Atualmente, nossos direitos enquanto consumidores são muito mais assistidos do que nossa condição de cidadãos. Isso é uma clara demonstração de nossos valores e práticas sociais vigentes, que se verificam no indivíduo e nos grupos. Mas por que o consumo está tão presente em nosso cotidiano?
Nada é mais antigo do que as questões que inquietam o ser humano diante de sua existência. Afinal, os gregos já se perguntavam sobre o valor da vida, a eminência da morte, o fascínio do poder, as rivalidades humanas, revelando que a angústia que a pessoa experiência em sua existência é inevitável. Diante das inúmeras incertezas que marcam a fragilidade humana (a decadência do corpo, a força da natureza, as relações com os outros) e a complexidade da vida, em suas inúmeras (im) possibilidades, muitas vezes a sensação que resta é de impotência e desamparo.
Solidão e individualismo
Historicamente, cada sociedade e cada momento da civilização demonstram buscar alguns recursos para fazer frente a esse desconforto. Os mitos, a religião e a ciência foram alguns dos norteadores do pensamento humano na trajetória da humanidade, oferecendo premissas que guiaram o entendimento e deram justificativa para tantas dúvidas. Contudo, de tempos em tempos, as crenças se esvaziam e há novas apostas de conhecimento do mundo.
A marca de nossa sociedade é de ruptura com a tradição e com os valores estabelecidos, provocando uma liberdade de pensamento que inicialmente pode ser pensada como desejável. Mas ela também traz sofrimento e solidão, pois a pessoa humana encontra-se desprovida de referências para agir. A falência de muitas instituições e do próprio Estado refletem essa situação, explicitando o quanto antigas autoridades e pressupostos não são mais tidos como referência. Experiênciar esse caos não é necessariamente ruim, pois se pode usufruir dessa crise para criar novos modelos de estar em sociedade. O que fica contraditório a essa oportunidade é que estamos pouco afeitos ao social: o individualismo é constantemente defendido. A diferença e o conflito que caracterizam as relações não são tidos como imprescindíveis à existência. Assim sendo, atualmente vivenciamos de maneira ainda mais intensa nossa angústia inevitável à condição humana: sozinhos.
Direitos do consumidor?
Justamente nessa conjunção de fatores o consumo se apresenta como um coadjuvante funcional: empresta-nos a sensação temporária de satisfação e plenitude, sem a presença de uma exigência recíproca. O dinheiro não tem singularidade, aceita ser usado, prometido, comprometido. Mas não é só a moeda que caracteriza essa modalidade de vinculação social. Sempre que não considerarmos a alteridade e tratarmos o outro como objeto, também estaremos no plano do consumo. Muitas vezes é somente pela via da posse - de objetos, de poder, de status - que significamos nossas ações e dos demais, na tentativa de afastar a dúvida e a incerteza presentes nas relações e na nossa vida. Como consequência, facilmente nos vemos na condição de garantir quem somos através do que temos, fazendo muito e vivendo bem menos do que poderíamos, sustentando uma condição de parecer ser. Os serviços de atendimento ao consumidor, mantidos pelas empresas, e os movimentos sociais em prol do consumo consciente confirmam a observância aos direitos do consumidor. Mas essa visão claramente se distancia, na maioria dos casos, da discussão sobre o acesso ao consumo. Essa questão abordaria bem mais do que as relações de mercado, centrando-se nas desigualdades sociais. Se lembrarmos que em nosso país 13,9 milhões de pessoas encontram-se abaixo da linha da pobreza e 72 milhões enfrentam algum tipo de insegurança alimentar, conforme dados do IBGE (2004), reconheceremos que a exclusão social também se evidencia no consumo. No entanto ainda prevalece a ideia de que todos podem usufruir dos benefícios da modernidade e da tecnologia. Ser consumidor ou ser consumido? É possível optar e buscar posições mais responsáveis diante dos enigmas da vida. Talvez a busca incessante de verdades e a negação do sofrimento, tão características de nossa sociedade, nos impeçam de viver mais intensamente, ao contrário do que comumente pensamos. Duvidar das promessas de felicidade e certeza, trazidas a todo o momento pelas propagadas, pode ser vital.
ATIVIDADES:
1. Você concorda que os direitos do consumidor são mais garantidos do que os direitos básicos do cidadão? Por quê?
2. Comente a frase: “Ainda prevalece a ideia de que todos podem usufruir os benefícios da modernidade e da tecnologia.”
3. Como você entende a relação apontada no texto entre a insatisfação humana e o consumo? E na sua vida, como lida com isso?
4. Organize uma campanha publicitária para convencer as pessoas a se preocuparem menos com o ter e mais com o ser.
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Resposta:
é a vida fazer o que nem tudo o que achamos q temos direitos na realidade temos
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