para o rei restituir-lhes território que, de armas na mão, os "libertadores da pátria"haviam restaurado. E maior injustiça seria, escreveu Manoel, entregar aos hereges os moradores que "levantaram a terra"contra a tirania holandesa. Esta sim, crudelíssima, como estavam a comprovar os massacres no Rio Grande (Cunhaú e Uruaçú, 1645), onde foram os holandeses aliados aos "bárbaros tapuias"e ao "bárbaro potiguar", perpetrando o assassinato de párocos, a profanação de igrejas e o estupro de matronas e donzelas.

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