— Biruta vai adorar a festa! – exclamou assim que entrou na cozinha. — Lá tem doces, tem crianças, ele não quer outra coisa! – Fez uma pausa. Sentou-se. — Hoje tem festa em toda parte, não, Leduína?
A mulher já se preparava para sair.
— Decerto.
Alonso pôs-se a mastigar pensativamente.
— Foi hoje que Nossa Senhora fugiu no burrinho?
— Não, menino. Foi hoje que Jesus nasceu. Depois então é que aquele rei manda prender os três.
Alonso concentrou-se:
— Sabe, Leduína, se algum rei malvado quisesse prender o Biruta, eu me escondia com ele no meio do mato e ficava morando lá a vida inteira, só nós dois! – riu-se metendo uma batata na boca. E de repente ficou sério, ouvindo o ruído do carro que já saía. — Dona Zulu estava linda, não?
— Estava.
— E tão boazinha. Você não achou que hoje ela estava boazinha?
— Estava, estava muito boazinha...
— Por que você está rindo?
— Nada – respondeu ela pegando a sacola. Dirigiu-se à porta. Mas antes parecia querer dizer qualquer coisa de desagradável e por isso hesitava, contraindo a boca.
Alonso observou-a. E julgou adivinhar o que a preocupava.
— Sabe, Leduína, você não precisa dizer pra Dona Zulu que ele mordeu sua carteirinha, eu já falei com ele, já surrei ele. Não vai fazer mais isso nunca, eu prometo que não!
A mulher voltou-se para o menino. Pela primeira vez encarou-o. Vacilou ainda um instante. Decidiu-se:
— Olha aqui, se eles gostam de enganar os outros, eu não gosto, entendeu? Ela mentiu pra você, Biruta não vai mais voltar.
— Não vai o quê? – perguntou Alonso pondo a caçarola em cima da mesa. Engoliu com dificuldade o pedaço de batata que ainda tinha na boca. Levantou-se. — Não vai o quê, Leduína?
— Não vai mais voltar. Hoje cedo ele foi no quarto dela e rasgou um pé de meia que estava no chão. Ela ficou daquele jeito. Mas não disse nada e agora de tardinha, enquanto você lavava a louça, escutei a conversa dela com o doutor, que não queria mais esse vira-lata, que ele tinha que ir embora hoje mesmo e mais isso, e mais aquilo... o doutor pediu pra ela esperar que amanhã dava um jeito, você ia sentir muito, hoje era Natal... Não adiantou. Vão soltar o cachorro bem longe daqui e depois seguem pra festa. Amanhã ela vinha dizer que o cachorro fugiu da casa do tal menino. Mas eu não gosto dessa história de enganar os outros, não gosto, é melhor que você fique sabendo desde já, o Biruta não vai voltar.
Alonso fixou na mulher o olhar inexpressivo. Abriu a boca. A voz era um sopro.
— Não?...
Ela perturbou-se.
— Que gente também! – explodiu. Bateu desajeitadamente no ombro do menino. — Não se importe, não, filho. Vai, vai jantar.
Ele deixou cair os braços ao longo do corpo. E arrastando os pés, num andar de velho, foi saindo para o quintal. Dirigiu- -se à garagem. A porta de ferro estava erguida. A luz do luar chegava até a borda do colchão desmantelado. Alonso cravou os olhos brilhantes num pedaço de osso roído, meio encoberto sob um rasgão do lençol. Ajoelhou-se. Estendeu a mão tateante. Tirou debaixo do travesseiro uma bola de borracha.
— Biruta – chamou baixinho. — Biruta... – E desta vez só os lábios se moveram e não saiu som algum.
Muito tempo ele ficou ali ajoelhado, segurando a bola. Depois apertou-a fortemente contra o coração.
Em quais parágrafos se localiza o ponto culminante do conto? Justifique sua resposta.
Soluções para a tarefa
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Resposta:
no parágrafo 2 5 e 9.
Explicação:
não sei justificar a resposta
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