como a população do Rio de Janeiro interpretou a sigla P.R.marcada nas casas que deveriam ser desocupadas com a chegada da Corte portuguesa,em 1808 ?
Soluções para a tarefa
Em 1807 a Europa estava em guerra. Napoleão Bonaparte assumira o comando do Exército Francês para colocar ordem no caos que se transformara seu país, após a Revolução que derrubou o regime monarquista. Napoleão enfrentou com mão de ferro as alianças das demais monarquias européias, contrárias ao regime republicano que se instalou na França. Iniciou a expansão dos seus domínios para além das fronteiras francesas, invadindo a Alemanha, Espanha, Holanda e Itália, dentre outros impérios. Destronou reis e rainhas tomando para si suas riquezas e suas terras, tornando-se o senhor absoluto da Europa. A Inglaterra resistia às investidas francesas, o que fez Bonaparte decretar o bloqueio continental ao país a fim de enfraquecer o inimigo. D.João, antigo aliado político da Inglaterra, não aderiu ao bloqueio. Em meio ao fogo cruzado, na iminência de ter seu país invadido pelas tropas napoleônicas, decidiu fugir para o Brasil, abandonando seu país e seus súditos à própria sorte.
Foram mais de três meses de viagem enfrentando tempestades, calmarias, mêdo de ataques piratas e infestação de piolhos a bordo. Em março de 1808 D.João e sua corte desembarcaram no Rio de Janeiro, após uma breve escala em Salvador, antiga capital do país.
Rio de Janeiro, cidade estratégica
O Rio de Janeiro era parada obrigatória para todos os navios que cruzavam os mares naquele tempo. A Baía de Guanabara, protegida pelos ventos e com suas águas calmas, oferecia segurança para o reparo dos navios e para o reabastecimento das embarcações com água, comida e especiarias. Com a abertura dos portos do Brasil às nações amigas, decretada logo após a chegada da família real ao Brasil, o Rio tornou-se o local ideal para o comércio. Todas as exportações e importações da Colônia passavam pelo porto carioca. A paisagem tropical, cercada por mar e montanhas, numa cidade ainda pouco povoada, deixou fascinados os visitantes portugueses. Difícil foi arrumar moradia para toda a corte que acompanhava D.João. Com ele vieram padres, bispos, juízes, militares, advogados, serviçais, nobres e suas respectivas famílias, quase 15.000 pessoas. Diante do impasse foi criado o sistema de “aposentadorias”, um confisco de residências para uso da nobreza. Uma placa com as iniciais de “Príncipe Regente” era afixada nas moradias escolhidas. A população, revoltada, logo passou a reconhecer a sigla: “Ponha-se na rua"!
D.João, Carlota Joaquina e seus filhos hospedaram-se, temporariamente, no Paço Imperial, um casarão localizado no centro da cidade que se transformaria na sede oficial do governo,
até sua partida. Era lá que o rei recebia seus súditos no ritual conhecido como “beija-mão”, momento em que as portas do palácio eram abertas à população para prestar homenagens à família real, fazer pedidos e reclamações. Neste palácio ele despachava com seus ministros e recebia governantes de outros países. A residência da família real foi transferida, então, para o Palácio de São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista, onde hoje funciona o Museu Nacional.
A herança portuguesa
Após a morte de Dona Maria, a rainha louca, D. João tornou-se rei do Brasil, Portugal e Algarves, sendo finalmente aclamado como D.João VI, em 1816.
Manter a corte no Brasil custou caro aos cofres portugueses. Diante de tantos gastos a solução foi pedir empréstimo à Inglaterra, uma enorme dívida que depois seria herdada pelo nosso país, após a declaração da independência.
A corte portuguesa no Brasil, além de perdulária, era autoritária. Como o rei precisava do apoio político e financeiro das elites brasileiras, iniciou-se no Brasil uma farta distribuição de títulos de nobreza, favores e privilégios, em troca de dinheiro. A nova nobreza brasileira tinha agora títulos e poder, tornando-se acionista do recém-criado Banco do Brasil, que socorria D. João nas suas dificuldades financeiras. O Rio de Janeiro se tornou uma cidade rica e próspera. Estradas foram abertas, escolas fundadas, bibliotecas, hospitais, bancos e imprensa. Além disso, foram liberados o comércio e a produção industrial brasileira. Era o fim do monopólio português no Brasil que, livre de proibições, começou sua revolução industrial.
A abertura de novas estradas acabou com o isolamento entre as províncias. As regiões mais distantes foram mapeadas e companhias marítimas surgiram, inaugurando a era da navegação a vapor.
Escolas de ensino leigo e superior foram criadas modernizando o ensino brasileiro, restrito até então ao ensino básico e confiado aos padres. Foram inauguradas a escola superior de Medicina, escolas agrícolas, laboratórios de análises químicas e a Academia Real Militar. O Rio de Janeiro ainda viu surgir a Biblioteca Nacional, o Museu Nacional, o Jardim Botânico e o Teatro São João.
A “Gazeta do Rio de Janeiro” foi o primeiro jornal impresso publicado no Brasil, em setembro de 1808, nas máquinas trazidas da Europa. O problema é que só podiam ser publicadas notícias favoráveis ao governo.