como mark watney estebelece contato com a sociedade?(do filme predido em marte).
Soluções para a tarefa
Resposta:
Passemos ao largo dos possíveis, para não dizer prováveis, furos, incongruências e inverossimilhanças científicas dos eventos narrados. É uma questão menor. Mais vale atentar para o modo como o filme de Ridley Scott matiza e atualiza certas ideias caras à sociedade moderna, como a virtual onipotência da ciência, a teleologia do progresso e da conquista e, talvez ainda mais importante, o feroz individualismo que faz com que consideremos normal investir bilhões de dólares e arriscar a vida de uma porção de gente para salvar um único homem extraordinário, que passa a simbolizar, de certo modo, a humanidade inteira.
“Let’s get our boy back”, a frase dita mais de uma vez, resume um espírito que vem desde os filmes de faroeste, quando um soldado ou caubói ficava para trás em território indígena, e passa pelos dramas de resgate de marines deixados além das linhas nazistas, vietnamitas, japonesas ou árabes. A diferença é que o “inimigo” aqui não é um exército ou um grupo terrorista, mas a própria natureza, o universo, as leis da física e da biologia.
Iluminista e antropocêntrico em sua essência, Perdido em Marte é uma celebração da ciência, de uma crença no poder ilimitado da inteligência humana para domar as forças naturais e colocá-las a seu favor. Não é por acaso que se enfatiza em vários momentos o papel do protagonista como “colonizador”. Até produzir água em Marte Watney consegue, a partir da reciclagem da sucata deixada ali por seus companheiros. É, nesse sentido, o exato oposto do 2001 de Kubrick, eivado de dúvidas e angústias sobre a condição e os limites do homo sapiens. (Ironicamente, o lançamento de Perdido em Marte coincidiu com a divulgação da descoberta de água no planeta vermelho, o que suscitou até especulações um tanto paranoicas sobre um possível conluio entre a Nasa e a promoção do filme.)
Inteligência heterodoxa
Mas a apoteose da ciência tem nuances interessantes aqui. Como já se tornou quase um clichê em filmes de temática científica, a resolução de um problema crucial acaba advindo como que por acaso, graças à inspiração de uma mente heterodoxa, “marginal”. No caso, o jovem e meio aluado astrofísico Rich Purnell (Donald Glover), com seu jeito relaxado de artista de rua ou vendedor de celulares piratas. Perdido em Marte, com isso, reforça a crença de que o sistema – científico, mas também social e cultural – precisa frequentemente do influxo de ideias e ações alternativas, de um pensamento outsider, fora do padrão.

Haveria muito mais a dizer sobre isso, mas cabe chamar a atenção também para uma questão que Ridley Scott ameaça abordar mas deixa, por assim dizer, no meio do caminho: as vertiginosas mudanças de escala temporal e espacial. Todo o terror contido na ideia de que o próximo contato humano do protagonista se dará apenas dali a anos acaba por se diluir na estrutura da narrativa, na montagem dinâmica que contrapõe a vida na Terra ao cotidiano de Watney, bem como na rapidez com que se estabelece (na percepção do espectador, ao menos) a facilidade extrema das comunicações, cujo ápice é a transmissão ao vivo, em praça pública, da tentativa de resgate do astronauta. Sim, vemos Watney ficar barbudo e perder peso, lemos as legendas dizendo quantos dias solares (Sols) se passaram, mas tudo isso chega desprovido de angústia e desconforto ao espectador. A disco music que, assim como o astronauta, somos forçados...[...]