ATO I
DOIS VELHOS ESTÃO NO JARDIM DE UM ASILO, CUJAS BRANCAS PAREDES EXTERNAS APARECEM AO FUNDO OSTENTANDO INÚMERAS JANELAS AZUIS. UMA TREPADEIRA
SECA, COM GALHOS SEM VIDA COBRE O BANCO ONDE OS IDOSOS SE ENCONTRAM. ZÉ CARLOS, O MAIS VELHO, TEM CERCA DE 80 ANOS, CABELOS BRANCOS, USA TÊNIS SEM MEIA E UMA CALÇA DE MOLETON PRETA COM UMA CAMISETA DE MANGA COMPRIDA VERDE POR DENTRO DA CALÇA. O OUTRO É MAIS NOVO (CERCA DE 70 ANOS), CARECA E USA UMA CALÇA PRETA COM UMA CAMISA BRANCA DE MANGAS COMPRIDAS. NUVENS CARREGADAS DOMINAM O CÉU E TORNAM O DIA CINZENTO, COM POUCA LUMINOSIDADE. CHOVE FORTE. OS HOMENS CONVERSAM SOBRE A CHUVA ÁCIDA.
Cena 1
Dois velhos, Zé Carlos e Zé Augusto, estão sentados em um banco, no jardim de um asilo, cada qual com seu guarda-chuva. Som de chuva.
ZÉ CARLOS (preocupado): Três dias que não para de chover...
ZÉ AUGUSTO (saudoso): Lembra, na nossa época quase nunca chovia...
ZÉ CARLOS (endireita-se no banco, ajeitando as costas e gemendo com a dor). (Fala melancolicamente): E quando chovia, a gente podia sair embaixo da chuva que não acontecia nada... Agora, se você sai na rua, morre que nem lesma dentro do saleiro.
ZÉ AUGUSTO (entre medroso e desejoso de afastar o mau pensamento): Deus me livre... ZÉ CARLOS (ajeita o tênis no pé direito): A dona Eulália morreu assim... Estava estendendo roupa, começou a chover...
3
ZÉ AUGUSTO (desejando interromper o comentário, faz um gesto com as mãos para o amigo parar): Descansou, descansou...
ZÉ CARLOS (indiferente ao pedido do amigo). (franze a testa e continua): Derreteu todinha... Só sobraram os cabelos e as unhas...
ZÉ AUGUSTO (irônico): E os dentes?
ZÉ CARLOS (também em tom irônico): Sobraram também, mas não eram originais. ZÉ AUGUSTO (nostálgico). (Leva os olhos para o canto superior esquerdo). (Fica pensativo): Na nossa época, não tinha nada dessas coisas. A gente podia andar na rua sem guarda-chuva, sem óculos de sol...
ZÉ CARLOS (amargo): Você fica falando "nossa época, nossa época..." A gente nunca teve época. Quando a gente era menino a época era dos nossos pais, depois, quando chegou a nossa hora, virou a vez dos velhos, eles faziam bailes, não pagavam ônibus, metrô e ainda recebiam um bom dinheirinho do governo, enquanto a gente dava duro e tinha que andar de pé no ônibus. Agora que a gente ficou velho, acabaram as regalias. O governo enfia a gente nesses asilos pra gente ficar mofando...
ZÉ AUGUSTO (otimista): A mulher do tempo falou que vai parar de chover amanhã. ZÉ CARLOS (pessimista). (Corta a fala do amigo). (Segura o guarda-chuva entre o pescoço e o ombro). (Ajeita a camiseta verde dentro da calça de moleton): Elas sempre erram... Dizem que Ribeirão Preto está sem luz.
ZÉ AUGUSTO (imita o amigo para segurar o guarda-chuva e dobra a manga de sua camisa). (Faz gesto de calor). (Expressão de espanto e surpresa): Por que?!
ZÉ CARLOS (expressão de vitorioso): A chuva derreteu os fios. Black out na cidade... Se continuar chovendo assim...
(Ouve-se um trovão. As luzes do palco se apagam completamente. Toca uma música que evoca um clima misterioso e trágico).
1.Que personagens atuam nessa cena?
2. As peças teatrais existem para serem encenadas por atores, em um teatro, diante de um público. Mas tudo começa com um texto escrito como esse que você acabou de ler. Dessa forma, quem são os possíveis leitores de um texto teatral?
3.As frases entre parênteses fazem parte da conversa entre as personagens? Para que elas servem? Como elas são denominadas?
4.Releia o texto e identifique dois exemplos em que o ponto de interrogação indica que a personagem espera a resposta para a sua pergunta. Identifique também um trecho em que o ponto de interrogação indica um questionamento do personagem, sem esperar uma resposta do seu interlocutor.
5.Com base nas suas respostas anteriores, conclua: qual é a importância da pontuação em um texto teatral?
6.Qual tema é discutido pela peça acima?
7.Há crítica social e política nessa peça de teatro?
8.Qual seria a segunda cena dessa peça? Sua tarefa é escrever a Cena 2 do Ato I dessa peça teatral (pense se os fatos ocorrerão no momento seguinte ou depois de alguns dias, por exemplo. Pense se outras personagens ingressarão na trama. Pense em como se desdobrará o enredo nessa segunda cena. Pense no espaço (cenário) da narrativa. Pense no tempo (de duração e histórico) da construção textual, bem com na mensagem que desejará passar para o leitor. Escreva na forma de um texto dramático, utilizando-se dos diálogos e suprimindo o narrador. Não esqueça das rubricas para indicar elementos cenográficos, sonoplásticos, de iluminação e as características das personagens.
Soluções para a tarefa
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Resposta:
moça e muita coisa vc que responda tudo isso
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