como foi o desempenho dos pracinhas no campo de batalha da italia?
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No apagar das luzes da Segunda Guerra Mundial, entre 1944 e 1945, 25 mil brasileiros lutaram ao lado dos aliados norte-americanos contra efetivos de soldados alemães, em território italiano. Entre eles, 681 militares pernambucanos, todos treinados em um quartel-general ianque montado no Recife. Enquanto as batalhas eram travadas na Europa, Pernambuco vivia tempos de paranoia em relação a ataques aéreos e de racionamento de alimentos e energia elétrica. O povo estava distante do front, mas vivia, assim mesmo, uma guerra de metáfora.
Quando não desconhecida, a atuação da Força Expedicionária Brasileira é cercada de informações imprecisas, às vezes contraditórias. Não é para menos. A própria guerra dificilmente tem as motivações compreendidas. Poucos têm a dimensão de como os desdobramentos daquele período sombrio se prolongam até hoje, 70 anos depois do cessar-fogo. Para pesquisadores, o fim da batalha global não ocorreu em 1945, mas com a queda do Muro de Berlim, em 1989, e a dissolução do império soviético. A movimentação encontra ecos em episódios atuais, como a guerra civil na Ucrânia e a anexação da Crimeia pela Rússia.
A atualidade das discussões em torno do maior confronto bélico da história, com mais de 100 milhões de combatentes, fez o jornalista William Waack, correspondente de guerra em nove ocasiões, revisar e ampliar investigação jornalística feita há 30 anos, em 1985. No livro-reportagem As duas faces da glória (Editora Planeta, 344 páginas, R$ 41), agora reeditado, são apurados os pontos de vista de aliados e inimigos a respeito da atuação da FEB na Itália. Baseado em documentos e entrevistas, ele revela, por exemplo, como a maioria dos alemães desconhecia a atuação dos brasileiros. Do lado norte-americano, havia dificuldade de se compreender o caráter nacional dos pracinhas tupiniquins.
Para o jornalista, foi uma maneira de driblar a “versão oficial” dos fatos, até então somente narrados e interpretados pelos próprios militares. Na época da primeira edição, a obra foi encarada como “provocação” e "tentativa de denegrir as forças armadas”. Ao longo dos anos, as críticas se multiplicaram, vindas também de pesquisadores como o historiador norte-americano Frank McCann (Waack “violentou a verdade histórica”) e o jornalista Bonalume Neto, autor de A nossa segunda guerra (para ele, o livro do colega é “lamentável” e “uma catilinária anti-FEB").
QUARTEL NO RECIFE
No Campo de Ibura, no Recife, um quartel-general norte-americano em funcionamento desde 1942 (United States Army Forces South Atlantic – USAFSA) foi essencial para o nascimento da FEB. Em negociações com os brasileiros, o governo dos Estados Unidos deixou clara a necessidade de os militares daqui serem treinados nos padrões de lá. Era essencial conhecer os aliados como povo, sociológica e antropologicamente, além de ter acesso a treinamento político e técnico-militar. Enquanto isso, o caminho inverso era feito por Carmem Miranda, vista como um pedaço exótico do Brasil nas passagens pela terra do Tio Sam.
FEIJÃO COM SALSICHA
Ex-oficiais alemães entrevistados por William Waack demonstraram total desconhecimento sobre a participação de brasileiros na guerra. Uma exceção foi Klaus Dietrich Polz, segundo-tenente das forças de Hitler. Aos 20 anos, o jovem nazista foi capturado pela FEB em 11 de março de 1945. Depois de receber um prato de feijão com salsicha dos inimigos, não conteve a surpresa ao ver, pela primeira vez, uma pessoa negra. Levou "algumas tapas", mas acabou sendo liberado. Décadas depois, disse ser muito grato aos brasileiros. “Se tivesse sido capturado pelos russos, estaria morto”. O episódio protagonizado pelo veterano nazista havia sido narrado, ainda durante o conflito, pelo escritor e correspondente de guerra Rubem Braga
OTIMISTAS E ANALFABETOS
Antes mesmo de os brasileiros chegarem na Itália, os oficiais norte-americanos já se comunicavam por meio de relatórios a respeito dos novos aliados. Nos documentos, registravam como a diferença entre classes e o preconceito racial tinha reflexo nas forças militares. A maior patente alcançada por um negro era a de major. Também teciam comentários diversos sobre o modo de ser dos latinos. Em abril de 1944, um militar dos EUA descreveu: “As pessoas no Brasil são extremamente hospitaleiras, alegres e otimistas. Conversam de maneira dramática, e expressam suas emoções em palavras fortes. Elas fazem e esperam elogios honestos, mas são rápidas em apanhar insinceridades. Os instruídos (há muitos na classe alta) são inteligentes, mentalmente rápidos e bem informados. O grosso da população, contudo, consiste na classe baixa. Eles são, em larga extensão, analfabetos (...) O brasileiro tem senso de humor e é interessado em música, arte etc. Uma vez que ele se torna seu amigo, tudo o que ele tem é seu”.
Quando não desconhecida, a atuação da Força Expedicionária Brasileira é cercada de informações imprecisas, às vezes contraditórias. Não é para menos. A própria guerra dificilmente tem as motivações compreendidas. Poucos têm a dimensão de como os desdobramentos daquele período sombrio se prolongam até hoje, 70 anos depois do cessar-fogo. Para pesquisadores, o fim da batalha global não ocorreu em 1945, mas com a queda do Muro de Berlim, em 1989, e a dissolução do império soviético. A movimentação encontra ecos em episódios atuais, como a guerra civil na Ucrânia e a anexação da Crimeia pela Rússia.
A atualidade das discussões em torno do maior confronto bélico da história, com mais de 100 milhões de combatentes, fez o jornalista William Waack, correspondente de guerra em nove ocasiões, revisar e ampliar investigação jornalística feita há 30 anos, em 1985. No livro-reportagem As duas faces da glória (Editora Planeta, 344 páginas, R$ 41), agora reeditado, são apurados os pontos de vista de aliados e inimigos a respeito da atuação da FEB na Itália. Baseado em documentos e entrevistas, ele revela, por exemplo, como a maioria dos alemães desconhecia a atuação dos brasileiros. Do lado norte-americano, havia dificuldade de se compreender o caráter nacional dos pracinhas tupiniquins.
Para o jornalista, foi uma maneira de driblar a “versão oficial” dos fatos, até então somente narrados e interpretados pelos próprios militares. Na época da primeira edição, a obra foi encarada como “provocação” e "tentativa de denegrir as forças armadas”. Ao longo dos anos, as críticas se multiplicaram, vindas também de pesquisadores como o historiador norte-americano Frank McCann (Waack “violentou a verdade histórica”) e o jornalista Bonalume Neto, autor de A nossa segunda guerra (para ele, o livro do colega é “lamentável” e “uma catilinária anti-FEB").
QUARTEL NO RECIFE
No Campo de Ibura, no Recife, um quartel-general norte-americano em funcionamento desde 1942 (United States Army Forces South Atlantic – USAFSA) foi essencial para o nascimento da FEB. Em negociações com os brasileiros, o governo dos Estados Unidos deixou clara a necessidade de os militares daqui serem treinados nos padrões de lá. Era essencial conhecer os aliados como povo, sociológica e antropologicamente, além de ter acesso a treinamento político e técnico-militar. Enquanto isso, o caminho inverso era feito por Carmem Miranda, vista como um pedaço exótico do Brasil nas passagens pela terra do Tio Sam.
FEIJÃO COM SALSICHA
Ex-oficiais alemães entrevistados por William Waack demonstraram total desconhecimento sobre a participação de brasileiros na guerra. Uma exceção foi Klaus Dietrich Polz, segundo-tenente das forças de Hitler. Aos 20 anos, o jovem nazista foi capturado pela FEB em 11 de março de 1945. Depois de receber um prato de feijão com salsicha dos inimigos, não conteve a surpresa ao ver, pela primeira vez, uma pessoa negra. Levou "algumas tapas", mas acabou sendo liberado. Décadas depois, disse ser muito grato aos brasileiros. “Se tivesse sido capturado pelos russos, estaria morto”. O episódio protagonizado pelo veterano nazista havia sido narrado, ainda durante o conflito, pelo escritor e correspondente de guerra Rubem Braga
OTIMISTAS E ANALFABETOS
Antes mesmo de os brasileiros chegarem na Itália, os oficiais norte-americanos já se comunicavam por meio de relatórios a respeito dos novos aliados. Nos documentos, registravam como a diferença entre classes e o preconceito racial tinha reflexo nas forças militares. A maior patente alcançada por um negro era a de major. Também teciam comentários diversos sobre o modo de ser dos latinos. Em abril de 1944, um militar dos EUA descreveu: “As pessoas no Brasil são extremamente hospitaleiras, alegres e otimistas. Conversam de maneira dramática, e expressam suas emoções em palavras fortes. Elas fazem e esperam elogios honestos, mas são rápidas em apanhar insinceridades. Os instruídos (há muitos na classe alta) são inteligentes, mentalmente rápidos e bem informados. O grosso da população, contudo, consiste na classe baixa. Eles são, em larga extensão, analfabetos (...) O brasileiro tem senso de humor e é interessado em música, arte etc. Uma vez que ele se torna seu amigo, tudo o que ele tem é seu”.
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