Como é a saúde pública no continente americano?
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Explicação:Quais são as principais recorrências e permanências que encontramos na história da Saúde na América Latina?
Marcos Cueto: Identificamos principalmente quatro características que atravessam a história da saúde no continente. Em primeiro lugar, a medicina e as práticas de saúde aqui decorrem de uma mistura de muitas culturas diferentes. Isso é um diferencial em relação a outras regiões do mundo. Aqui, a medicina europeia se misturou com a medicina indígena e a de outras regiões, como a africana e a chinesa. Essas compreensões híbridas, mestiças sobre a saúde são uma marca do continente. Em segundo lugar, é recorrente que a saúde pública, a saúde oficial, nasça como um remendo para emergências. Não se trata de uma saúde pensando no futuro ou a longo prazo. A esse padrão definimos como uma cultura de sobrevivência. Não é feita para planificar, mas sim controlar epidemias, por exemplo. Por outro lado, um terceiro padrão que encontramos é um grupo de sanitaristas que pretendiam fazer uma saúde mais popular, mais coletiva, como por exemplo aqui no Brasil o Sérgio Arouca, mas cada país tem um personagem parecido que procurava uma saúde mais coletiva e isso chamamos a saúde na adversidade. Por último, em geral, a medicina híbrida ou a cultura de sobrevivência não conseguiu ter um projeto de longo prazo. Então, a descontinuidade é um fator recorrente na história da saúde da América Latina. Não acabar os projetos não é um defeito de nós, mas isso é parece às vezes como uma vocação, não terminar as coisas. Acho que são os padrões principais que encontramos.
O senhor falou em vocação para descontinuidade. O senhor poderia explicar melhor o que seria isso?
Marcos Cueto: Vou colocar alguns exemplos. Nos anos 1950, a prioridade na pauta em saúde era a erradicação da malária. Em 1955, acreditava-se que a malária seria erradicada em cinco ou oito anos. Quando chegou esta data e a malária não foi erradicada, o assunto mudou e o foco já não era mais aquele. Esse padrão se verifica em todos os países da América Latina – assim como em muitos do mundo. Em 1978, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decidiu em uma conferência internacional que seu alvo era “saúde para todos no ano 2000”. Em 1999, já estava claro que esse objetivo não seria alcançado. Mas, imediatamente, começaram a aparecer relatórios que diziam “Saúde para todos no século 21”.
E nos últimos anos, por exemplo, quando apareceram os antirretrovirais para a Aids, havia a proposta de três milhões de antirretrovirais para toda a população do mundo no ano de 2005. E não se chegou nessa meta. E então se mudou para um novo programa. Mas por que se faz isso? Tem a ver com um peso muito forte da política nas decisões técnicas em saúde, e também porque nós nos habituamos a este comportamento circular de não acabar o projeto. De pensar que está bem em não concluir uma iniciativa; que, quando estamos por chegar a um prazo, não fazemos um exame do que aconteceu e imediatamente já aparecemos com outro projeto.
Outro dos conceitos mencionados é o pluralismo médico. Qual a história deste pluralismo? Sua trajetória foi marcada por quais tensões? Ele pode ser verificado ainda hoje?
Marcos Cueto: Sim, o pluralismo médico se verifica ainda hoje – ainda que, em alguns países, mais que em outros, como Bolívia, Peru, Equador, Guatemala, por exemplo, que têm uma população indígena mais forte. No Brasil, essa influência é menos presente, mas ainda assim há alguma coisa. Por muito tempo, havia duas posições a respeito da medicina indígena: em primeiro lugar, uma posição oficial de perseguição. Em muitos países, até quase o fim do século 20 era ilegal praticar a medicina indígena ou outra forma de medicina além da oficial, como a homeopatia. Por outro lado, as escolas médicas oficiais não produziam a quantidade de médicos que os países precisavam, então na prática acabava fazendo-se um acordo entre o praticante da medicina ocidental europeia e o praticante da saúde não oficial, como médicos indígenas.
Etc..