como era as brincadeiras dos escravos
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Nas casas-grandes era costume do menino branco receber um ou mais moleques negros como companheiros de brincadeira que lhe serviam como cavalo de montaria, burros de leiteira, de carro de cavalo, em que um barbante serve de rédea, um galho de goiabeira de chicote. Os meninos brancos reproduziam nas brincadeiras as relações de dominação da escravidão. Eram os “manés-gostosos”, os “leva-pancadas”
Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis retrata as relações perversas entre o menino branco e o seu moleque: Prudêncio, um muleque de casa, era o meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa de freio, eu trepava-lhe ao dorso, com uma varinha na mão, fustigava-o, dava -lhe mil voltas a um e outro lado, e ele obedecia – algumas vezes gemendo – mas obedecia sem dizer palavra, ou, quando muito, um “ai, nhonho”! – ao que eu retorquia: — “Cala a boca, besta”!
Além desse folguedo, era comum o “jogo do belisco”, brincadeira de roda que, no final da cantoria, dizia “que lá vai um beliscão”; então, a última criança a ser atingida levava um beliscão; esse
era forte nos moleques e brandos nos sinhozinhos. Nos jogos de pião e soltar papagaio notavam-se resquícios do sistema escravagista: Mesmo no jogo do pião e no brinquedo de empinar papagaio, achou jeito de exprimir o sadismo do menino das casas-grandes e dos sobrados do tempo da escravidão, através das práticas, de uma aguda crueldade infantil, e ainda hoje corrente no Norte, “de lascar-se o pião” ou de “comer-se o papagaio” do outro; papagaio alheio é destruído por meio da lasca, isto é, lâmina de vidro ou caco de garrafa, oculto nas tiras de pano de rabo.
As meninas, ao brincarem os jogos de faz-de-conta, reproduziam a vida do engenho, onde as meninas negras eram tratadas como servas pela sinhazinha. Segundo Kishimoto.
O jogo simbólico auxiliava as meninas, tanto branca s como negras, a compreenderem a trama de relações de dominação da época e funcionava como mecanismo auxiliar para a incorporação dessas relações. A menina escrava, desde pequena, em seu papel de servir a senhora branca, obedecer lhe: e a menina branca, em seu posto de mando, de administradora de negras escravas.
Longe da vigilância dos adultos e sob as regras infantis, essa relação se invertia, principalmente nos jogos de piao, papagaio, matar passarinho com bodoque, subir em árvores, nos quais a liderança era dos moleques negros, prevalecendo as habilidades do jogador, como conta José Lins do Rego (1969, p. 56) em Menino de Engenho:
O interessante era que nós, os da Casa-Grande, andávamos atras do moleque. Eles nos dirigiam, mandavam mesmo em todas as nossas brincadeiras, porque sabiam nadar como peixes, andavam a cavalo de todo jeito, matavam pássaros de bodoque, tomavam banho a todas as horas e nao pediam ordem para sair para onde quisessem. Tudo eles sabiam fazer melhor do que a gente; soltar papagaio, brincar de piao, jogar castanha. Só nao sabiam ler. Mas isto, para nós, tambem nao parecia grandec oisa. Queríamos viver soltos, com o pé no chão e a cabeça no tempo, senhores da liberdade que os moleques gozavam a todas as horas. E eles às vezes abusavam desse poderio, da fascinação que exerciam. Pediam para furtar coisas da casa-grande ara eles: laranjas, sapotes, pedaços de queijo. Trocavam conosco os seus bodoques e os seus piões pelos gêneros que roubávamos da despensa.
Gilberto Freyre constata que, nesse período, existiam duas representações para os meninos da casa grande: o menino-diabo e o menino-homem.
A primeira manifestava-se nas brincadeiras infantis, durante as quais o moleque, o menino negro era alvo das pancadarias e dos maltratos; a segunda quando a criança atingia a puberdade era obrigada a vestir-se e comporta-se como adulto. Essa adultização precoce da infância levou os viajantes estrangeiros afirmarem que no Brasil daquele tempo era um país sem crianças: