História, perguntado por recartuchosigup9artt, 1 ano atrás

Como fabricar monstros Jornal “A criação de monstros para manipular uma população assustada não é nenhuma novidade. Ela se repete ao longo da história, com resultados tenebrosos, seguidamente sangrentos. Como muitos já lembraram, a Alemanha nazista atacou primeiro exposições de arte. Os nazistas criaram o que se chamou de 'arte degenerada' e destruíram uma parte do patrimônio cultural do mundo. E, mais tarde, assassinaram 6 milhões de judeus, ciganos, homossexuais e pessoas com algum tipo de deficiência. Dê um monstro a uma população com medo, para que ela o despedace, e você está livre para fazer o que quiser. Mas hoje há uma diferença com relação a outras experiências ocorridas na história: a internet. A disseminação do medo e do ódio é muito mais rápida e eficiente, assim como a fabricação de monstros para serem destroçados. Mas a internet é uma novidade também em outro sentido, que está sendo esquecido pelos linchadores: as imagens nela disseminadas estarão circulando no mundo para sempre. A história não conheceu a maioria dos rostos dos cidadãos comuns que tornaram o nazismo e o holocausto uma realidade possível, apenas para ficar no mesmo exemplo histórico. Eles se tornaram, para os registros, o 'cidadão comum', o 'alemão médio' que compactuou com o inominável. Ou mesmo que aderiu a ele. Aqueles que hoje chamam artistas de 'pedófilos' se esquecem de que sua imagem e suas palavras permanecerão para sempre nos arquivos do mundo. Hoje, no caso do Brasil e de outros países que vivem situação parecida, o 'cidadão comum' que aponta monstros com o rosto distorcido e estimula o ódio não é mais anônimo e apagável. Ele está identificado. Seus netos e bisnetos o reconhecerão nas imagens. Seu esgar de ódio permanecerá para a posteridade. (...) A fabricação de monstros é uma forma de controle de um grupo sobre todos os outros. A escolha do 'monstro' da vez é, portanto, uma escolha política. O que se cria hoje no Brasil é uma base eleitoral para 2018. Uma capaz de votar em alguém que controle o descontrole, alguém que 'bote ordem na casa'.Mas que bote ordem na casa sem mudar a ordem da casa. Este é o ponto. (...) A técnica é antiga e segue muito eficiente. Enquanto a turba grita diante de museus (museus!), às suas costas o butim segue sendo dividido entre poucos. Rastreia-se qualquer exposição cultural com potencial para factoides, o que é bem fácil, já que o nu faz parte da arte desde a pré-história, e alimenta-se o ódio e os odiadores com monstros fictícios semana após semana. Aos poucos, a sensação de que o presente e o futuro estão ameaçados infiltra-se no cérebro de cada um. E é um fato. O presente e o futuro estão ameaçados no Brasil porque há menos dinheiro para saúde e educação, porque a Amazônia está sendo roubada e porque direitos profundamente ligados à existência de cada um estão sendo exterminados por um Congresso formado em grande parte por corruptos. Mas como isso está deslocado, parece que a ameaça está em outro lugar. Neste caso, na arte, nos artistas, nos museus. Com o ódio deslocado para um monstro que não existe, homens que pregam e praticam monstruosidades aumentam suas chances de serem eleitos e reeleitos e as monstruosidades históricas seguem se perpetuando. É assim que se cria uma base eleitoral que vota para botar ordem na casa, mas não para mudar a ordem da casa. É assim que oprimidos votam em opressores acreditando que se libertam. É assim que se faz uma democracia sem povo – uma impossibilidade lógica que se realizou no Brasil.” Sobre este documento Título Como fabricar monstros Tipo de documento Jornal Origem Eliane Brum. “Como fabricar monstros para garantir o poder em 2018”. In: El País, 31/10/2017. https://brasil.elpais.com/brasil/2017/10/30/opinion/1509369732_431246.html Créditos Eliane Brum Palavras-chave museus e exposições processo eleitoral história política Alternativas (A) A criação de monstros fictícios para canalizar o ódio e medo da população auxilia a diminuir as tensões e criar condições para a paz social. (B) A criação de “monstros” a partir da instrumentalização de medos, em momentos de crise, é uma estratégia política. (C) O tema da perseguição das artes pelos nazistas é discutido no documentário "A Arquitetura da Destruição", de Peter Cohen, que mostra como o nazismo se consolidou. (D) O texto argumenta que enquanto muitos dos apoiadores do nazismo permaneceram no anonimato, a internet possibilitará identificar no futuro muitas das posturas assumidas publicamente pelos internautas.

Soluções para a tarefa

Respondido por maarigibson
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A alternativa correta é a B.


O texto discorre sobre as ferramentas de manipulação política que são usadas durante toda a história, principalmente a criação dos “monstros”, ou inimigos públicos, que desviam a atenção da população dos problemas principais.


O desvio de atenção é intencional, pois assim as pessoas não prestam atenção nos problemas estruturais, somente nas consequências deles, sem nunca focar na causa. Diversos estudiosos modernos tratam do tema, como Noam Chomsky e Pierre Bourdieu.

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