“Coçar e comer é só começar. Conversar e escrever também. Na fala, antes de iniciar, mesmo numa livre
conversação, é necessário quebrar o gelo. Em nossa civilização apressada, o “bom dia”, o “boa tarde, como
vai?”, já não funcionam para engatar conversa. Qualquer assunto servindo, fala-se do tempo ou de futebol.
No escrever também poderia ser assim, e deveria haver para a escrita algo como conversa preguiçosa, com
que se divaga até encontrar assunto para um discurso encadeado. Mas, à diferença da conversa falada, nos
ensinaram a escrever e na lamentável forma mecânica que supunha texto prévio, mensagem já elaborada.
Escrevia-se o que antes se pensara. Agora entendo o contrário: escrever para pensar, uma outra forma de
conversar.
Assim fomos “alfabetizados”, em obediência a certos rituais. Fomos induzidos a, desde o início, escrever
bonito e certo. Era preciso ter um começo, um desenvolvimento e um fim predeterminados. Isso estragava,
porque bitolava o começo e todo o resto. Tentaremos agora (quem? eu e você, leitor) conversando entender
como necessitamos nos reeducar para fazer do escrever um ato inaugural; não apenas transcrição do que
tínhamos em mente, do que já foi pensando ou dito, mas inauguração do próprio pensar. “Pare aí”, me diz
você. O escrevente escreve antes, o leitor lê depois. “Não!”, lhe respondo. Não consigo escrever sem pensar
em você por perto, espiando o que escrevo. Não me deixe falando sozinho.
Pois é; escrever é isso aí: iniciar uma conversa com interlocutores invisíveis, imprevisíveis, virtuais apenas,
sequer imaginados de carne e ossos, mas sempre ativamente presentes. Depois é espichar conversas e
novos interlocutores surgem, entram na roda, puxam assuntos. Termina-se sabe Deus onde”.
Alguns gêneros textuais são produzidos a fim de nos convencer de alguma ideia, defender um ponto de
vista. Para quem afirma, ou nega alguma coisa, fica a obrigação de apresentar argumentos que comprovem
o que se diz. Analise as alternativas a seguir e identifique AQUELA QUE NÃO É ACEITÁVEL, em relação ao
locutor do texto.
A) O locutor defende a ideia de que há algo de comum entre conversar e escrever e coçar e comer.
B) O locutor se vale de um dito popular, a fim de estabelecer um paralelo entre a conversa e a escrita.
C) O locutor vê, de forma bem humorada, a maneira pela qual somos ensinados a escrever, já que considera
o ensino como mecânico, repetitivo de fórmulas.
D) Para o locutor, devemos escrever para pensar e não o contrário.
Soluções para a tarefa
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Resposta:
c
Explicação:
leticiamendes9921:
obrigadooo!!!! <3
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No texto A questão é começar, de Mário Osório Marques, a alternativa inaceitável é:
- c) O locutor vê, de forma bem humorada...
Pois é justamente o contrário: o autor não está sendo bem humorado, ele está tecendo uma crítica.
Questão de começar ou de terminar?
Aqui se trata da criatividade para escrever. Mário Osório Marques, em seu livro Escrever é preciso: o princípio da pesquisa, fala sobre como deveríamos entender o processo da escrita, pois deixa claro: não estamos fazendo do jeito certo.
No capítulo A questão é começar, o primeiro, ele propõe que escrever deve ser como conversar: primeiro começamos, partimos de um ponto qualquer, sem a ideia final já pronta ou preconcebida.
Mais sobre escrita em: https://brainly.com.br/tarefa/51489079
#SPJ2
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