como é o narrador do texto(historia de sonho)?? destaque um trecho que
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7
Texto 4 - História de sonho
Rachel de Queiroz
Esta noite sonhei com Portugal. Queria saber contar sonhos, porque foi um sonho bonito. O medo que a gente
tem (embora na aparência se trate apenas de um sonho inocente e até lírico), o medo são os amigos interpretadores,
capazes de tirar uma história de sete cabeças do sonho mais inofensivo. [...]
Pois como dizia, sonhei com Portugal. Não via mapa, nem letreiro, nem explicação formal, mas que era Portugal,
não tinha dúvida. A gente ia num barco por um rio tranquilo, muito largo e com pedras à margem. E aos poucos se
avistava uma cidade ou aldeia com casas antigas, abarracadas, subindo um morro; e eram tantos os pomares que de
repente o rio se afundava entre as árvores e se virava num riachinho à toa; depois já não tinha riachinho, nem barco,
nem nada, a gente estava dentro de uma das casas do lugar, na sala grande com móveis pesados de talha, e umas
cortinas vermelhas de veludo. E na sala estavam duas velhas e um velho, sendo que uma delas se sentava numa
cadeira de balanço e tinha um gato branco no colo. Os três falaram comigo, e eu sei que me sentia mal por haver
penetrado ali naquela sala particular e tão tranquila sem pedir licença, mas a velha de pé me tranquilizou ― talvez
dissesse que era costume receber turistas; a velha sentada não dizia nada, continuava se embalando e sorrindo.
Depois os três iniciaram uma história, mas era muito aflitivo porque eu não conseguia entender quase nada do que
eles diziam; só me dava a impressão de que era fala das fitas de cinema português, cujo diálogo a gente nunca sabe se
compreende tão mal porque é mesmo difícil de entender a língua deles ou se é porque o aparelho de som está ruim.
Aliás, lembrando bem, eles falavam mesmo com voz de cinema, tinha até uma música de fundo. E aí eu perguntava à
senhora da cadeira de balanço quanto é que custava uma casa naquela aldeia ― assim bonita e antiga como aquela. E
ela respondeu um preço que não me recordo, mas que achei muito barato; se bem que a velha falasse em escudos ―
mas decerto no sonho eu entendia de câmbio de escudos, porque só o que me espantou foi a barateza do preço. Fiz
então umas contas de cabeça, calculei que vendendo isto e aquilo aqui no Brasil dava para comprar aquela casa. Sim,
aquela. Com a intensidade maior da minha vida, embora eu não tivesse coragem de o dizer às velhas, assaltara-me a
cobiça de ser dona da casa delas, daquela e nenhuma outra ― com aqueles móveis, e a pequena escada sumida na
sombra da sala grande, e os três velhos e a cadeira de embalo com o gato branco. [...].
Nesse ponto o sonho entrou a escurecer e a confundir, esfumou-se em fade out , e não sei se acordei logo, ou se
caí num sono pesado e sem consciência de nada. Só sei que me levantei de manhã com o mesmo desejo no coração, e
por mais que as horas se passem ainda tenho presente na lembrança as mãos claras da velhinha e vista que se
enxergava da janela e o soalho da casa de tábuas areadas e bem largas.
Conto este sonho à toa. Mesmo porque, diz que é tolice contar sonho. Mas diz também o povo que a gente não
contando ele não acontece. E a verdade é que eu queria satisfazer este sonho, descobrir aquela casa, aquele
rio, aquelas velhas. E conversar outra vez com elas [...] .
Também ninguém pense que estou inventando um apólogo, que no fim haverá uma moral ou uma explicação. É
um sonho e nada mais, naturalmente anárquico e sem sentido. Já falei que o conto à toa - fazendo um papel que
nunca fiz, imagine contar sonho, tanta tolice sem sentido. Mas me deixou melancólica e cheia de saudades, incapaz de
escrever coisas sensatas, como seria da minha obrigação.[...]
E por falar em sonho...
Explicação:
Me Ajudaaa