Português, perguntado por zgodnathan, 8 meses atrás

Comente sobre a obra de Gil Vicente “O auto da barca do inferno”, quanto à data da produção, à temática crítica e ao enredo.

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Respondido por viniciusleribeiro
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Foi encenada em 1531 e faz parte da Trilogia das Barcas, ao lado do Auto da Barca,do Purgatório e o Auto da Barca da Glória.

 “auto” é um gênero que surgiu na Idade Média. São textos curtos de temática cômica e geralmente formados por um único ato.

O "Auto da Barca do Inferno" (c. 1517) representa o juízo final católico de forma satírica e com forte apelo moral. O cenário é uma espécie de porto, onde se encontram duas barcas: uma com destino ao inferno, comandada pelo diabo, e a outra, com destino ao paraíso, comandada por um anjo. Ambos os comandantes aguardam os mortos, que são as almas que seguirão ao paraíso. ENREDO : Os mortos começam a chegar. Um fidalgo é o primeiro. Ele representa a nobreza, e é condenado ao inferno por seus pecados, tirania e luxúria. O diabo ordena ao fidalgo que embarque. Mas ele, arrogante, julga-se merecedor do paraíso, pois deixou muita gente rezando por ele. Recusado pelo anjo, encaminha-se, frustrado, para a barca do inferno; mas tenta convencer o diabo a deixá-lo a rever sua amada, pois esta "sente muito" sua falta. O diabo destrói seu argumento, afirmando que ela o estava enganando. Um agiota chega a seguir. Ele também é condenado ao inferno por ganância e avareza. Tenta convencer o anjo a ir para o céu, mas não consegue. Também pede ao diabo que o deixe voltar para pegar a riqueza que acumulou, mas é impedido e acaba na barca do inferno. O terceiro indivíduo a chegar é o parvo (um tolo, ingênuo). O diabo tenta convencê-lo a entrar na barca do inferno; quando o parvo descobre qual é o destino dela, vai falar com o anjo. Este, agraciando-o por sua humildade, permite-lhe entrar na barca do céu. Temática

Sátira social – Esta obra tem dado margem a leituras muito resumidas, que grosseiramente nela só vêem uma farsa. Mas se Gil Vicente fez a análise impiedosa das “doenças” que corroíam a sociedade em que viveu, não foi para ficar por aí, como nas farsas, mas para propor um caminho decidido de transformação.

Esta obra é normalmente classificada como “auto de moralidade”, mas muitas vezes aproximando-se da farsa. Esta obra retrata um pouco do que era a sociedade portuguesa do século XVI, e apesar de este auto se designar como o Auto da Barca do Inferno, este é mais o auto do julgamento das almas. Talvez tenha este nome pois quase todas as personagens têm como destino a Barca do Inferno.

Na peça, é clara a inteção do autor em expor de forma satírica e despojada os grandes vícios humanos. A forma encontrada para isso reside nos personagens, ou melhor, nas almas que se apresentam no porto em busca do transporte para o outro lado, dentro da visão católica e platônica de céu e inferno.

Ela proporciona uma amostra do que era a sociedade lisboeta das décadas iniciais do século XVI, embora alguns dos assuntos discorridos sejam pertinentes a atualidade.

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