Lógica, perguntado por julianafruck1, 8 meses atrás

como é feita a transmissão da religiosidade indígena

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Respondido por lorraynerodrigues136
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Resposta:

Ao longo do tempo, com as configurações e a formação dos terreiros de Catimbó, Jurema, Terecô, Xangô, Amolokô, Candomblé, Umbanda e outros, os caboclos se tornaram entidades primordiais nesses cultos, chegando é se tornar quase impossível a distinção entre o que é africano e o que é indígena nesse culto aos caboclos.

Ocorreu também, eu outras medidas, a cristianização dos povos indígenas. Os índios brasileiros, em grande parte, aceitaram muito bem a doutrina cristã como referência religiosa. O princípio da caridade, do perdão, do amor ao próximo e incondicional, do fazer o bem sem ver a quem, foram princípios aos quais os indígenas se identificaram com facilidade, principalmente por parte dos Pajés e Caciques que eram os responsáveis pela organização política e social das comunidades indígenas.

Em todo o processo de sincretização religiosa, ou seja, da mistura das tradições religiosas, a participação da tradição indígena, essencialmente brasileira, se deu na figura do caboclo. Ou seja, dentre todas as religiões e manifestações existentes no Brasil, a contribuição e a representação do que é realmente nosso, estão nos Caboclos.

No caso dos Candomblés de nação, a preservação do culto aos Caboclos se dá em diferentes graus por uma questão histórica. Os povos Bantu, provenientes da atual região do Congo e Angola, foram os primeiros a desembarcarem no Brasil na condição de escravos. Ainda no séc. XVI (a partir de 1530) as fugas ocorridas logo que os primeiros navios negreiros aqui aportaram, deu início, no interior de nossas florestas e campos, a formação dos quilombos e o constante contato entre estes e os povos locais, os indígenas. Portanto, nos candomblé de nação Angola o culto aos caboclos é mais tradicional, profundo e presente do que nos candomblés de nação Ketu. Isso porque a candomblé Ketu é proveniente do povo Yorubá. E quando os Yorubás chegaram ao Brasil em meados do séc. XVIII (1750) existia um ambiente mais urbano os permaneceram muitos desses africanos e onde surgiram as primeiras casas de Candomblé de Nação Ketu (Salvador). Além disso, nessa época já adiantada de nossa colonização, a presença de indígenas era muito menor nessas regiões de fazendas de cana de açúcar, cacau, gado, café e minas de ouro para onde se direcionavam a mão-de-obra escrava. Isso quer dizer que, o contato dos Yorubás com os indígenas se deu em menos grau e intensidade em relação ao bantus. Porém esse contato ocorreu e gerou influências e sincretismos.

Tal questão gera uma polêmica entre defensores das tradições candomblecistas. Afirma-se, em determinada linha de pensamento, que na tradição Ketu não se deve cultuar os chamados catiços (exus, pombogiras, caboclos), pois isso foge à tradição Ketu uma vez que os Yorubás cultuavam apenas os Orixás. Porém isso gera uma contradição, pois se fossemos preservar as tradições Yorubás literalmente não haveria nem mesmo o candomblé em seu formato atual, pois isso não existia na África. Além disso, o próprio candomblé Ketu é fruto de um complexo sincretismo ocorrido no Brasil. E nele há fortes influências Bantu, indígena e até cristã (em menor grau). O sincretismo que gerou o Candomblé enquanto religião específica tipicamente brasileira é de tamanha complexidade que se tornou quase impossível delimitar e classificar as matrizes específicas que deram origem a cada ritual e cada concepção do culto. Outro fator que também gera uma contradição à questão se encontra no princípio da ancestralidade. Se nosso povo é proveniente da mistura étnica a ancestralidade indígena deve ser cultuada e preservada uma vez que compõe a nossa ancestralidade.

Há também o conhecimento sobre as folhas e outros elementos locais que foram integrados aos rituais do candomblé a partir do conhecimento indígena, mesmo na nação Ketu. Desse modo, mesmo que seja praticado em menor grau, o culto aos caboclos é algo que faz parte do nascimento do candomblé, inclusive o de Ketu. Portanto não é uma contradição que as casas de Ketu mantenham vivos o culto aos caboclos. É, pelo contrário uma obrigação, visto a contribuição indígena e à ancestralidade presente em nossa composição enquanto povo brasileiro. Contudo é importante destacar que a origem desse culto dentro dos candomblés se dá no seio dos quilombos formados pelos povos bantu, tanto que nas cantigas e rezas de caboclo a língua bantu se faz tão presente quanto a língua portuguesa, em maior grau até mesmo do que a língua Tupi-guarani.

Outro fator de importante destaque é a forte presença do cristianismo, especialmente o catolicismo popular com seus santos e rezas no culto aos caboclos. E isso se deve, como já citado, à forte aceitação do cristianismo católico por parte dos indígenas, que por sua vez não abandonaram a concepção espiritualista que lhe é original.

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