Português, perguntado por rafaelacazassa1280, 11 meses atrás

Capítulo XIV: Como el-rei fez conde e armou cavaleiro João Afonso Telo e da grande festa que lhe fez

Em três cousas, assinaladamente achamos, pela mor parte, que el-rei D. Pedro de Portugal gastava seu tempo. A saber: em fazer justiça e desembargos do reino; e em monte e caça. de que era mui querençoso; e em danças e festas, segundo aquele tempo, em que tomava grande sabor, que adur é agora para ser crido. E estas danças eram o som de umas longas que então usavam, sem curar de outro instrumento, posto que o aí houvesse. E se algum Iho queriam tanger, logo se enfadava dele. E dizia que o dessem ao demo e que lhe chamassem os trombeteiros. Ora deixemos os jogos e festas que el-rei ordenava por desenfadamento, nas quais, de dia e de noite, andava dançando por mui grande espaço. Mas vede se era saboroso jogo. Vinha el-rei em batéis de Almada para Lisboa, e saíam-no a receber os cidadãos e todos os dos misteres com danças e trebelhos, segundo então usavam. E ele saía dos batéis e metia-se na dança com eles e assim ia até o paço. Ora atentai se foi bom sabor: jazia el-rei em Lisboa, uma noite na cama, e não lhe vinha sono para dormir. E fez levantar os moços e quantos dormiam no paço. E mandou chamar João Mateus e Lourenço Paios que trouxessem as trombas de prata. E fez acender tochas e meteu-se na vila em dança com os outros. As gentes que dormiam saíam às janelas ver que festa era aquela, ou porque se fazia. E quando viram daquela guisa el-rei, tomaram prazer de o ver assim ledo. E andou el-rei assim grande parte da noite. E tornou-se ao paço em dança; e pediu vinho e fruta, e deitou-se a dormir. Não curando mais falar de tais jogos, ordenou el-rei de fazer conde e armar cavaleiro João Afonso Telo, irmão de Martim Afonso Telo, e fez-lhe a mor honra em sua festa que até aquele tempo fora vista que rei nenhum fizesse a semelhante pessoa. Cá el-rei mandou lavrar seiscentas arrobas de cera de que fizeram cinco mil círios e tochas. E vieram do termo de Lisboa, onde el-rei então estava, cinco mil homens das vintenas para terem os ditos círios. E quando o Conde houve de velar suas armas no mosteiro de S. Domingos dessa cidade, ordenou el-rei que, desde aquele mosteiro até aos seus paços que assaz grande espaço, estivessem quedos aqueles homens todos, cada um com seu círio aceso, que davam todos muito grande lume. E el-rei, com muitos fidalgos e cavaleiros, andavam por entre eles, dançando e tomando sabor. E assim dispenderam grande parte da noite. Noutro dia, estavam mui grandes tendas armadas no Rossio acerca daquele mosteiro, em que havia grandes montes de pão cozido e assaz de tinas cheias de vinho e logo prestes para que bebessem. E fora estavam ao fogo, em espetos, vacas inteiras a assar. E quantos comer queriam daquela vianda tinham-na muito prestes e a nenhum não era vedada. E assim estiveram sempre enquanto durou a festa, na qual foram armados outros cavaleiros cujos nomes não curamos dizer
(COELHO, Antônio Borges. Crônicas de D. Pedro I. Lisboa: Portugália, 1967. p. 74*75)

1. Essa crônica flagra um acontecimento do cotidiano do reinado de Dom Pedro I. Que incidente desencadeia a narrativa? Identifique-o no texto.
2. Paralelamente a esse incidente, o narrador recupera a situação histórica da época narrada, isto é, as preocupações do monarca com seu reinado. Quais eram elas?
3. O cronista focaliza a atenção tanto nos afazeres do rei quanto nas festas populares em que o monarca está presente. Isso indica um ponto de vista inovador para a época, porque o processo social constrói-se com a participação de toda a população, e não apenas com a de algumas pessoas. Que elementos marcam o clima festivo narrado?
4. Observe que Fernáo Lopes não viveu na época de Dom Pedro I, mas fala dele como se fosse seu contemporâneo e convida o leitor a participar da narrativa, a olhar como se estivesse presente naquele acontecimento. Identifique expressões utilizadas por Fernão Lopes para incluir o leitor na narrativa.
5. A narrativa apresenta certa sequência de quadros dinâmicos, criando um ritmo de tensão e de suspense até o desfecho, rápido e marcante: uma festa em que todos podem comer e beber à vontade. O fato de o rei brincar com o povo e de este dançar com o rei em dias de festa mostra que tipo de relação entre eles?

Soluções para a tarefa

Respondido por Usuário anônimo
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1. Dom Pedro I está insone e decide tornar cavaleiro João Afonso Telo, armando uma grande festa em vista do acontecimento.

2. As preocupações do monarca eram "fazer justiça e desembargos do reino", ou seja, o poder judiciário e a administração do reino. Percebe-se que se trata de um Estado absolutista, em que todo o poder está nas mãos do rei.

3. Como o rei ordena que se faça música, e vai às ruas comemorar, e há um grande banquete público e todos se fartam, e povo e nobreza convivem no mesmo espaço enquanto é festa.

4. Um convite: "ora deixemos os jogos e festas (...). Mas vede se era saboroso jogo. (...)" para que o leitor explore junto com o narrador os acontecimentos.

5. Uma relação de lealdade do povo para com o rei, de admiração. E do rei para o povo, uma atitude "patriarcal." 
Respondido por Liziamarcia
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1-) desencadear = originar ou dar início

Os fatos foram:"Como el-rei fez conde e armou cavaleiro João Afonso Telo e da grande festa que lhe fez"

2-) além de dançar , caçar , a sua preocupação era
" FAZER JUSTIÇA E DESEMBARGOS DO REINO " --> governar

3-)0 rei oferece danças , comida grátis para todo o povo além da nobreza .

...(...)" como o rei ordena que se faça música ... É o povo e a nobreza convivem o mesmo espaço "....(...)

4-) FERNAO Lopes por ser o cronista da corte usa de expressões que atraiam o leitor
- " mas vede se era saboroso o jogo.... Perguntando se o leitor gostou dos jogos
" ora deixemos os jogos e festas ..." Quando muda de assunto

5-) mostra que o povo gosta do rei , o rei é amado
D. Pedro I era amado pelos seu súditos . (Ler o episódio de INES de CASTRO )
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