História, perguntado por ts249121, 6 meses atrás

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Respondido por kemillyeacalopsita
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Naia, uma garota com seus 15 ou 16 anos, procurava por água para beber quando caiu em uma caverna, fraturou a pélvis e morreu. 12 mil anos depois, seu esqueleto foi encontrado por um grupo de mergulhadores, em meio a ossos de tigres dente-de-sabre e outros animais que tiveram o mesmo destino que ela. O crânio em bom estado e o restante dos ossos tornam Naia o mais antigo esqueleto quase completo já encontrado no Novo Mundo. Seu DNA a transforma em mais um personagem de um debate que se arrasta há décadas.

Há 12 mil anos, a caverna onde Naia morreu, na península do Iucatã, México, estava seca. Foi inundada quando o nível do mar subiu, com o derretimento das geleiras ao final da mais recente glaciação. O mergulhador Alberto Nava batizou a caverna onde a descobriu de Hoyo Negra, um buraco negro. Ali, Naia bem poderia ter passado os próximos 12 mil anos no esquecimento. Sua descoberta, no entanto, agitou o debate científico a respeito da origem dos primeiros americanos.

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A teoria mais aceita até hoje sustenta que os primeiros humanos chegaram à América há cerca de 17 mil anos, através do estreito de Bering. Seriam, portanto, descendentes de caçadores-coletores que, saindo da Ásia, cruzaram aquela região congelada para se estabelecer na América do Norte e, dali, se espraiar pelo restante do continente. Essa narrativa, que orientou a arqueologia nos Estados Unidose no mundo por boa parte do século XX, é conhecida como modelo Clóvis. Descobertas recentes contestam-na. Análises dos crânios mais antigos encontrados no continente sugerem que os paleo-americanos, os primeiros habitantes dessas terras, tinham traços muito diferentes daqueles apresentados pelos humanos que, há época, viviam na Ásia e teriam migrado para cá. Os americanos antigos eram também diferentes dos nativo-americanos contemporâneos. Eles eram mais semelhantes a populações originárias da África ou do Oceania, sugerindo uma origem diferente. É o caso de Luzia, a mulher que ficou conhecida como a brasileira mais antiga já encontrada. Ao examinar o esqueleto de 11 mil anos de Luzia, o atropólogo evolucionário Walter Neves , da Universidade de São Paulo, percebeu que seus traços lembravam os de aborígenes australianos.

Outras evidências põem em dúvida o modelo Clóvis. Ao longo do continente, foram encontrados vestígios humanos mais antigos que os 17 mil anos que marcariam a travessia do homem para a América por Bering. No Parque Nacional da Serra da Capivara, Piauí, há restos de fogueiras que remontam a 50 mil anos. As pinturas rupestres encontradas na região, e estudadas pela arqueóloga francesa Niède Guidon, foram feitas entre 10 e 12 mil anos atrás.

Luzia, a brasileira mais antiga. Ela não se parece com os índios brasileiros (Foto: Reprodução)

Luzia, a brasileira mais

antiga. Ela não se parece

com os índios brasileiros

(Foto: Reprodução)

Por anos, mesmo sob questionamento, o modelo Clóvis continuou a ser defendido, sobretudo por arqueólogos dos Estados Unidos. A descoberta de Naia lhe deu força. A garota, tal qual Luzia, não lembra muito uma nativa-americana moderna. Quem a visse diria que suas origens estão na África ou na Austrália, e não na Ásia. Seu material genético, segundo uma pesquisa liderada por Jim Chatters, da Applied Paleoscience, uma consultoria baseada em Washington, diz que, apesar das diferenças, Naia é ancestral direta dos nativos modernos. A pesquisa, publicada na revista Science, examinou o DNA extraído de um dos molares da garota. Mais especificamente, o DNA mitocondrial, aquele transmitido exclusivamente por linhagem materna. O material genético mostrou que Naia pertence a uma linhagem formada apenas por nativos-americanos.

As diferenças físicas entre Naia e seus descendentes contemporâneos são, segundo Chatters, mero resultado dos 12 mil anos que os separam. Segundo ele, as mudanças na aparência seriam decorrentes do sedentarismo que essas populações experimentaram depois de estabelecidas no Novo Mundo.

As conclusões da equipe de Chatters, favoráveis ao modelo Clóvis, não bastaram para dissuadir os arqueólogos que dele discordam. Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, o antropólogo Tom Dillehay, da Universidade Vanderbilt, disse que, muito embora a descoberta seja ótima, ela foi superestimada: “Essa é simplesmente uma história de vida, de um só indivíduo, representando um cenário interpretativo em meio a vários possíveis”, disse. Dillehay lidera um trabalho de pesquisa no sítio arqueológico de Monte Verde, Chile. Lá, encontrou sinais de ocupação humana que remontam há 15 mil anos. Ocupações antigas demais para terem abrigado humanos que chegaram ao Chile migrando a partir da América do Norte.”Isso[ a descoberta de Naia] não significa que todos os esqueletos antigos encontrados na América têm a mesma a história”, afirmou.

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