Como era o trabalho dos griôs?
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Resposta:
A palavra griô tem origem na tradição oral africana, utilizada para designar mestres portadores de saberes e fazeres da cultura, esses transmitidos oralmente. Segundo a griô Adwoa Badoe, entre os povos do oeste da África, os griôs são aqueles que há séculos preservam e transmitem as histórias – principalmente as que se referem aos grandes líderes e à formação dos reinos, mas também às pessoas comuns. Tradicionalmente, os griôs contavam a história de seu povo na forma de poemas ou canções. Com o passar do tempo e com as mudanças que se processaram nas sociedades africanas, as maneiras de contar as histórias e mesmo alguns de seus episódios foram sendo alterados, de maneira a adaptar as narrativas tradicionais ao mundo contemporâneo.
Contadores de histórias, mensageiros oficiais, guardiões de tradições milenares: todos esses termos caracterizam o papel dos Griots, que na África Antiga eram responsáveis por firmar transações comerciais entre os impérios e comunidades e passar aos jovens ensinamentos culturais, sendo hoje em dia a prova viva da força da tradição oral entre os povos africanos.
Utilizando instrumentos musicais como o Agogô e o Akoting (semelhante ao banjo), os griots e griottes estavam presentes em inúmeros povos, da África do Sul à Subsaariana, transitando entre os territórios para firmar tratados comerciais por meio da fala e também ensinando às crianças de seu povo o uso de plantas medicinais, os cantos e danças tradicionais e as histórias ancestrais. Diferente da civilização ocidental, que prioriza a escrita como principal método para transmissão de conhecimentos e tem historicamente fadado povos sem escrita ao âmbito da “pré-história”, em sociedades de tradição oral a fala tem um aspecto milenar e sagrado, e deve-se refletir profundamente antes de pronunciar algo, pois cada palavra carrega um poder de cura ou de destruição.
Nesse sentido, os Griots são os guardiões da palavra, responsáveis por transmitir os mitos, as técnicas e as tradições de geração para geração.
Cena do filme Kiriku/Reprodução
O termo “griot” tem origem no processo de colonização do continente africano, sendo a tradução para o francês da palavra portuguesa “criado”. Durante o processo de colonização da costa africana a partir do século XIV, com a progressiva construção de fortes portugueses que funcionavam como entrepostos comerciais, o Reino de Portugal realizava comércio com Reinos africanos como Kongo, Mali e Songhai. Esses primeiros contatos já transformavam tanto as culturas africanas como a nação de Portugal, mas acabaram levando a muitos reinos à desestruturação cultural. Com o tráfico de escravizados e o processo de Neocolonização do século XIX, países como França, Bélgica e Alemanha adentraram os territórios africanos, contribuindo para essa desestruturação.
Um griot se aprensentando em Camarões(Foto © Prosper Pérez/WikiCommons)
Entretanto, até os dias de hoje os Griots seguem em seu papel de guardiões da tradição, estando presente em muitos lugares da África Ocidental, incluindo Mali, Gâmbia, Guiné e Senegal, e entre os povos Fula, Hausá, Woolog, Dagomba e entre os árabes da Mauritânia.
Aqui no Brasil, podemos ver semelhanças entre os Griots e os repentistas, que também se utilizam da oralidade para transmitir cultura.
Em sociedades marcadas pela escravidão, os sujeitos foram historicamente considerados meros “objetos” sem memória. Nesse sentido, é importante relembrarmos a importância da memória para esses povos, sendo os Griots a manifestação viva de uma memória transmitida de geração em geração.