Filosofia, perguntado por sh9108676, 10 meses atrás

Como as teorias de Platão e Aristóteles se relacionam ao debate de Heráclito e Parmênides sobre a natureza da realidade

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Respondido por jessicahengen
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Resposta:

A filosofia grega que sucede Heráclito e Parmênides acaba por vê-los como opostos um

ao outro. Heráclito seria o defensor de um mobilismo radical. Parmênides teria propugnado

um imobilismo radical. Esta oposição aparece claramente no diálogo platônico Sofista, no

qual o filósofo ateniense mostra a impossibilidade de reduzir o ser ao movimento (como

queriam, segundo Platão, os discípulos de Heráclito) ou ao repouso (como queriam os

eleatas). Na realidade, Platão apresenta a oposição entre Heráclito e Parmênides para poder

superá-la através de sua própria filosofia, algo que, como veremos abaixo, já fora tentado,

antes dele, por Empédocles, Anaxágoras e Demócrito.

Heráclito havia explicitado a necessidade de se conceber uma unidade na

multiplicidade, unidade que possuía diversos nomes e determinações e que permitia

entender não apenas a multiplicidade, mas que permitia supor uma medida para todas as

transformações. Parmênides estabelece o vocabulário do ser ou ente como base para toda a

filosofia posterior, determinando as características do ente como diversas daquelas dadas na

percepção. Na realidade, não podemos dizer que o pensamento sobre o ser, tal como

instituído por Parmênides, estivesse já presente nos seus antecessores. Isso dá uma mostra de

quão impactante para a filosofia grega foi a introdução dos conceitos de ser e ente e de uma

metodologia axiomática na filosofia.

No caso de Heráclito, seu estabelecimento do conceito de unidade na multiplicidade está

diretamente ligado aos pensadores anteriores, que já pensavam a natureza a partir do par

unidade-multiplicidade. A física dos primeiros jônios, a matemática e a física matematizada

de Pitágoras e seus primeiros discípulos, bem como a teologia de Xenófanes operavam

explicitamente com os conceitos de unidade e multiplicidade, mas ainda não os haviam

tematizado como viria a fazer Heráclito. Vemos, com esta breve narrativa histórica, que

Heráclito completa uma tradição já existente, mas que Parmênides institui e agrega a esta

tradição o vocabulário e os esquemas conceituais do ser (einai/emmenai) e do ente (on/eon).

Com Parmênides e posteriormente (de modo ainda parcial) com Platão e especialmente com

Aristóteles, a henologia (a teorização sobre a unidade e seus conceitos correlatos) acaba por

se tornar parte integrante da ontologia, pois as determinações henológicas (unidade,

inteireza, continuidade, indivisibilidade, identidade) não são mais agora determinações da

ordem total da natureza, mas determinações do ser ou ser.

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