ENEM, perguntado por nikki2597, 3 meses atrás

Carta a El - Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil (Fragmentos).

E assim seguimos nosso caminho, por este mar, de longo, até que, terça-feira das oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de abril, que topamos alguns sinais de terra. (..) E á quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves, a que chamam fura-buxos. E neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra, isto é, Primeiramente de um grande monte, mui alto e redondo, e de outras serras mais baixas ao sul dele e de terra chã com grandes arvoredos, ao qual monte alto o capitão pôs o nome o Monte Pascoal e à terra a Terra da Vera Cruz. (...)

E dali avistamos homens que andavam pela praia, obra de 7 ou 8, segundo os navios pequenos disseram, por chegarem primeiro. (..) A feição deles é serem pardos, maneira d’avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa cobrir, nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto. (...) Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos, compridos, pelas espáduas; e suas vergonhas tão altas e tão çarradinhas e tão limpas das cabeleiras que de as nós muito bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha. (...)

E uma daquelas moças era toda tinta, de fundo a cima, daquela tintura, a qual, certo, era tão bem feita e tão redonda e sua vergonha, que ela não tinha, tão graciosa, que a muitas mulheres de nossa terra, vendo-lhes tais feições, fizera vergonha, por não terem a sua como ela. (...)

O capitão (Cabral), quando eles vieram, estava assentado em uma cadeira e uma alcatifa aos pés por estrado, e bem vestido, com um colar d'ouro mui grande ao pescoço. Acenderam tochas e entraram e não fizeram nenhuma menção de cortesia nem de falar ao capitão nem a ninguém. Um deles, porém, pôs olho no colar do capitão e começou d'acenar com a mão para a terra e despois para o colar, como que nos dizia que havia em terra ouro. E também viu um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e então para o castiçal, como que havia também prata. Mostraram-lhes um papagaio pardo que aqui o Capitão traz, tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como que os havia aí. Mostraram-lhes um carneiro, e não fizera dele menção. Mostraram-lhes uma galinha, quase haviam medo dela e não lhe queriam pôr a mão.e depois a tomaram como espantados. (..)

Nela, até agora, não podemos saber que haja ouro, nem prata, nem nenhuma coisa de metal, nem de ferro,nem lho vimos. A terra, porém, em si, é de muitos bons ares. (..)

Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos, visto que não têm nem entendem crença alguma, segundo as aparências. E portanto se os degredados que aqui hão de ficar aprenderem bem a sua fala e os entenderem, não duvido que eles, segundo a santa tenção de Vossa Alteza, se farão cristãos e hão de crer na nossa santa fé, à qual praza a Nosso Senhor que os traga, porque certamente esta gente é boa e de bela simplicidade. E imprimir- se-á facilmente neles qualquer cunho que lhe quiserem dar, uma vez que Nosso Senhor lhes deu bons corpos e bons rostos, como a homens bons. E o Ele nos para aqui trazer creio que não foi sem causa. E portanto Vossa Alteza, pois tanto deseja acrescentar a santa fé católica, deve cuidar da salvação deles. E prazerá a Deus que com pouco trabalho seja assim! (...)

E segundo o que a mim e a todos pareceu, esta gente, não lhes falece outra coisa para ser toda cristã, do que entenderem-nos, porque assim tomavam aquilo que nos viam fazer como nós mesmos; por onde pareceu a todos que nenhuma idolatria nem adoração têm. E bem creio que, se Vossa Alteza aqui mandar quem entre eles mais devagar ande, que todos serão tornados e convertidos ao desejo de Vossa Alteza. E por isso, se alguém vier, não deixe logo de vir clérigo para os batizar; porque já então terão mais conhecimentos de nossa fé, pelos dois degredados que aqui entre eles ficam, os quais hoje também comungaram.

Entre todos estes que hoje vieram não veio mais que uma mulher, moça, a qual esteve sempre à missa e à qual deram um pano com que se cobrisse; e puseram-lho em volta dela. Todavia, ao sentar-se, não se lembrava de o estenderde o estender de o estender muito para se cobrir.

Atividade

1 - Caminha vê o nativo brasileiro no seu aspecto físico e em sua relação com a natureza?

2 - Nos fragmentos apresentados, há indícios da preocupação portuguesa com exploração material da Nova Terra ?

3 - Sérgio Buarque de Holanda, no livro visão do Paraíso, fala dos motivos edênicos (ou seja, a busca do Éden) no descobrimento e colonização do Brasil. Destaque um trecho em que essa visão edênica que os portugueses faziam do Brasil se constata.

4 - Destaque um aspecto do texto que o caracterize como literatura informativa.

5 - Passamos mais de 500 anos, a visão edênica persiste ? E a visão de que o nosso índio é um " bom selvagem " ?




Soluções para a tarefa

Respondido por nayanegleice
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Resposta:

1) Ele acha que os nativos brasileiros são estranhos, diferentes, acho que quando Pero Vaz de Caminha os vê há um choque cultural. Ele vê que a relação dos índios com a natureza é bem próxima, vê-se isso no modo de vestir e nos instrumentos que eles utilizavam.

2) Sim há, no trecho "Nela, até agora, não podemos saber que haja ouro, nem prata, nem nenhuma coisa de metal, nem de ferro, nem lho vimos. A terra, porém, em si, é de muitos bons ares. (..)"

3) No trecho: "Andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa cobrir, nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto".

4) "E assim seguimos nosso caminho, por este mar, de longo, até que, terça-feira das oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de abril, que topamos alguns sinais de terra."

5) Talvez a visão edênica não persista, porém, dizer que o mito do bom selvagem persiste no imaginário social não é uma mentira. O indígena inocente da carta de Pero Vaz de Caminha sobreviveu. As ideias surgidas nos debates ocorridos ao longo do auge da colonização das Américas sobre a condição humana em estado de natureza e de civilização ainda povoam as representações de universitários, que insistem em romantizar os indígenas como seres humanos puros e virtuosos pertencentes à natureza.

Explicação:

Leitura e interpretação do texto.


nikki2597: você tem certeza que de que essas respostas estão certas?
nayanegleice: Kk Eu li e as interpretei assim..
nikki2597: mas você confirmou várias vezes antes de me mandar não é?
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