Artes, perguntado por geskianepm12, 6 meses atrás

Como chamamos os territórios de cada campo artísticos e as suas interseções?​

Soluções para a tarefa

Respondido por rhanyasilva31
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Tbm tava com dificuldade nessa perguntar o menino me passou essa resposta

Os novos valores estéticos que se desenvolviam nas discussões da época, entretanto, eram contraditórios com a própria organização da recém-formada rede de instituições que começavam a configurar o campo internacional de artes plásticas, incluindo a Aica. A ambigüidade dos ideais da Unesco com relação à idéia de nação estava presente no texto de sua constituição. Se por um lado a ideologia da Unesco pretendia superar os nacionalismos procurando fugir das classificações nacionais, seu sistema administrativo era nacionalmente estruturado e, além disso, seu incentivo à cultura e à arte era expresso através de um discurso que defendia as identidades, não estritamente nacionais, mas também essas.

A relação da Aica com a Unesco e o contexto geopolítico do segundo Pós-Guerra constituíram um terreno fértil para que se levasse adiante as discussões estéticas que haviam sido inauguradas há mais de um século. A Unesco era uma instituição que pretendia fazer uma política de diplomacia entre Estados nacionais no âmbito da cultura, minimizando certas fronteiras nacionais. A Aica, por sua vez, estava ligada a uma esfera social, o fenômeno artístico, cujo discurso se desenvolveu a partir de conceitos como "atenção desinteressada" e "distância estética" (Osborne, 1993, p. 138), que vinham construindo a idéia de universalidade da fruição estética e, com ela, da própria arte. Portanto, a tentativa de desvincular os objetos artísticos de questões temporais e territoriais não era nova na segunda metade do século XX.

Já no final do século XVIII "foi o conflito entre a crença num padrão universal de gosto e o reconhecimento de que o sentimento e a emoção são essenciais à apreciação estética que preparou o palco para o sistema lógico de Kant, a primeira filosofia sistemática da Estética" (Osborne, 1993, p. 154). Se, por um lado, essas questões já estavam sendo discutidas pelos filósofos desde o século XVIII (Osborne, 1993) e o artista teve durante o processo revolucionário francês um terreno propício para se desenvolver enquanto categoria profissional autônoma, por outro, é após a Segunda Guerra Mundial que a realidade empírica de um mercado internacional de arte propiciou as condições para que se recolocassem questões como a temporalidade e a territorialidade da produção estética.

A negação dessas temporalidades e territorialidades estava relacionada à rejeição de noções como nação, nacionalismo e identidade nacional, eixos em torno do qual se construiu a idéia de uma arte brasileira (e mexicana, neozelandesa, entre outras). A noção de universalismo na arte poderia então nesse período ser associada aos processos de sistematização de teorias sociais que ultrapassassem o conceito de Estado nacional. Mesmo que a institucionalização do fenômeno artístico no interior de cada país tenha se organizado a partir da aliança entre cultura, raça, língua e território.

Do final do século XIX à primeira metade do século XX o modernismo artístico contribuiu para o estabelecimento de símbolos e padrões comuns a partir dos quais a troca entre os Estados nacionais podia se organizar com base em noções compartilhadas. Esses símbolos, apesar de terem significados diferentes em cada contexto social, partiam de princípios que facilitavam a comunicação comercial entre os Estados nacionais. No período imediatamente anterior ao desenvolvimento e disseminação do rádio, cinema e televisão, a produção artística era ainda uma ferramenta administrativa poderosa para a "troca cultural", nivelando as identidades/culturas/sociedades nacionais não pela homogeneização, mas pelo estabelecimento de padrões básicos a partir dos quais se criaram variações comunicáveis entre si. Sheila Leirner, curadora das 18ª e 19ª bienais de São Paulo, menciona o poder de produção de "personalidades" que as artes plásticas tinham na metade do século XX: "Nos anos 1950, 1960 e mesmo no começo dos anos 1970, as singularidades e as personalidades individuais falavam mais alto e o mundo das artes fabricava estrelas tanto quanto Hollywood." (Para Sheila Leiner, 2006).

Mauss (2002, p. 15, tradução minha) argumenta sobre a noção de pessoa que "a arte de todas as classificações é não somente de conduzir à religião, mas também de definir a posição do indivíduo nos seus direitos, seu lugar na tribo, assim como nos seus ritos". Se os nomes são distribuídos de acordo com os mitos de origem dos clãs, as categorias de classificação estilísticas em arte se modificam ao longo do tempo como forma de criar novos grupos sociais. No entanto, no caso do fenômeno artístico modifica-se a cada novo critério de classificação a própria noção do que é ser moderno, autêntico ou mesmo artista.
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