“Como atestar uma identidade? Uma das vias possíveis são os documentos oficiais. Quem foi Clarice Lispector, segundo a versão oficial dos documentos que ficaram? A história dessa identificação poderia começar com uma certidão de nascimento expedida na Ucrânia, por ocasião do nascimento de Clarice. Mas não existe no Brasil cópia desse documento. E teria ele existido mesmo?
Quando a família Lispector já residia no Rio de Janeiro, o pai, Pedro Lispector, solicita ao juiz uma 'justificação de idade da filha, nascida na Rússia, cidade de Tchetchelnik, no dia 10 de dezembro de mil novecentos e vinte' e que ela é filha do requerente, Pedro Lispector, e de Marieta Lispector. Sob a alegação de que a filha não tem documento, o pai tenta, assim, comprovar oficialmente que sua filha existe.
Se vieram como imigrantes, é possível que tenham vindo sem documentos. E que, nesse caso, a certidão russa original tenha ficado por lá. Se aqui chegaram sem qualquer documento oficial, a entrada também teria sido possível, já que, nesse caso, a polícia brasileira costumava aceitar os dados de informação que os imigrantes lhes passavam, por ocasião da entrada no país. Será que as cinco pessoas que formavam a família Lispector teriam viajado sem as certidões de nascimento e passaportes oficiais?
(...)
Nas duas últimas décadas de vida, Clarice adota diferentes datas de nascimento. Embora alguns documentos seus continuem fiéis ao ano de 1920 e embora a crítica adote, durante longo tempo, o de 1925, Clarice registra as de 1921, 1926, 1927...
(...) ... lá nos anos 70, quando indagada a respeito de sua data de nascimento, faz questão de não precisar número. Em entrevista, afirma, categórica: Nasci na Ucrânia. Quando?... não, não quero dizer.
E no documento que transcreve a carteira de identidade para estrangeiro, em que deveriam figurar os dados da origem, no ano de 1943, consta o seguinte:
Data do embarque (em branco) – Embarcação (em branco) – Porto (em branco) – Passaporte nº (em branco) – Expedido em (em branco) – Visado pela autoridade consular brasileira em (em branco) – sob nº (em branco). Rio de Janeiro, 18 de outubro de mil novecentos e quarenta – Assinatura ilegível do Chefe de Serviço – Ministério da Justiça e Negócios Interiores da Polícia Civil do Distrito Federal – DGI – Instituto de Identificação.
Como preencher os espaços em branco da viagem? Clarice, que se delineia por uma existência oficial não confiável – com dados parcos e controvertidos - , começa aqui a se delinear, a cada item de identificação, no espaço reservado entre parênteses, por aquilo que dela não sabemos.”
A partir da leitura do trecho acima, podemos afirmar que:
Alternativas
(A) A biografia de Clarice Lispector é um exemplo de como histórias podem ser reconstruídas também a partir das lacunas e dos silêncios.
(B) Relatos orais e documentos oficiais são algumas das fontes que podem ser utilizadas por pesquisadores para reconstruir trajetórias de vida.
(C) A busca pela reconstrução de uma identidade ucraniana é marca importante das primeiras produções literárias de Clarice Lispector.
(D) O momento em que a família Lispector chega ao Brasil marca uma inflexão nas levas migratórias; aos grupos anteriores de italianos e alemães, vieram se somar imigrantes vindos do Japão e do Leste Europeu.
Soluções para a tarefa
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A alternativa A é uma das ideias com a qual o texto se debate, mas podemos dizer que é uma alternativa falsa na medida em que não há, propriamente, uma construção da biografia de Clarice partindo de uma série de lacunas, ficando muito mais na imaginação que na construção de uma narrativa.
A alternativa B é verdadeira e é sustentada por algumas passagens do texto, assim como a preocupação do texto pela busca da reconstrução da biografia, e a impossibilidade de fazê-lo, consultando os documentos oficiais.
A alternativa C é falsa e não diz respeito às ideias defendidas no texto.
A alternativa D é incorreta, tendo a onda de imigração Japonesa começado em 1908, antes da imigração dos pais de Clarice, que não foram parte de um grande movimento migratório do leste europeu em direção ao Brasil, coisa que não ocorreu nesta época, e tendo pouca relação com aquilo que é abordado no texto,
A alternativa B é verdadeira e é sustentada por algumas passagens do texto, assim como a preocupação do texto pela busca da reconstrução da biografia, e a impossibilidade de fazê-lo, consultando os documentos oficiais.
A alternativa C é falsa e não diz respeito às ideias defendidas no texto.
A alternativa D é incorreta, tendo a onda de imigração Japonesa começado em 1908, antes da imigração dos pais de Clarice, que não foram parte de um grande movimento migratório do leste europeu em direção ao Brasil, coisa que não ocorreu nesta época, e tendo pouca relação com aquilo que é abordado no texto,
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