Como o MonteiroLobato virou escritor
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José Bento Monteiro Lobato nasceu em Taubaté, em 1882. Homem de grande diversidade e talento foi considerado gênio e pioneiro da literatura infanto-juvenil. Formou-se em advocacia por imposição do avô, o Visconde de Tremembé. Contudo, sua vocação era mesmo as artes: pintura, fotografia e o mundo das letras e, assim, os “melhores frutos da fazenda” de sua propriedade, foi o livro Urupês(1918). Esta obra apresenta o Jeca Tatu personagem parasitado por um “jardim zoológico”, sendo “papudo, feio, molenga, inerte".
Monteiro Lobato em 1920 (aproximadamente). Foto: Coleção Novo Século [Editora Abril] / via Wikimedia Commons
Estas publicações tiveram como propósito, apesar de serem contos infantis, ser um instrumento de luta contra o atraso cultural e a miséria do Brasil. Tornou-se editor da empresa “Companhia Gráfico-Editora Monteiro Lobato", lançando as bases da indústria editorial no Brasil e dominou o mercado livreiro. Entretanto, sem apoio governamental aliado à crise energética a editora veio à falência.Monteiro Lobato muda-se para o Rio de Janeiro e prossegue em sua carreira de escritor, criando o Sítio do Pica Pau Amarelo, que o celebrizou. Em 1920 lança A Narizinho Arrebitado, leitura adotada nas escolas. Traz para a infância um rico universo de folclore, cultura popular e muita fantasia. Publica “Reinações de Narizinho” (1931), “Caçadas de Pedrinho” (1933) e “O Pica-pau Amarelo” (1939). Os “Trabalhos de Hércules” concluem uma saga de 39 histórias e quase um milhão de exemplares vendidos. Suas obras foram traduzidas para diversos idiomas, como francês, italiano, inglês, alemão, espanhol, japonês e árabe.
Lobato concorreu em 1926 a uma vaga na Academia Brasileira de Letras, não foi escolhido. Recentemente, surge uma polêmica sobre preconceito racial quando seu livro “O Presidente Negro” (1926), descreve um conflito racial, após a eleição de um negro para a presidência dos EUA e, também a personagem negra, Tia Nastácia, comparada a uma macaca ao subir numa árvore.
Em 1927, reside por 4 anos nos Estados Unidos em missão diplomática, como adido comercial e pôde constatar a lentidão do desenvolvimento brasileiro mediante o gigantesco progresso americano. De regresso para o Brasil inaugura várias empresas de ferro e petróleo para fazer perfuração, no intuito de desenvolver o país, economicamente. Escreveu dois livros “Ferro” (1931) e “O Escândalo do Petróleo” (1936), neste documenta os enfrentamentos na busca de uma indústria petrolífera independente. A política do governo de Getúlio Vargas era “não perfurar e não deixar que se perfure” proibiu e recolheu os exemplares disponíveis. Por contrariar interesses de multinacionais foi preso em 1941, no Presídio Tiradentes, onde ficou por 6 meses. Saiu da prisão, mas continuou perseguido pela ditadura do Estado Novo.
Lobato ainda foi perseguido pela Igreja Católica quando o padre Sales Brasil denunciou o livro “História do Mundo Para as Crianças” como sendo o “comunismo para crianças”. Em 1947 escreve a história de “Zé Brasil”, panfleto que percorreu o país de norte a sul, acusando o presidente Dutra de implantar no Brasil uma nova ditadura: o “Estado Novíssimo”.
Monteiro Lobato concedeu uma entrevista à Rádio Record no dia 2 de julho de 1948, dois dias antes de morrer, pobre, doente e desgostoso, aos 66 anos de idade. Como ativista político e na contramão dos interesses dominantes, encerrou a entrevista com a frase “O Petróleo é nosso”! Frase mais do que nunca repetida no Brasil. Foi um personagem brasileiro tão ilustre e importante o cortejo de seu velório foi acompanhado por 10 mil pessoas, entoando o Hino Nacional.