Cite a revolta popular ocorria 1902 - 1906 contra a açao ''higienizadora'' das autoridades
Soluções para a tarefa
Durante o mês de novembro de 1904, o Rio de Janeiro, então
capital federal, foi palco de uma das maiores revoltas urbanas ocorridas no
país: a Revolta da Vacina.
Milhares de habitantes tomaram as ruas da cidade em violentos conflitos com a
polícia. O motivo era uma polêmica medida adotada pelo governo de então: avacinação obrigatória.
Contando com uma população de mais de 800 mil habitantes, a cidade era
constantemente vitimada por surtos de febre amarela, varíola, peste bubônica,malária, tifo e tuberculose. Na tentativa de
pôr fim a esse triste quadro epidemiológico, o presidente Rodrigues Alves convocou o médico sanitaristaOswaldo Cruz, que, de imediato, pôs em marcha
um ambicioso plano de saneamento e higienização da cidade. Seu projeto, porém,
envolvia controvertidas medidas de controle da população e de seus hábitos de
higiene.
Por ter um caráter
autoritário e invasivo, adentrando lares e desrespeitando privacidades, sobretudo
da população mais pobre, a nova política sanitária foi alvo da mais hostil
reação popular. Para o combate da febre amarela, organizou-se uma grande equipe
de "mata-mosquitos", incumbida de perseguir os insetos nos lugares
mais recônditos do Rio de Janeiro. Os funcionários tinham o poder de invadir as
casas e quebrar a inviolabilidade dos lares cariocas.
Com a meta de controlar a peste bubônica, a prefeitura promoveu uma declarada
guerra aos ratos na cidade. E chegou a comprar os animais mortos de quem se
dispusesse a caçá-los. Aproveitadores e oportunistas não demoraram a entrar em
ação. Há relatos de que moradores partiam de Niterói para vender roedores do
outro lado da Baía de Guanabara. Além deles, havia os habituais esquadrões
municipais, sempre truculentos, que invadiam cortiços, sobrados e casas de
cômodos com a finalidade de exterminar aquela praga urbana.No entanto, a medida
sanitária mais polêmica foi tornar obrigatória a vacinação contra varíola, o
que descontentou grande parte da população. A obrigatoriedade da vacina era
garantida por uma rede de compulsão social. A apresentação dos comprovantes de
vacinação passaria a ser condição para matrículas em escolas, admissões em
empresas e oficinas, casamentos e outras tantas atividades, de maneira que a
vida social daquele que se recusasse a ser vacinado tornar-se-ia impossível.
Em paralelo, a tônica modernizadora da gestão do prefeito Pereira Passos já se
fazia sentir desde 1903, quando da inauguração da avenida Passos. Em março de
1904, com a demolição de dezenas de casarões e sobrados, tiveram início as
obras da avenida Central. Os objetivos de enquadrar a cidade nos preceitos
recomendados pela higiene custaram a remoção de centenas de famílias pobres,
transfigurando por completo a paisagem do centro. Essa política ficou
popularmente conhecida como "bota abaixo". A vacinação obrigatória
era, portanto, uma entre várias medidas que visavam disciplinar a população
mais pobre, erradicando-a das áreas centrais.A
vacinação, em suma, foi mais uma medida para disciplinar a população pobre,
vista sempre como obstáculo ao progresso e ao desenvolvimento. Sua revolta representou
o protesto ampliado contra o projeto de modernização excludente que estava em
marcha naquele momento.