História, perguntado por gabrielsymon1, 1 ano atrás

Como a guerra do Paraguai influenciou a abolição do escravo (60 linhas)

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Respondido por arturhamorim
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AS DENÚNCIAS DE QUE O exército brasileiro ao lutar na guerra (1864-1870) era formado por escravos não são novas. Ao contrário, têm pelo menos cento e vinte anos. Seus primeiros autores foram os redatores dos jornais paraguaios da época. Tratavam de menosprezar o exército brasileiro com base no duvidoso argumento de que, por ser formados por negros, deveria ser de qualidade inferior.

Mais recentemente, diversos autores tentaram ressuscitar o argumento de que o exército brasileiro, era formado por negros escravos alistados compulsoriamente.

Soldados negros, ex-escravos ou não, lutaram em pelo menos três dos quatro exércitos dos países envolvidos. Os exércitos paraguaio, brasileiro e uruguaio tinham batalhões formados exclusivamente por negros. Como exemplos temos o Corpo dos Zuavos da Bahia e o batalhão uruguaio Florida. Escravos propriamente ditos, engajados como soldados, lutaram comprovadamente nos exércitos paraguaio e brasileiro.

Para se avaliar corretamente a participação dos negros escravos na guerra é preciso, primeiramente, esquecer ou suspender a questão das nacionalidades envolvidas. Com efeito, se os negros lutaram sob pelo menos três das quatro bandeiras presentes no conflito, o foco da análise deve ser posto sob a situação dos escravos e de seios descendentes nesses exércitos e não sobre suas nacionalidades.

Não repito aqui o erro dos ideólogos lopiztas, que consideravam o exército brasileiro – soldados e oficiais – formado indistintamente por macacos; e nem o dos detratores do Paraguai, que consideravam seu exército formado por caboclos, termo depreciativo que no Brasil designa índios e seus descendentes mais ou menos aculturados, e seu povo formado por descendentes dos guarani, uma vaga referência etnográfica. Negros e índios teriam sido, por essas análises baseadas em simplificações raciais, as maiores vítimas da guerra.

Para além dessas versões ideologizantes, procurarei esclarecer a convocação do negro, ex-escravo, aos exércitos paraguaio e brasileiro, bem como sua participação na guerra.

 

Como matar a los negros

A frase dita pelo presidente paraguaio Francisco Solano López depois de receber na barriga o golpe de lança do cabo de ordens do coronel Joca Tavares, seu xará Francisco Lacerda – matem a esos diablos de macacos! –, é reveladora da idéia que seu governo queria fazer dos brasileiros no país.

Na época da guerra (1864-1870), no Paraguai, o negro era, antes de tudo, o inimigo. O exército brasileiro era o exército macacuno, e seus líderes, segundo a propaganda lopizta, macacos que pretendiam escravizar o povo paraguaio, conduzindo-os da liberdade à escravidão.

O imperador é definido como um gran macaco representado sempre com uma longa cauda, Caxias um descomunal sapo preto que se locomovia montado numa tartaruga. O Cabichuí, jornal do exército paraguaio, define o soldado brasileiro: "La palabra guaraní camba se aplica a los negros, y más genérica y propriamente al esclavo. Hablar de un brasilero es, pues, hablar de un camba bajo el punto de vista de su color y de su condición de esclavo, y aun mas propriamente de un camba para representar la ruindad, la pequenez, la miseria, el amilanamiento de esa raza despreciable que hasta es una afrenta para la especie humana" (Museo del Barro 1984, Cabichuí, n. 8, 1).

Na imprensa oficial, através do Cabichuí do El Centinela eram freqüentes chamadas como: "Así se cazam los negros"; "Fuego a los negros"; "Como matar a los negros"; "Ejercito macacuno jugando Carnaval"; "Látigo con los negros" etc.

Com base na propaganda poder-se-ia pensar que no Paraguai da época não existiriam negros nem escravos. Por conseguinte não existiriam, também, negros escravos ou ex-escravos no exército paraguaio.

A realidade era diferente. A escravidão não havia sido abolida do Paraguai. O que havia era uma lei do ventre livre promulgada em 1842 por Carlos Lopes, pai de Francisco Solano López. Os libertos da República, os que nasciam de Janeiro de 1843 em diante, deveriam, no entanto, trabalhar para seus senhores, patronos, os homens até a idade de 25 anos e as mulheres até os 24. Era uma liberdade bastante relativa, portanto.

O recrutamento sistemático de escravos no Paraguai inicia-se em setembro de 1865, apenas um ano depois do início da guerra, para preencher as baixas de feridos e de epidemias que assolaram o exército. Destacamentos formados por ex-escravos vindos do interior foram vistos em Assunção em meados de 1966 (Laurent-Cochelet, apud Rivarola, 1988:132). Este seria, no entanto, o segundo contingente importante de homens de cor – negros ou mulatos– incorporados ao exército. O primeiro foi integrado à Divisão que fez a invasão do Mato Grosso e da Argentina, em 1864 e 1865.

Em uma foto de oito prisioneiros paraguaios capturados em 1866 por Flores aparece um negro, com o gorro de couro dos soldados de infantaria pintado com as cores da República paraguaia.






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