Clubes que exibiram símbolo LGBTQIA+ deixaram vergonha com os preconceituosos
Não se muda uma cultura secular do dia para a noite, mas algumas das ações saíram da internet e entraram em campo
Não faz muito tempo, quando as torcidas ainda podiam frequentar os estádios no Brasil, era comum em vários deles se ouvir o grito de “ooooo bicha”. Costumava vir da torcida mandante quando o goleiro do time visitante ia cobrar o tiro de meta. Uma herança deixada por aqui na Copa do Mundo de 2014, que foi por muito tempo reproduzida até ser combatida pelos clubes.
Não faz nem dois anos que, diante desse cenário comum no futebol mundial –de gritos homofóbicos da torcida–, árbitros paralisaram jogos. Aconteceu primeiro no Campeonato Francês. A ação repercutiu e, dias depois, em 25 de agosto de 2019, Anderson Daronco interrompeu a partida entre Vasco e São Paulo, em São Januário, quando era possível ouvir em alto e bom som no estádio o “time de veado” entoado por torcedores vascaínos.
A orientação ao técnico do Vasco, Vanderlei Luxemburgo, foi clara. Enquanto houvesse gritos preconceituosos, o jogo não continuaria. O treinador e sua comissão foram vistos tentando mandar o recado à torcida. O jogo prosseguiu, mas uma mensagem havia sido passada: o futebol, que sempre foi tão tolerante com os intolerantes à diversidade, estava mudando.
Não se muda uma cultura secular do dia para a noite. É um processo. E, se no ano passado já vimos uma parte da evolução quando o futebol ainda estava paralisado e a grande maioria dos clubes usou as redes sociais para se manifestar no 28 de junho a respeito do Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, neste ano algumas das ações saíram da internet e entraram em campo.
Logo pela manhã de domingo (27), o Flamengo jogou com uma camisa diferente. Os números nas costas dos jogadores traziam as cores do arco-íris, símbolo do Orgulho LGBT. À tarde, o Fluminense entrou em campo também com os números nas cores do arco-íris e com a #TimeDeTodos. E o zagueiro Nino jogou com a camisa 24, tradicionalmente “excluída” do futebol brasileiro por causa da associação com o “veado” do Jogo do Bicho. Até a seleção brasileira reproduz essa bobagem e pula o 24 na numeração dos jogadores na Copa América.
O estádio, palco de Fluminense e Corinthians e, mais tarde, de Vasco e Brusque, foi um cenário à parte. Nas arquibancadas de São Januário, que há dois anos entoavam gritos homofóbicos, lia-se a palavra: “RESPEITO”, com o I nas cores do arco-íris. A bandeira do escanteio também era a do Orgulho. E quando o atacante vascaíno Germán Cano comemorou seu gol, ele fez questão de levantá-la.
Não deveria ser difícil para nós, heterossexuais, levantar a bandeira do respeito à diversidade. O máximo que vai acontecer com a gente por isso é o quê? Perder alguns likes? Seguidores? Sofrer ataques nas redes sociais? Não é preciso tanta coragem para se manifestar pelo óbvio, o respeito. Coragem precisam aqueles que têm de lutar para sobreviver todos os dias no país que mais mata a população LGBT no mundo. Para esses, os ataques não são virtuais, são reais.
Neste 28 de junho, ainda são poucos os clubes que conseguem sair dos meros posts nas redes sociais para ações mais efetivas –para vestir a camisa, que seja, com as cores do arco-íris. Nos jogos de domingo, entre os 12 grandes, só quatro: Flamengo, Fluminense, Vasco e Santos.
Mas não tenho dúvidas de que estamos em evolução. É preciso dar o primeiro passo para transformar o futebol, esse ambiente tão tóxico, machista e homofóbico, num lugar efetivamente de todos. O futebol precisa gritar seu orgulho para deixar a vergonha com os preconceituosos. Amar é direito, e não pecado.
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A autora trata da homofobia dentro de um contexto histórico- social e a necessidade de conscientizar a população no que tange ao respeito as diferenças e combater os crimes de homofobia em todos os seguimentos, inclusive no futebol contra o preconceito que vem insistindo de tempos passados.
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