como as construções a beira mar poderão ser afetadas?
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Resposta:
Especialistas em gerenciamento costeiro têm proposto que uma faixa de cinquenta metros a duzentos metros de distância da praia seja deixada livre de construções, como medida de segurança”. Isso por causa das evidências de que todo o gelo contido na península Antártica, que corresponde a mísero meio por cento do que existe no continente Antartida, se derretesse, seria capaz de causar uma elevação de meio metro no nível médio do mar no planeta. E há motivos para se acreditar que isso pode acontecer. A península Antártica talvez seja o lugar do planeta que mais esquentou no último século.
Talvez seja um jeito estranho de começar um texto que pretende apresentar para os leitores um livro novo. Mas, enquanto lia, não pude evitar um espanto diante do aparente menosprezo das autoridades municipais aqui do Rio pelo que a ciência – nada menos do que isso – vem alertando. Claudio Angelo, jornalista que há década e meia vem acompanhando com lupa científica o debate em torno das mudanças climáticas, dedicou três anos de sua vida para escrever esse livro. Sim, ele fez o dever de casa direito. No jargão jornalístico diz-se que uma reportagem está “redonda” quando ela está bem embasada, com informações consistentes e quando o repórter fez entrevistas com pessoas que sabem do que estão falando. Pois o livro de Angelo está redondo.
Infelizmente, porém, não são apenas as autoridades municipais do Rio que preferem fechar os olhos aos anúncios de que cada vez mais será preciso se adaptar às mudanças que já estão surgindo. Um dos comentários recorrentes ao dia seguinte da assinatura do Acordo de Paris é que nenhuma atenção foi dada ao discurso da presidente Dilma sobre o tema que, efetivamente, a levara a Nova York. Nem por parte da mídia, nem por parte da opinião pública. A crise política, as tratativas de um partido que quer o poder sem passar por eleições, roubaram a cena.
Mas, vamos ao conteúdo do livro. Angelo vai, literalmente, do Ártico à Antartida, conversando com cientistas e técnicos de diversos segmentos para mostrar que os impactos das atividades humanas já estão sendo sentidos nos dois polos, com ramificações que se espalham pelo mundo e, sim, chegam a nós, brasileiros.
“A espiral descendente do gelo e da neve no Ártico nos últimos anos pode já estar impactando de forma negativa uma coisa que todo brasileiro conhece melhor do que gostaria: o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA, nossa principal medida de inflação”, escreve o autor.
A explicação científica para este fenômeno é um pouco mais complicada, mas o resultado pode ficar bem claro até para os leigos. Uma onda de calor fortíssima assolou a Rússia em 2010, e os cientistas apontam uma forte ligação entre esse fenômeno e a mudança nos ventos que acompanha o degelo do Oceano Ártico. Por causa do calor, incêndios devastaram as florestas russas e milhões de hectares de lavouras de trigo foram perdidos, o que elevou o preço da comida no mundo inteiro. No Brasil, o IPCA fechou em 5,9%, puxado pelos alimentos, contra 4,31% no ano anterior.
Outro exemplo: uma seca recorde nos Estados Unidos em 2012, causada por uma redução dramática da cobertura de neve no hemisfério norte, provocou naquele país uma quebra também inédita de safra, que elevou o preço desses grãos no mundo todo e fez o Brasil assumir a dianteira da produção mundial de soja. Como efeito colateral, o desmatamento na Amazônia disparou na segunda metade de 2012, “crescendo mais de 200% em setembro e levando a taxa anual de 2013 à sua primeira elevação em cinco anos: 28%”.
Entre entrevistas e longos estudos, uma das conclusões que Claudio Ângelo nos leva a tirar é que “o que acontece nos polos impacta diretamente os trópicos e vice-versa”. A metáfora usada pelo cientista norte-americano Wally Broecker é forte: as surpresas climáticas reveladas pelo gelo polar e outros indicadores causam no homem o mesmo sentimento que ele teria se atravessasse uma autoestrada com uma venda nos olhos.
“Ele não sabe de onde vem a pancada. Vamos ser atingidos, mas não sabemos como... Só descobrimos que há mais e mais coisas que precisamos saber e que não sabemos. Mais e mais coisas que podem acontecer sobre as quais nunca pensamos. Mas não temos escolha. A escolha é um monte de gente passar fome”.