Assim como os documentos são a matéria-prima do historiador eles devem ser a essência de nossas aulas, nesse sentido devemos ficar atentos às inúmeras interpretações e aplicações de um mesmo documento. Um documento como a descrição célebre de Amiano Marcelino sobre os Hunos pode ser utilizada para demonstrar como a palavra bárbaro na antiguidade era utilizada com o sentido de estrangeiro, no entanto, com o passar dos séculos o termo foi estigmatizada se remetendo à ideia de homem incivilizado, violento, grotesco etc., mas também pode ser subsídio para outras reflexões. Nesse sentido, leia o documento e analise as afirmações abaixo: “A sua ferocidade ultrapassa tudo: sulcam de profundas cicatrizes, com um ferro, as faces dos recém-nascidos para lhes destruir as raízes dos pelos; e desse modo crescem e envelhecem imberbes e sem graça, como eunucos. Têm o corpo atarracado, os membros robustos e a nuca grossa; a largura das costas fá-los assustadores. Dir-se-ia que são animais de duas patas ou então daquelas figuras mal desbastadas, em forma de troncos de árvores, que ornamentam os parapeitos das pontes [...] Os Hunos não cozinham nem temperam aquilo que comem; alimentam-se de raízes selvagens ou de carne crua do primeiro animal que apanham e que aquecem por algum tempo na garupa do cavalo, entre as coxas. Não têm abrigos. Não usam casas nem túmulos [...] Cobrem-se com um tecido grosseiro ou com peles de ratos do campo, cosidas umas às outras; não têm uma roupa para estar em casa e outra para sair; desde que enfiam aquelas túnicas de cor desbotada, só as tiram quando elas estão a cair aos bocados [...] Não põem pé em terra nem para comer nem para dormir e dormem deitados sobre o magro pescoço da montada, onde sonham à sua vontade [...]”. Amiano Marcelino. Apud LE GOFF, J. A civilização do Ocidente Medieval. Lisboa: Estampa, 1995, p.34. I- O trecho possibilita uma reflexão acerca do cuidado com o discurso: quem está escrevendo sobre o quê e com qual intenção? II- Alguns trechos são exemplos que expressam claramente o atraso cultural dos povos que invadiram a Europa no período medieval. III - Seria uma boa exemplificação sobre como determinados conceitos sofrem alteração no decorrer do tempo, bem como podem apresentar diferentes significados para diferentes povos. IV - O documento pode ser utilizado para demonstrar que o olhar do estrangeiro pode ser superficial e que não deve ser considerado como verdade absoluta acerca da cultura do “outro”. Outros documentos similares poderiam ser utilizados como os relatos acerca dos índios americanos. É correto o que se afirma em: Alternativas Alternativa 1: II e III, apenas. Alternativa 2: III e IV, apenas. Alternativa 3: I, II e III, apenas. Alternativa 4: I, III e IV, apenas. Alternativa 5: II, III e IV, apenas.
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I é verdadeira, já que a descrição dos hunos, que temos aqui, nos faz perguntar quem os via deste modo, e por que escolheu descrever assim a sua cultura.
II é falsa. Mesmo se consideramos que os povos descritos são "culturalmente atrasados", foi durante a Idade Antiga, e não a Idade Média, que ocorreu a invasão dos hunos.
III é verdadeira, já que apresenta um conceito de "huno" diferente daquele que temos hoje.
IV é verdadeira, sendo o documento recheado de preconceitos e análises enviesadas do observado.
É correta a alternativa 4.
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