brasil rural resumo
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Resposta:
"Entre todas as regiões do globo, talvez a mais apropriada à agricultura seja o Brasil, pois que na sua vasta extensão acham-se climas, terrenos e exposições de quantas qualidades é possível imaginar, de forma que dificilmente nos poderemos lembrar, de uma espécie de vegetal, ou de uma sorte de cultura, que não exista já, ou que não possa, para o futuro, introduzir-se neste abençoado país, tão fecundo e variado em produções, ameno em aspectos e ares, tão regado de águas, revestido de matas, e aprazível à vista, que os primeiros descobridores não duvidaram avançar, que tinham por fim deparado com o paraíso terrestre".
C.A. Taunay, Manual do agricultor brasileiro (1839, 2001)
"José Bonifácio afirmou, em representação enviada à Assembléia Constituinte de 1823, que a escravidão era um câncer que corroía nossa vida cívica e impedia a construção da nação. A desigualdade é a escravidão de hoje, o novo câncer que impede a constituição de uma sociedade democrática. A escravidão foi abolida 65 anos após a advertência de José Bonifácio. A precária democracia de hoje não sobreviveria a espera tão longa para extirpar o câncer da desigualdade".
José Murilo de Carvalho, Cidadania no Brasil: o longo caminho (2001)
NESTE COMEÇO de século novo o Brasil continua sendo o proverbial país em busca do seu futuro, preso num emaranhado de paradoxos cruéis. Aproveitando a restrição externa como um biombo protetor, desafiou, a partir dos anos 30 do século passado, a sua condição de país periférico, empenhando-se numa industrialização continuada de maneira espetacular no após-guerra. De 1940 a 1980 cresceu ao ritmo descomunal de 7% ao ano, dobrando portanto o seu PIB de 10 em 10 anos. Porém este avanço ocorreu por meio de um crescimento socialmente perverso, alimentado pelo aprofundamento persistente das desigualdades e pela gestão inflacionária dos conflitos distributivos.
Assim, o Brasil foi o campeão do crescimento durante quatro décadas, mas saiu desta experiência como um país profundamente injusto e, portanto, subdesenvolvido. Tamanha injustiça é incompatível com o conceito de desenvolvimento humano, que supõe a extensão de todos os direitos - inclusive os econômicos, sociais e culturais - ao conjunto dos cidadãos. Dito de outra maneira, o desenvolvimento implica a cidadania universal efetiva, condição esta que não está presente hoje.
Há duas décadas o país não consegue retomar o crescimento e muito menos arcar com a dívida social acumulada. A quase estagnação em termos per capita acarreta um desemprego e, sobretudo, um subemprego crescentes. Durante a década de 90 ingressaram no mercado de trabalho quase 16 milhões de pessoas, enquanto foram geradas menos de 10 milhões de novas ocupações.
Apesar de possuir ainda hoje a mais extensa fronteira agrícola do mundo, o Brasil conseguiu três façanhas:
promover uma agricultura moderna de grãos nas frentes pioneiras do Oeste, que prescinde quase inteiramente de mão-de-obra (1);
realizar uma colonização socialmente capenga e ambientalmente predatória na Amazônia;
jogar milhões de refugiados do campo nas favelas, engrossando o exército de bóias-frias e deixando centenas de milhares de famílias sem terra e sem perspectiva de urbanização efetiva, que passa pelo acesso a moradia e decentes.
A urbanização prematura, excessiva e desnecessária, que se deu numa sociedade, como já mencionado, profundamente desigual, configurou um padrão de crescimento metropolitano marcado pelo contraste gritante entre o luxo ostensivo dos bairros nobres e a proliferação das favelas, o inferno cotidiano do transporte dominado por carros privados e o altíssimo custo das infra-estruturas. Que as grandes cidades brasileiras funcionem no dia a dia - um verdadeiro milagre - constitui um tributo à engenhosidade, à santa paciência e ao esforço dos seus habitantes. Mas em que pese a sua modernidade aparente, elas se encontram em crise, cuja intensidade se mede pela violência urbana.
Transcorrido mais de meio século desde a publicação da momentosa Geografia da fome de Josué de Castro, o país se vê obrigado a confeccionar novos mapas da fome, que a campanha contra a fome e pela cidadania não conseguiu erradicar. O programa agrário do PT tem o título significativo de Projeto Fome Zero. Estima-se em 16 milhões - um décimo da população - o número de cidadãos virtuais privados da cidadania pelo desrespeito ao seu direito de não ter que passar fome. No Canaã, em meio a tanta fartura, com tanto chão para cultivar, tantas mãos ociosas e barrigas vazias a questão da segurança alimentar não está solucionada! (2). Os problemas fundamentais que continuam interpelando o Brasil e muitos outros países são de uma simplicidade aterradora.
Neste quadro pouco alentador começa a despontar um elemento novo e alvissareiro. De alguns anos para cá os brasileiros estão redescobrindo o Brasil rural sob o efeito conjugado de vários fatores.
Explicação: