Civilização Ocidental e Cristã - Artista - Leon Ferrari - Em qual classificação ela se encaixa? Faça sua análise
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Resposta: Integridade e picardia se entrelaçaram em sua vida e em sua obra. A anedota com os papas é talvez a que mais chame a atenção hoje. León a certa altura ficou tido como um idoso repetitivo: “León, larga dessa coisa com a Igreja”, diziam alguns amigos próximos. Mas ele era teimoso. Em 1997 escreveu uma carta ao papa João Paulo II, em que ele lembra que, com o final do milênio e o possível Apocalipse, boa parte da humanidade está sujeita, segundo o Evangelho, a um inferno interminável, e solicita a anulação do Juízo Final e da imortalidade. A carta é assinada pelo CIHABAPAI (Clube os ímpios, hereges, apóstatas, blasfemos, ateus, pagãos, agnósticos e infiéis), subscrita por uma quantidade moderada de artistas, intelectuais e ativistas. Sem resposta, um nova carta é enviada em 2001, agora lançando mão da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948: se a tortura já foi oficialmente abolida na terra, solicita-se a abolição do Inferno, que nada mais é do que a promessa de tortura eterna. Corta. 2004. Centro Cultural Recoleta em Buenos Aires abre uma retrospectiva do artista, que completava 84 anos. León era um artista muito conhecido no meio, mas com pouca projeção internacional. A retrospectiva passava por toda sua obra, as cerâmicas, as esculturas metálicas e os carimbos do período brasileiro, as caligrafias, os quadros e desenhos, as instalações com brinquedos, os brailes. Uma das salas, “Infernos”, tinha uma série de ironias: cristos e nossas senhoras em torradeiras, frigideiras, liquidificadores; León chamava a atenção de um modo lúdico para os tipos de tortura proporcionados pelo discurso de ódio cristão. A exposição se transformou numa metaperformance quando um grupo religioso radical invadiu a sala e destruiu uma das obras. A comunidade religiosa pressionou o fechamento da exposição, até que o então cardeal Bergoglio solicitou e conseguiu a clausura da exposição. O efeito foi contrário, a entrada da exposição foi tomada por movimentos por liberdade de expressão, artistas, intelectuais, professores, e ganhou uma repercussão midiática incalculável. Uma liminar garantiu a reabertura. A visitação, que era de uma exposição normal, logo se tornou massiva, e filas se acumularam por todo o período até o final da mostra. Daí, aos 84 anos, León se tornou uma celebridade na Argentina, e sua obra foi adquirida por museus em todo o mundo: MoMA, Tate, Reina Sofia; ganhou o Leão de Ouro em Veneza. Anos depois, já velhinho e doente, pouco antes de morrer, em 2013 teve a notícia de que Bergoglio havia se tornado papa, o papa Francisco. Liguei pra ele na hora, e ele já estava comemorando a coincidência: abramos uma champanhe!